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Infraestrutura

Um diagnóstico desalentador sobre o futuro do Brasil

5/06/2023
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A Carta de Infraestrutura do estrategista Claudio Frischtak – talvez o mais renomado analista de investimentos e da formação de capital fixo -, divulgada hoje, é uma ducha de água fria nas expectativas de um país mais industrializado e com investimentos que atendam a um crescimento do PIB menos medíocre nas próximas duas décadas. Segundo Frischtak, que dirige a consultoria Inter.B, “No período 2019-22, os investimentos se expandiram em 0,35% do PIB, chegando a 1,86% do PIB em 2022, e projeta-se que alcancem 1,94% do PIB em 2023. Apesar dos ganhos, há uma necessidade estimada de 4,2% do PIB ao longo das próximas duas décadas para a modernização do setor, sob a premissa de um potencial de crescimento não inflacionário próximo a 2%. Estamos ainda distantes.”  

Frischtak faz as perguntas que não querem calar: “Como fazer frente a uma brecha de investimentos de cerca de 2,3% do PIB? E em que horizonte de tempo seria factível expandir os investimentos para um novo ´estado estacionário´ consideravelmente acima da média de anos recentes?”. O próprio consultor tem as respostas, e elas machucam quem espera mais do país. De acordo com ele, “não há alternativa realista a um esforço liderado pelo setor privado, seja pelas restrições fiscais que o país enfrenta num contexto de múltiplas demandas, seja pelas limitações de governança dos investimentos públicos. Estes se situam próximos a 0,6% do PIB, e caberia ampliá-los em cerca de 0,4% do PIB para um volume em torno de 1% do PIB nos próximos anos, de forma cautelosa, estabelecendo prioridades alicerçadas nas necessidades mais prementes e com base em projetos comprovadamente de elevadas taxas sociais de retorno.”  

Frischtak enfatiza que “ampliar os investimentos públicos irá demandar com toda a probabilidade uma reforma do Estado, criando espaço fiscal de forma responsável e rechaçando tentações populistas. Já o salto do setor privado necessitaria ser da ordem de 2% do PIB, factível num ambiente de maior estabilidade e previsibilidade, e menores custos de transação.” O consultor conclui afirmando que “não há como avançar sem perseguir uma agenda centrada em dois grandes temas: melhoria da governança e dos investimentos públicos.”  

A Carta de Infraestrutura de Frischtak vale como um epitáfio para o Brasil que já foi do futuro. E não há força nem unidade política para combater o patrimonialismo com a coisa pública e o clientelismo orçamentário. O Congresso está se tornando crescentemente um balcão de negócios. O Judiciário não garante segurança jurídica e previsibilidade regulatória. Aliás, os “Donos do Direito” têm volta e meia sua seriedade e probidade questionada, o que fragiliza ainda mais a confiança na Corte Maior. Finalmente, o Executivo está manietado, com as mãos que deveriam agir em nome da vontade soberana do povo, amarradas, fazendo dos governos mercadores de apoios e não tocadores de obras e agentes de redução da miséria.  

E o país como fica? Vai seguir oscilando entre a 10ª e a 16ª posições no ranking mundial do PIB – como tem sido nos últimos anos – em função de ser uma “Nação baleia”, ter um enorme mercado interno, água, terra, a hileia Amazônica. Ou seja: mais do mesmo, atributos que não são mérito de ninguém. Seguem juntos a africanização da indústria, a queda da renda per capita, a crescente disfuncionalidade do Estado, a captura da política pelas milícias, a ausência de um projeto nacional e o apequenamento de todas as instituições, inclusive as da sociedade civil. O RR torce para que esta análise esteja errada, em nome do Brasil e de todos os brasileiros. Por enquanto, apenas lamentamos. É o que temos.

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