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O que precisa ser dito

Investidor darwiniano, carteira líquida: a liberdade financeira começa pela capacidade de adaptação

8/08/2025
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A liquidez — frequentemente tratada como um detalhe técnico ou um atributo de curto prazo — tem sido subestimada no debate sobre investimentos de longo prazo. Em nome da disciplina, muitos investidores estão criando carteiras rígidas, excessivamente travadas, com ativos que não podem ser movimentados sem custos ou carências severas.

Durante anos, o discurso foi sedutor: “pense no longo prazo, trave agora, colha depois”. E assim nasceu uma geração de investidores que confundiu disciplina com rigidez, e acabou construindo carteiras que funcionam bem no Excel, mas travam a vida real.

COEs (Certificados de Operações Estruturadas), fundos ilíquidos, produtos com carência, ativos sem mercado secundário — todos prometem retornos sofisticados, mas impõem uma limitação silenciosa: a incapacidade de reação. O que parecia segurança virou clausura. O que era para libertar, passou a engessar.

Ao longo dos últimos anos, popularizou-se a ideia de que “travar o capital” é sinônimo de responsabilidade. Mas a verdade é que visão de longo prazo não se constrói com rigidez, e sim com capacidade de adaptação. A liquidez, quando bem utilizada, não representa fragilidade — representa margem de manobra.

Um portfólio que não permite reação é uma armadilha travada no tempo. E o tempo muda. Sempre.

A mudança pode vir de muitas frentes: ciclos econômicos, choques fiscais, alterações geopolíticas, eventos sanitários extremos ou transformações ambientais inesperadas. Investidores que operam com liquidez estruturada conseguem tomar decisões com agilidade, proteger o capital ou até reposicionar estratégias em momentos decisivos.

Adaptação, mudança e liquidez como forma de sobrevivência financeira.

O investidor Darwiniano sabe que o objetivo da liquidez não é sair correndo de um ativo — é seguir andando para ativos mais adequados.

A verdadeira visão de longo prazo não está em travar o presente. Está em construir flexibilidade estratégica. Liquidez não é inimiga da disciplina. Pelo contrário: é o que mantém você no jogo quando o jogo muda.

Porque o mundo muda. O cenário fiscal muda. Sua vida muda. E quando muda, quem tem liquidez responde. Quem não tem reage — ou pior: se paralisa.

Pare por um momento e olhe para a sua carteira de investimentos.

Em um cenário de mudança abrupta — seja política, econômica, sanitária ou ambiental — você teria capacidade de manobra? A sua carteira é um trampolim ou uma camisa de força?

É claro que há espaço — e importância — para ativos de longo prazo. Investimentos com horizonte estendido e compromissos com o tempo têm seu papel, especialmente em estratégias previdenciárias e sucessórias. Mas eles não podem ser o núcleo operacional da sua estratégia.

E isso não significa pular de um investimento para outro a todo momento — significa apenas garantir que você não esteja amarrado quando o contexto exigir movimento.

O que precisa ser dito?

Se tudo mudasse amanhã, quanto da sua carteira conseguiria se mover com você?

Você não precisa da carteira mais arrojada, nem da mais defensiva.

Você precisa da carteira mais adaptável.

Porque liberdade financeira não é só sobre ter tudo.

É também sobre poder mudar quando tudo muda.

No jogo do longo prazo, vence quem se adapta. Porque no mercado — como ensinou Darwin sobre a evolução — não sobrevive o mais forte, mas o que melhor responde às mudanças do ambiente.

Marcos Tanner é um colaborador especial do Relatório Reservado.

#Finanças #investimentos

Destaque

Banco Central prepara um “retrofit” na velha caderneta de poupança

2/01/2024
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Uma das missões que se encontra na lista de questões do Banco Central, para 2024, é a caderneta de poupança. Que ela precisa mudar, o BC tem certeza. Mas o quanto mudar é que são é o busílis. A instituição já chegou, indiretamente, a fazer política monetária com a caderneta, tamanho era o seu potencial de captação. Hoje ela definha a cada ano. Há quem defenda um rebranding, com uma metamorfose geral, inclusive no nome caderneta. Uma pequena alteração nos juros também ajudaria a ressuscitar o ativo popular. O “jurinho” contribuiria também no marketing da “nova poupança”. Ela sempre teve o menor juro do mercado. Tanto que se dizia tratar-se de “aplicação para pobre”.  

O fato é que a construção civil, destino final dos recursos da poupança, foi encontrando, no tempo, outros instrumentos de captação. Um exemplo que se tornou mais popular entre os pequenos investidores são os fundos imobiliários. E virão muitos outros. O próprio retrofit da caderneta ajudaria nesse propósito. O consenso é que a aplicação envelheceu. E está perdendo dinheiro. Os números não mentem. Em 2021, o saldo entre depósitos e retiradas foi negativo em R$ 35 bilhões. Em 2022, foram R$ 103 bilhões no vermelho. E agora, em 2023, os últimos números acusam uma perda de R$ 98 bilhões. Nesse ritmo, a velha poupança vai acabar em poucos anos.

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