O coelho de Alice e o desaniversário da gestão Temer

  • 10/05/2016
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 “O meu governo tinha de começar ontem”. A frase é atribuída ao cada vez mais presumível presidente da República Michel Temer. O vice está provando um pouco da tormenta que vai defenestrar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto. A cada dia, os amigos e inimigos, dentro e fora de casa, lhe servem um tiragosto do presidencialismo de coalizão. Algumas das provações são absolutamente surreais, a exemplo da decisão do novo presidente da Câmara, Waldir Maranhão, de anular a votação do impeachment. Não apenas na política, mas também na economia, notadamente no fiscal, os pepinos já são diretamente debitados na fatura de Temer. Contas a pagar, capitalizações, déficits e esqueletos vão descolando da atual presidente. As bobagens por ela perpetradas já estão amortizadas no histórico do seu linchamento. Temer, que pariu o impeachment, que o embale.  O incômodo do vice é que a máquina de engendrar desajustes na área fiscal é infernal. Para cada duas medidas de estabilização dos gastos, a mídia apresenta quatro novos rombos nas contas públicas. E já não é mais possível distinguir o que é um exercício de econometria do simples chute; o que exige ação emergencial do que deve ser rolado. Os técnicos de variadas matizes replicam o Chapeleiro Maluco: há déficits para todos os gostos, do chão da economia até a mais longínqua das estrelas.  Os números indigestos dos especialistas parecem dizer nas entrelinhas que o verdadeiro ajuste, real e definitivo, não se coaduna com o regime democrático, pois é totalitário e sanguinolento. Pelo andar da carruagem, a julgar o que dizem as disparatadas carpideiras das contas públicas, o passivo potencial do governo chegará a R$ 1 trilhão antes da posse de Temer contra os R$ 100 bilhões que se cogitava para o governo Dilma até o fim deste ano. Jornais do final de semana já embrulhavam um número de R$ 650 bilhões. As rubricas são diferentes, soma-se alho com batatas, as contas não são anunciadas oficialmente e o agregado do presente inclui agora também valores projetados. Com essa piora mágica, Temer vai vendo a cada momento suas medidas de impacto se tornarem insuficientes. O problema corre na frente da solução. Aliás, parte do problema é um “desejo de realização”. À medida que Dilma vai estacionando na governança de alhures, cabe ao novo ungido refundar as expectativas racionais. Vai ser difícil sua tarefa, diante de estados quebrados, das diabruras de um ano eleitoral, com alianças traiçoeiras como a do PSDB, da fúria do PT e tendo que experimentar, agora como vaca leiteira, a natureza da criatura, o seu PMDB.

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