Economia
UBS aponta uma concentração ainda maior das riquezas globais
O relatório “Global Wealth Report 2024 – Dados elaborados da riqueza”, produzido e recentemente disponibilizado pelo UBS, é um mapa detalhado da geografia dos endinheirados do mundo. As informações do documento vêm sendo colhidas e detalhadas nos últimos 30 anos. O banco considera ricas as pessoas incluídas na faixa entre US$ 10 mil e US$ 100 mil, ou seja, um grupo modestíssimo se comparado com os 2.781 bilionários existentes no Planeta, em 2023, segundo a lista da Forbes. Como não poderia deixar de ser, o UBS não está preocupado com os sem-grana, e nem é esse o propósito do documento. O relatório, portanto, é uma espécie de “O Capital no Século XXI”, livro do economista Thomas Piketty, ao contrário. A obra de Piketty busca levantar a pobreza no mundo, esquartejar a concentração de renda no Planeta e colocá-la como um dos maiores desafios globais. O UBS segue em outra direção e aponta que a “riqueza está aumentando constantemente em todo o mundo, embora em diferentes velocidades, com pouquíssimas exceções.” Alguns dados levantados pelo banco merecem destaque. Vamos a eles:
- Uma grande transferência horizontal de riqueza está em andamento Entre muitos casais, um dos parceiros é mais jovem do que o outro e, de modo geral, as mulheres vivem apenas quatro anos a mais do que os homens, em média, independentemente da expectativa de vida média de uma determinada região. Isso significa que a herança intrageracional geralmente ocorre antes da transferência intergeracional do patrimônio.
- Pode-se esperar que o cônjuge herdeiro mantenha esse patrimônio em média por cinco anos, antes de passá-lo para a próxima geração. A análise também mostra que, nos próximos 20 a 25 anos, US$ 83,5 trilhões de patrimônio serão transferidos. A estimativa é que US$ 9 trilhões desse total serão transferidos horizontalmente entre cônjuges, a maioria nas Américas. É provável que mais de 10% do total de US$ 83,5 trilhões sejam transferidos por mulheres para a próxima geração. O número de milionários está previsto para continuar crescendo. Em 2023, os milionários já representavam 1,5% da população adulta.
- Em 2023, o crescimento real da riqueza global superou o crescimento nominal. Ajustado pela inflação, ele atingiu 8,4%. O crescimento da América Latina é forte, mas a desigualdade está sempre presente O patrimônio médio por adulto no Brasil cresceu mais de 375% desde a crise financeira de 2008, quando medido na moeda local. Isso representa mais do que o dobro do crescimento do México, de pouco mais de 150%, e mais do que os 366% da China continental. No entanto, o Brasil tem a terceira maior taxa de desigualdade de distribuição da riqueza em nossa amostra de 56 países, ficando apenas atrás da Rússia e da África do Sul.
- O crescimento anual da riqueza caiu em mais de dois terços no Brasil, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália. Na primeira década deste milênio, nenhum mercado da nossa amostra apresentou crescimento negativo.
- Entre 2008 e 2023, a grande maioria dos mercados viu seu patrimônio médio por adulto aumentar. A evolução mais acentuada ocorreu na Turquia, onde o patrimônio médio por adulto nesse período disparou, atingindo 1.708% na moeda local. Os valores do Brasil e da China continental atingem um nível ainda notável acima de 360%, mais do que o triplo dos Estados Unidos. Um total de sete mercados excedeu durante esse período a marca de 300% de crescimento nas respectivas moedas locais.
- Em termos de patrimônio por adulto, a população mundial registrou um progresso substancial desde o início do milênio. A porcentagem de adultos na faixa de riqueza mais baixa, de menos de US$ 10.000, continuou diminuindo durante as recessões e as crises financeiras, quase caindo pela metade desde o ano 2000, até o ponto em que, mundialmente, já não é a categoria mais comum. Ela foi ultrapassada pela segunda faixa consideravelmente mais ampla, que cresceu 2,5 vezes, passando de pouco menos de 17% da população mundial para quase 43%. As duas faixas mais altas de riqueza também tiveram uma expansão significativa. A terceira mais do que dobrou, enquanto a última faixa de pessoas, cuja riqueza ultrapassa US$ 1 milhão, triplicou para 1,5% da população mundial.
- A riqueza pertencente ao grupo mais afortunado equivale a quase metade da riqueza global, ou seja, pouco menos de US$ 214 trilhões. Em contrapartida, os US$ 2,4 trilhões de propriedade coletiva da faixa mais baixa correspondem a apenas meio por cento da riqueza global. A propósito, essa rara faixa superior costumava representar 1,7% da população em 2021 e ainda não se recuperou desse nível.
- O topo da pirâmide de riqueza mundial tem apenas 14 pessoas que, coletivamente, possuem cerca de US$ 2 bilhões. Porém, esse nem é o menor segmento. Esse título vai para a segunda faixa mais alta, composta por 12 pessoas que possuem entre US$ 50 e 100 bilhões. Contudo, o segmento significativamente mais populoso é aquele que contém pouco mais de 2.600 pessoas, possuidor de um patrimônio entre US$ 1 bilhão e US$ 50 bilhões.
- Em todas as faixas de riqueza e em qualquer horizonte temporal, é sempre mais provável que uma pessoa suba a escada da riqueza em vez de descer. Após a queda em 2022, somos incentivados a ver que as pessoas em todo o mundo estão ficando progressivamente mais ricas — e isso se aplica a todos os níveis de riqueza.
- Espera-se que cerca de US$ 83 trilhões sejam transferidos nos próximos 20 a 25 anos. No entanto, considerando que as pessoas com mais de 75 anos detêm quase um quinto da riqueza global do mundo e que a expectativa de vida média para pessoas com 75 anos varia entre 82 e 86 anos na maior parte do mundo, é de se esperar que uma grande parte desses ativos seja transferida já nos próximos dez anos.
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