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Cemex testa a resistência do Grupo João Santos

  • 15/07/2010
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Pouco mais de um ano após o falecimento do industrial pernambucano João Santos, seus sucessores se veem diante do dilema que costuma atormentar dez entre dez herdeiros de grandes grupos empresariais: multiplicar o negócio ou sucumbir a s tentadoras ofertas de venda? A dúvida se aplica fundamentalmente ao futuro da Cimento Nassau, um dos principais ativos do Grupo João Santos. A família está dividida diante do crescente assédio da concorrência. A Nassau, vice-líder do mercado brasileiro, tornou-se a darling do setor. Além da suíça Holcim, ver RR ? Negócios & Finanças nº 3.898, a mexicana Cemex também entrou no páreo para a compra da cimenteira. A operação marcaria a entrada do grupo no país. Além da hipótese de a família permanecer no negócio, os mexicanos acenam com a possibilidade de internacionalização da Nassau. A Cemex usaria a marca para avançar no mercado sul-americano, levando a reboque os atuais controladores da companhia. Procurado pelo RR, o Grupo João Santos não quis se pronunciar sobre o assunto A investida sobre o Grupo João Santos significa uma inflexão na estratégia traçada pela Cemex para ingressar no Brasil. A construção de fábricas próprias não está de todo descartada, mas fica para um segundo momento, em razão do custo e, sobretudo, do demorado tempo de maturação do investimento. Os mexicanos precisam ser mais agressivos, até porque sua entrada no país faz parte de um movimento estratégico do ponto de vista geoeconômico. Com o mercado da América Central consolidado e, mais do que isso, saturado, o grupo considera o ingresso no Brasil fundamental. Além disso, os mexicanos ainda precisam compensar o tempo perdido, uma vez que seus grandes concorrentes internacionais já operam no país. A prioridade da Cemex passou a ser a compra de uma operação pronta que lhe permita desembarcar no país não apenas com uma estrutura industrial já montada, mas também com uma rede de distribuição em todo o território. A divisão de cimento do Grupo João Santos atende a todas estas exigências. Com 12% do market share nacional, atrás apenas do Grupo Votorantim, tem 11 fábricas, a maior parte no Nordeste, com capacidade instalada de seis milhões de toneladas. Os acionistas do Grupo João Santos já passaram por alguns sustos que teimam em não sair de sua memória. Na década de 90, o conglomerado pernambucano enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua história. Entre outras consequências, teve de entregar a bancos credores uma fábrica em São Paulo, decisão que doeu muito ao patriarca João Santos, obrigado a deixar o território dominado por seus maiores concorrentes, os Ermírio de Moraes. As dificuldades ficaram no passado, mas serviram para aumentar ainda mais o apego da família a s empresas, em especial ao negócio de cimento, no qual o grupo milita há seis décadas. No entanto, o cenário da indústria cimenteira no Brasil mudou radicalmente, com a presença mais forte de grupos como Lafarge e Cimpor. A possibilidade de se juntar a uma grande empresa internacional capaz de reduzir a distância para a Votorantim no ranking nacional e ainda investir no exterior balança os herdeiros de João Santos. A investida da Cemex é um teste de fogo para a resistência da família.

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