Insucesso das concessões é o estopim do “Volta, Lula”

  • 14/08/2013
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Lula dá uma bicada na xícara de cafezinho e observa a entrada de Antônio Palocci. Sentado ao seu lado, o fiel escudeiro Paulo Okamotto. O local do encontro é a Rua Ipiranga 21, sede do Instituto Lula. Os compadres estão aguardando o companheiro Aloizio Mercadante para o início de mais uma reunião semanal de conjuntura, seguida de almoço em restaurante discreto. – O Mercadante vai trazer as informações fresquinhas sobre o rolo das concessões. O Guido não vai poder vir – diz Lula. O ex-presidente acompanha cada grão de areia do processo de embaraço e desembaraço das licitações. Tem cristalina noção de que o resultado pode ser o sal do seu destino político. Se as concessões não andarem bem nos trilhos, a mídia vai fazer o maior rebuliço, propalando o fracasso. – Aí, sobra para mim. Começa a gritaria do “Volta, Lula!” – diz o ex-presidente, entre incomodado e satisfeito. Paulo Okamotto alerta: – A arquitetura das concessões tem de ser feita bem direitinho, sem brecha para algum lapso que possa ser capturado como malfeitoria. A “canalha” vai plantar tudo o que puder e mais alguma coisa. – Olha o trem-bala! Esse já atrasou de vez. O diacho é que acaba interferindo nas outras concessões – rosna Lula. Palocci intervém, enrolando as palavras com seu sigmatismo – ou língua presa: – Eu converso com os empresários e o mal-estar é muito grande. O principal problema é de interlocução. Para discutir assuntos fundamentais, como taxa de retorno, financiamentos do BNDES e regras de participação, são necessárias reuniões com até seis ministérios. Estão na parada a Gleisi, o Mantega, o Augustin, que virou meio ministro, a Mirian Belchior, o Pimentel, o Paulo Bernardo, esse Bernardo Figueiredo e até o Jorge… – Que Jorge? – interrompe Lula. – O Gerdau – responde Palocci. – Ah, sim. Mas ele já teve mais prestígio. Caiu lá para baixo com a Dilma. O problema é que politizaram os reajustes tarifários. Amansaram as manifestações, mas repassaram a conta para as concessões. É por aí que eles vêm para cima de mim. Aliás, já está uma romaria de empresários Enfim… E o que mais está pegando, hein? – inquire Lula. – O leilão do Campo de Libra parece que está meio equacionado. O rolo são os outros blocos – lembra Okamotto. Palocci rebate: – Os problemas maiores são nas áreas ferroviária e aeroportuária. Ninguém se entende. Vocês viram? O Augustin desmentiu o Figueiredo e foi desmentido pelo Mantega. Só falta a “alemã” desmentir todos. – As concessões são meu calcanhar de Aquiles – matuta Lula. Eis que Okamotto pergunta: – E o Mercadante, pô? Lula e Palocci: – Ele não vem mais. – Então, vamos almoçar e tomar uma cachacinha, que minha batata tá assando – convida a cada vez mais demandada lenda viva da política brasileira. Obs: A conversa acima foi psicografada por uma fonte que enxerga do Além. Ato falho; ela enxerga além.

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