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Editorial
Será que só os populistas salvam (um pouquinho) o futuro do Brasil?
2/10/2024Definitivamente, Lula é um fanfarrão. A atribuição de todos os projetos sociais do governo a sua pessoa é de uma egolatria patológica. Lula posa como o paladino-mor contra a fome no mundo. E a acredita ter inventado uma solução regional, só sua, o Bolsa Família, que, na verdade, foi idealizado pelo seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, homem elegante, que assistiu com cordialidade ao take over do seu projeto. Lula faz questão de atribuir o sucesso do seu governo as suas raízes, a começar pela viagem de pau de arara de Garanhuns, do Nordeste para o Sul, quando era um miserável de marré marré marré. É um enredo sob medida repetido as nauseam para eternizar seu sofrimento e fazer dele o “Cristo” da política nacional. Repete que foi o mais espezinhado, maltratado e injustiçado dos brasileiros – palavras suas. Verdade seja dita que o episódio do vazamento inconstitucional da conversa com Dilma Rousseff foi feito não propriamente para abreviar o mandato da então presidente, mas para garrotear de vez Lula do cenário político. Tudo bem, fato específico à parte. Talvez para seduzir um país com as características populacionais do Brasil, o presidente tenha mesmo de ser uma enciclopédia de assuntos aleatórios e uma playlist de informações sem rigor, quando não equivocadas.
Espera-se em vão que o presidente da República vá discutir temas realmente importantes, como o estímulo a frentes de trabalho, financiamentos públicos, projetos prioritariamente intensivos em mão-de-obra, empreendimentos integrados entre o setor privado e público – desde que os incentivos pudessem ser justificados pela especialização do trabalhador ou por absorção de mão de obra inativa. Tampouco se vê Lula colocando sobre a mesa alguma ideia criativa, como, por exemplo, a implantação de um fundo de emprego bipartite, com contribuição dos setores público e privado, para incorporar os desolados e os “nem nem” (nem estuda, nem trabalha). O presidente se esqueceu, inclusive, de refinar projetos inspiradores do desenvolvimento em regiões mais inóspitas, como a Sudene, criada por Celso Furtado. Ou seja, propostas capazes de retirar o debate do campo da esterilidade. O discurso monocórdio exclui medidas para o aumento da geração de emprego, como se a atual maré de inclusão dos trabalhadores fosse algo permanente ou estrutural. A narrativa é o salvacionismo pela esmola assistencialista e não por iniciativas que levem à ascensão social.
Nos seus dois mandatos e meio até agora, Lula não construiu uma obra de infraestrutura relevante. Não fez uma reforma estruturante. A metade da reforma tributária, que se arrasta no Congresso, sobrevive devido ao esforço descomunal do ministro Fernando Haddad, que carrega sozinho nas costas o 13º trabalho de Hércules para, ao menos, levar a iniciativa em banho-maria. Lula, como se sabe, não se empenhou politicamente pela única reforma que marcaria seu governo. Prefere seguir subindo em todos os palanques do país. Aliás, nem isso Lula está fazendo bem. O presidente viaja, viaja e viaja. O discurso é o mesmo. É o cruzado da paz, que não esconde mais o seu projeto principal: tornar-se Prêmio Nobel. É saudado no exterior porque tem carisma inegável e é indiscutivelmente folclórico. Lula chega a ser irresistível mesmo quando fala tolices.
Talvez, e infelizmente, devido ao desastre da organização institucional do país, só nos reste como saída cultivar um populista, que, em função do seu atributo de encantador de serpentes, seja quem possa fazer o país evoluir alguns milímetros e a passos de cágado. Com Lula, está sendo assim: o melhor desempenho socioeconômico dos governos pós-abertura democrática foi nas suas gestões, ainda que todos medíocres. Lula é o maior populista de todos os tempos na América Latina. Entenda-se o conceito de populista como aquele que promete, mas não entrega. No passado, Juan Domingo Perón foi um milongueiro de opereta, degraus abaixo de Lula. Já Getúlio Vargas, um outro arquétipo do populismo, era de estirpe mais elevada. Entregou um bocado de iniciativas. Não obstante pertencer a uma outra categoria, a do ditador populista.
O Brasil talvez não tenha outra opção senão o autoengano e a dependência de populistas para manter um mínimo de ordenamento na bagunça institucional generalizada do país. Talvez só eles possam jogar milho para as galinhas. Que seja! Por enquanto, a resiliência do Brasil vai dando conta dos pequenos agrados volta e meia recebidos das agências de rating – vide a elevação da nota de crédito do país de Ba2 para Ba1, anunciada ontem pela Moody’s. Mais uma vez enxergam que, com o populismo de Lula, o trânsito, mesmo engarrafado, segue andando. Só falta o presidente dizer que o upgrade foi resultado do seu encontro pessoal com as agências. Seja lá como for, Lula não vai entregar o que promete. Não vai mesmo.