Acervo RR

A construção do Brasil pode trocar de dono

  • 6/10/2011
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A iminente invasão de empreiteiras internacionais no país, sobretudo chinesas, começa a despertar preocupação em um setor que costuma pensar o Brasil em silêncio: a área militar. O ministro da Defesa, Celso Amorim, informou a uma fonte do RR que o assunto tem sido discutido entre integrantes do Alto-Comando das Forças Armadas. Há sinais de apreensão diante da perspectiva de que grandes obras públicas caiam nas mãos de construtoras estrangeiras. O fator prioritário para esta mobilização é um ponto ao qual, por definição, os militares são extremamente sensíveis: a soberania nacional. Há um receio cada vez maior de que construtoras forasteiras finquem bandeira em importantes projetos de infraestrutura, notadamente em áreas nevrálgicas, como a construção de grandes hidrelétricas, usinas nucleares e aeroportos. Outras questões igualmente importantes alimentam a inquietude em relação ao virtual desembarque de empreiteiras internacionais no país. Estas empresas causariam um inevitável deslocamento de mercado, ameaçando o poder de competitividade das construtoras nacionais. O assunto é sensível. Pois as empreiteiras brasileiras exportam crescentemente seus serviços. Seria uma contradição adotar uma postura explicitamente protecionista, até porque existe um efeito de reciprocidade. As construtoras nacionais se tornaram expressivas geradoras de divisas. A questão pode ser analisada de uma forma até mais ampla. O setor de serviços, que, historicamente, permaneceu intocável, quase que um club privé do capital nacional, começa a ser alvo de grupos estrangeiros. a€ exceção da área financeira, na qual fracassaram diversos dos ban cos estrangeiros que tentaram a sorte no Brasil, é crescente a participação de empresas internacionais nos mais variados ramos do setor terciário. No caso específico das empreiteiras, elas começam a ser atraídas por grandes projetos que estão na ponta da agulha, como o trem-bala e a modernização e construção de aeroportos. Prometem trazer no colete robustos financiamentos de bancos oficiais e garantias de seguro de performance, um pote de ouro em um país como o Brasil, onde a burocracia e outros tantos óbices costumam incinerar o cronograma de grandes projetos de infraestrutura. A mobilização contra as empreiteiras além-mar pode soar como um pensamento retrô, anacrônico, um saudosismo dos tempos de reserva de mercado. No entanto, não faltam argumentos absolutamente racionais e oportunos. A questão da importação de mão-deobra sem qualificação é um desses fatores. As empresas chinesas, por exemplo, costumam condicionar seus ingressos nas obras a  contratação de seus operários. Recentemente, assistiu-se a  invasão de trabalhadores chineses em pelo menos um grande projeto industrial construída por empreiteira mandarim. O emprego é, sem dúvida, a principal preocupação quanto ao risco de que o Brasil se torne uma espécie de mercado de Kasbah para a importação de serviços na delicada área de infraestrutura. Mas a exportação do centro de decisões das empresas de construção também é uma variável incômoda. Essa, que pode parecer uma paranoia rococó, ganha ares de maior relevância em setores considerados estratégicos. Sim, senhores, esta palavra ainda existe no dicionário.

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