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Santander aponta os canhões para o Safra

  • 13/01/2010
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O atual objeto de cobiça do Santander no Brasil é o Banco Safra. Um executivo do banco espanhol foi destacado da matriz para comandar as gestões. Em dezembro, ele teria mantido contatos com o próprio Joseph Safra. O Santander trabalha com três hipóteses para a operação, todas elas com as dificuldades inerentes a qualquer negociação com Joseph: aquisição integral do controle, associação, que abriria espaço para a permanência do banqueiro no capital, ou acordo de operações conjuntas. Qualquer que seja o modelo adotado, trata-se de uma negociação extremamente intrincada. Aqueles que dividiram o teto com Joseph Safra não costumam sentir saudades da experiência. Que o digam, para dar exemplos mais recentes, Erling Lorentzen, ex-controlador da Aracruz, os Ermírio de Moraes e o próprio irmão de Joseph, Moise Safra. “Seu José”, conforme Joseph é chamado pelos funcionários, exercita um estilo tirânico de ser. É tido como uma personalidade intragável, concentradora e impiedosa. Por sua vez, a aquisição pura e simples do controle do Safra também esbarra em um problema. A compra do banco só vale realmente a pena se o investidor puder “comprar” junto o próprio Joseph Safra. Ou seja: se conseguir arrancar dele um acordo muitíssimo bem costurado, uma espécie de algema de ouro, que o impeça de remontar suas operações bancárias no país. Na história do clã, é lendária a fidelidade da clientela dos Safra. Quem comprar o banco, portanto, pode estar levando uma carcaça sem chassi. Não custa lembrar que o banqueiro mantém uma instituição congelada in vitro, o J. Safra, que poderia ser usado para abrigar uma eventual diáspora de clientes do Safra. Uma das alternativas mais prováveis é que um acordo de aquisição levasse em conta cláusulas de condicionalidade que permitissem aos Safra somente manterem operações bancárias no exterior. Procurados pelo RR – Negócios & Finanças, Santander e Safra não se pronunciaram até o fechamento desta edição. O Safra é uma das últimas grandes noivas do sistema bancário nacional, talvez só encontrando paralelo no Citibank, que hoje virou uma espécie de dilúvio financeiro controlado pelo governo norte-americano. Sólida e com uma tradição de ser um banco puro-sangue, a instituição de Joseph Safra sempre foi invejada por seus congêneres pelo reduzido índice de inadimplência. Recentemente, na esteira da crise mundial, o Safra fez uma depuração ainda mais rigorosa em sua carteira de crédito, forte nos empréstimos corporativos. Entre junho de 2008 e junho de 2009, o volume de operações recuou 20%. Em contrapartida, no mesmo período o total de ativos consolidados subiu 5,6%. Nos últimos três anos, o banco tem mantido uma rentabilidade média sobre o patrimônio em torno de 21% ? o resultado anualizado do primeiro semestre indica um número semelhante no fechamento do exercício de 2009. Com a compra do Safra, o Santander herdaria cerca de 100 agências e aumentaria seu poder de fogo junto a  clientela classe A, segmento não atingido a contento pelo Banespa. Em volume de ativos consolidados, o Santander Brasil passaria de R$ 327 bilhões para algo em torno de R$ 392 bilhões, segundo dados do Banco Central referentes a setembro de 2009. O banco ultrapassaria a Caixa Econômica Federal, que tem cerca de R$ 341 bilhões em ativos.

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