Buscar
Acervo RR
O balão de ensaio de que o governo poderá transferir créditos podres dos bancos públicos – principalmente da dobradinha BB/Caixa Econômica Federal – para a Empresa Gestora de Ativos (Emgea) acendeu a luz vermelha na banca privada. A iniciativa, ainda sob forma de intenção da Fazenda, representa uma espécie de centauro financeiro, ou seja, um monstrengo metade banco estatal, metade Tesouro Nacional. Na prática, a Emgea vai ser um sócio com usufruto apenas dos dividendos negativos. O que também chama a atenção é o fato de que Guido Mantega acabará se tornando um árbitro da lucratividade do BB, da Caixa, do BNDES, do Banco do Nordeste, só para falar dos mais votados. Na medida em que a Empresa Gestora absorver os créditos putrefatos dessas instituições – por deliberação do Ministério da Fazenda -, o resultado negativo em balanço poderá sumir da noite para o dia. Os burocratas da Pasta argumentam, sob brumas, que a medida permitiria a capitalização desses bancos que têm concedido empréstimos mais baratos e sua consequente adequação a s regras da Basileia III. De uma certa forma, a operação não deixaria de ser uma injeção de capital pela porta dos fundos. Pela lógica dos seus autores, a operação possibilitaria estender por um tempo prolongado a política de crescimento econômico baseada no aumento da renda familiar em decorrência da ampliação do crédito a juros mais baixos. Como proposta, parece justificável. Em termos econômicos, é quase obsceno. Leva o abuso de poder econômico ao paroxismo. E transforma um ministro morno e modorrento em czar do Tesouro Nacional e senhor dos destinos da rentabilidade da banca pública. Seria a hora de se fazer um plebiscito para a criação de um Cade exclusivo do sistema financeiro, blindado contra as diatribes do governo. Só com a força da Constituição é possível banir do mapa uma aberração como essa.
Todos os direitos reservados 1966-2024.