O que precisa ser dito

A primeira salva de tiros

  • 21/02/2025
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Jorio Dauster, colaborador especial

Não por coincidência, algumas horas depois que Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria Geral da República por organização criminosa com o objetivo de levar o país a uma ruptura democrática, o grupo Trump Media & Technology Group (TMTG), do qual o presidente norte-americano é sócio majoritário, entrou com um processo contra Alexandre Moraes num tribunal federal da cidade de Tampa. A empresa juntou-se ao Rumble, uma plataforma de vídeo baseada na Flórida, a fim de impedir as tentativas do juiz da Suprema Corte brasileira de alegadamente forçar tal plataforma a censurar contas pertencentes a um usuário brasileiro baseado nos Estados Unidos. Deixo aos juristas a incumbência de analisar tal processo que, segundo um excelente advogado de Washington, meu amigo, seria inválida à luz da doutrina estabelecida e, de todo modo, não exerceria efeitos no Brasil.

O que nos interessa é entender por que o próprio New York Times teria definido a ação como “incomum” e “extraordinária”. E o motivo é óbvio: trata-se do primeiro gesto concreto de Donald Trump, usando um instrumento que lhe pertence pessoalmente, contra a figura brasileira que simboliza toda a reação nacional contra as comprovadas tentativas do ex-chefe de Estado de subverter o resultado das urnas nas eleições de 2022. Nesse sentido, sem dúvida significa que frutificaram os apelos de Bolsonaro e seus seguidores, em particular do filho Eduardo, no sentido de mobilizar o atual ocupante da Casa Branca em seu favor, esforço que anteriormente estava concentrado sobretudo nas mãos de Elon Musk e Steve Bannon.

De certo só temos que se trata da primeira salva de tiros, mas certamente outras virão no curso do julgamento que em breve terá início no Supremo Tribunal Federal. E o importante é que o governo se prepare para lidar com esses gestos de caráter pessoal ao mesmo tempo em que deverá ser chamado a responder a incursões a nível de Estado, como, por exemplo, a imposição de tarifas a produtos exportados pelo Brasil. No entanto, em ambos os casos é altamente recomendável que o presidente Lula deixe de comentar as ações de Trump em falas informais, só reagindo, com o necessário e sopesado vigor, diante de decisões concretas que nos afetem materialmente. Para tal, poderia mirar-se no exemplo de Claudia Sheinbaum, que reage com dignidade, mas também com sobriedade a ameaças reais à soberania do México, em especial depois que Trump, em 20 de janeiro, designou os cartéis de traficantes de drogas como organizações terroristas. Ao longo do delicado processo que se anuncia, Lula deve contar com a experiência do Itamaraty, que sem dúvida está amplamente qualificado a servir de porta-voz quando necessário e contribuir na redação dos textos que guiariam as manifestações presidenciais.

#Donad Trump #Jair Bolsonaro #PGR

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