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A recuperação extrajudicial anunciada pela Casas Bahia no último fim de semana, com a repactuação de R$ 4,1 bilhões em dívidas, é a ponta do iceberg de uma reestruturação ainda maior, que, no limite, pode culminar no desmonte de uma das maiores operações de M&A já feitas no varejo brasileiro. Segundo o RR apurou, o grupo avalia a venda do Ponto (ex-Ponto Frio), o que significaria o fim do enlace societário iniciado em 2009, quando o Pão de Açúcar, ainda sob o comando de Abílio Diniz, comprou as duas redes.
De acordo com a mesma fonte, as discussões se dão em um contexto mais amplo, em que diferentes cenários têm sido discutidos internamente com o objetivo de reforçar o caixa para honrar compromissos financeiros – hoje, o maior calcanhar de aquiles da Casas Bahia. A questão é que as demais hipóteses de desmobilização de ativos colocadas sobre a mesa – como, por exemplo, a negociação de parte do capital da BanQi, braço financeiro do grupo – teriam impacto mais restrito. Mesmo que com alguns arranhões e descascados, o Ponto ainda é a joia de maior valor, fora a própria Casas Bahia.
A venda da bandeira varejista seria um movimento realmente capaz de fazer diferença e destravar valor. Há ainda outros fatores que justificariam o negócio. Não é de hoje que a operação vem perdendo sentido para a holding. As sinergias entre o Ponto e a Casas Bahia já não são as mesas de outros tempos.
Principalmente após a volta ao passado feita pela rede varejista fundada por Samuel Klein. A Casas Bahia passou a dar prioridade ao velho comércio de rua, à venda de eletrodomésticos e móveis e muito crediário. A redução da importância do Ponto para o grupo pode ser medida pelo próprio tamanho da rede. Em dezembro do ano passado, eram apenas 135 lojas (84 de rua e 51 em shoppings), contra 943 da Casas Bahia (a maior parte delas a “céu aberto”, 765).
O RR fez seguidas tentativas de contato com a companhia, por meio de sua assessoria de imprensa, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
A Casas Bahia vive um momento sensível, de definições fulcrais para o seu futuro. O processo de recuperação extrajudicial surge como um avanço importante, obtido a duras a penas. Por trás do acordo com os credores esconde-se uma intrincada costura interna feita por Franklin.
Segundo o RR apurou, os acionistas da Casas Bahia chegaram a considerar um pedido de recuperação judicial. O nível de tensão intramuros teria atingido seu pico no início de março, quando a empresa sofreu para alongar passivos da ordem de R$ 1,5 bilhão que venceriam neste ano e em 2025, momento em que o mercado especulou fortemente sobre o risco de insolvência da companhia. Franklin trabalhou para evitar a RJ.
Em conversas com duas fontes do RR, teria dito: “Eu não vim para fazer recuperação judicial. Se for assim, pego meu boné e vou embora”. Nesse contexto, o pedido de recuperação extrajudicial é visto pelo corpo diretivo da Casas Bahia como uma vitória pessoal de Franklin.
Segundo informações apuradas pelo RR, além do acordo com Banco do Brasil e Bradesco, que concentram 54,5% da dívida da empresa, o executivo tem conduzido diretamente conversações com outros bancos para fechar um amplo apoio à proposta. A rigor, nem seria necessário. O instrumento da recuperação extrajudicial prevê aprovação automática da proposta quando os detentores de mais de 50% do passivo dão sinal verde. Mas a ampliação desse percentual tem um peso simbólico e – por que não? – psicológico, que a Casas Bahia poderá usar a seu favor na repactuação de outras dívidas, com fornecedores, por exemplo.
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