Acervo RR

Bunge e Itochu vivem sua lua de fel no etanol

  • 30/04/2010
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Recém-entronado no comando da Bunge Brasil, Pedro Parente voltou a conviver com o risco de um apagão ? de porte muito menor, é bem verdade, e, desta vez, não na área de energia elétrica, mas no setor sucroalcooleiro. A associação entre a multinacional e a Itochu na produção de etanol é uma lâmpada cada vez mais fraca, prestes a queimar. A solitária missão de Parente ? desta vez sem o auxílio de uma Câmara de Gestão de Crise ? é contornar a crescente insatisfação do grupo nipônico com os rumos da parceria e, sobretudo, com a forma como vem sendo tratado. Dona de 20% de duas usinas controladas pela Bunge ? Paulo Afonso (TO) e Santa Juliana (MG) ? a Itochu estaria se sentindo como uma esposa traída, cujas cláusulas do contrato nupcial foram rasgadas. A trading nipônica tornou-se praticamente refém dos interesses da Bunge. Os japoneses se ressentem de um espaço maior na gestão das usinas, tanto no caso da Santa Juliana, já em operação, quanto em Paulo Afonso, com inauguração prevista para junho. Procurada pelo RR – Negócios & Finanças, a Bunge negou qualquer divergência com a Itochu e informou que as duas empresas estudam novos projetos conjuntos. A multinacional tem mesmo todo o interesse do mundo em manter os japoneses por perto. Segundo o RR apurou, a Itochu tem planos ambiciosos para o Brasil. Pretende se tornar um dos cinco maiores produtores de álcool e açúcar do país em até três anos. Para isso, os japoneses estão debruçados sobre um vultoso programa de investimentos. De acordo com informações filtradas junto ao próprio grupo, os aportes poderão chegar a US$ 1,5 bilhão até 2013. O plano estratégico da Itochu prevê a aquisição de extensas áreas para o cultivo de cana-de-açúcar, notadamente no Centro-Oeste, a compra e a construção de usinas e a montagem de uma estrutura logística. A trading estaria interessada ainda em criar uma empresa própria para o setor, cujo principal objetivo seria exportar a produção para o Japão. Por trás do investimento está a aposta que, no futuro, guardadas as devidas proporções, o álcool será para o Japão o que o minério de ferro é hoje para a China. Há uma crescente expectativa de que o governo local amplie o limite para a mistura de etanol a  gasolina, hoje de 3%. Entidades empresariais do país, entre elas a Jama, uma espécie de Anfavea nipônica, defendem que o percentual seja estendido para 10%. Em outras circunstâncias, a perspectiva era que os futuros investimentos da Itochu fossem incorporados a  parceria com a Bunge, que, do seu lado, já anunciou um aporte de US$ 750 milhões nos próximos três anos para aumentar sua produção de álcool e açúcar no país. Hoje, no entanto, os japoneses estariam dispostos a atrair outros investidores para a empreitada. O grupo já vem mapeando algumas possibilidades de associação no país. Um dos alvos seria a Infinity BioEnergy, comprada recentemente pelo Grupo Bertin. A operação juntaria a fome de comprar com a vontade de vender. A família Bertin já percebeu que precisará ter ao lado um sócio de braço forte para carregar o plano de investimentos da empresa. Até porque, mesmo com a escolta estatal e, claro, salvo alguma grande reviravolta no consórcio vencedor do leilão de Belo Monte, nos próximos anos boa parte da capacidade financeira do grupo estará comprometida com a construção da usina.

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