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Economia

A resposta mais importante sobre a política monetária não está na ata do Copom

7/08/2024
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A ata da última reunião do Copom – com um recado duro de que “caso julgue apropriado não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta”, além da avaliação natural de que o cenário de risco para inflação mudou – traz interrogações sobre como será o comportamento do futuro presidente do Banco Central e a efetiva autonomia que o mandatário terá à frente da autoridade monetária. Entenda-se autonomia como a redução das pressões do partido do governo, seus satélites e do próprio presidente da República, que se dedicaram a influir na condução da política de juros atacando duramente o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Não resta dúvida que este último abusou da sua independência, politizando sua função e desafiando gregos e troianos em relação a sua força no cargo. Campos Neto foi sendo minado por sua arrogância e por ser considerado um resquício do “bolsonarismo” no governo. Mas ele já é uma carta fora do baralho. Todos os olhos agora miram sobre quem será o nome do futuro titular do BC, que já pode emplacar antecipadamente em setembro, caso Campos Neto decida jogar a toalha antes do prazo estipulado para o fim do seu mandato, às vésperas do Ano Novo.

O placar para o futuro sucessor de Campos Neto está em 90% a favor do atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que já posa como presidente do BC, participando de reuniões na alta cúpula do governo. Em junho, encontrou-se com Lula, Fernando Haddad e a secretária executiva do Gabinete Civil, Miriam Belchior, para uma conversa sem agenda previa. Campos Neto nunca teve essa regalia. Mas tudo isso são prolegômenos. A interrogação que se alevanta é até que ponto Galípolo será um “Henrique Meirelles” ou um “Alexandre Tombini”, o presidente frágil da gestão Dilma Rousseff. Caso venha a ter a autonomia de Meirelles, o que é difícil na versão Lula III, Galípolo receberá carta branca para exercer a autoridade monetária sem tomar pitos do chefe da Nação, e do próprio ministro da Fazenda. Verdade seja dita que Haddad reclama de Campos Netto com fala mansa, mais por estar obrigatoriamente alinhado com Lula. De qualquer forma persiste a dúvida: Galípolo terá a prerrogativa de ser um hawkish ou um dovish, com decisões mais técnicas, ou será um títere a serviço do interesse político do Planalto? O que também não é improvável.

Dos tempos de Henrique Meirelles, nos governos de Lula I e II, muita coisa mudou. A começar pela garantia de permanência de Meirelles no cargo dada junto ao governo norte-americano, conforme é público e sabido, devido às negociações em missivas trocadas entre o empresário Mário Garnero e o então vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. A reunião articulada para que fosse escolhido um presidente do BC com a benção norte-americana foi conduzida por José Dirceu. Está tudo documentado. Desse encontro saiu confirmado o novo titular da autoridade monetária: o primeiro CEO brasileiro de uma instituição bancária dos EUA, Henrique Meirelles, então à frente do First Boston. Meirelles atravessou os dois governos Lula com liberdade para o manejo da Selic, sob o silêncio de seu chefe. Ganhou todas as paradas, a exemplo dos adversários Carlos Lessa, presidente do BNDES, Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Dilma Rousseff, em sua passagem pela Casa Civil. É verdade que havia um risco iminente de ataque especulativo, e Meirelles serviu, no mínimo, para mitigar essa situação. Mas e Galípolo?

O candidato mais bem situado para exercer a presidência do BC, por enquanto, é uma falsa incógnita. Ele sai da cota direta de Fernando Haddad, o que já é um hedge em relação ao fogo cruzado que aos poucos foi encurralando Campos Neto. Os primeiros movimentos de Galípolo nas reuniões do Copom foram um passo para lá e dois para cá. Logo na entrada, divergiu da maioria do Colegiado e apoiou um ciclo de redução das taxas de juros. Nas duas últimas, mudou de opinião, já como virtual presidente do BC, votando com o colegiado para a suspensão desse mesmo ciclo. Lula parece ter arrefecido sabendo que as pancadas sobre Campos Neto já eram letra morta. A Selic estava de novo pronta para subir. A decisão do Colegiado é que a política monetária está há um triz de endurecer. A inflação bate na porta, e todos sabem disso. A tese que circula dentro do próprio Banco Central é que a elevação dos juros teria um impacto menor sob as eleições municipais – essa variável não dita certamente está no balanço de riscos do BC -, uma vez que o desaquecimento da economia somente se daria cerca de seis meses após o aumento da Selic. Ou seja: em 2025. Fora o fato de que a economia estar bombando com um PIB mais alto do que as previsões do mercado já estar encomendado. Até aí nada de novo.

Os analistas de mercado já esquartejaram o assunto post factum. Há um ponto que faz diferença: no próximo ano, o colegiado do BC será quase inteiramente de Lula. Portanto, as decisões de Galípolo serão ainda mais concentradas na sua pessoa. De antemão, pode-se prever que a comunicação do BC vai mudar, com empenho para que o mercado compre a meta contínua de inflação, que vigorará a partir de 2025. A medida relativiza o calendário mensal de aferição da meta de inflação. O verdadeiro índice somente será apurado em 24 meses ou 36 meses – ainda em discussão – a partir de janeiro do próximo ano. Galípolo já deu sinais de que não mexerá na meta permanente de 3% de inflação. Defendeu a medida no passado, mas as circunstâncias mudaram. Alterar a meta seria um choque de falta de credibilidade logo na partida.

Galípolo entrará no BC com muito mais facilidades do que Campos Neto desde a aurora da gestão Lula III. Mas para ser um Meirelles faltam ainda demonstrações efetivas de independência. A começar por como administrar politicamente – o BC inteiramente técnico é balela – a preferência de Lula quando o trade off de juros altos ou atividade econômica bombando for a decisão da vez. A voz rouca da ata do Copom insinua que isso pode acontecer bem mais rapidamente do que se esperava nesses últimos seis meses de Campos Neto como presidente do BC.

#Banco Central do Brasil #Campos Neto #Copom

Economia

Copom embaralha política econômica e reacende ofensiva contra Campos Neto

21/03/2024
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A sinalização do colegiado do Copom de que a Selic pode não cair abaixo de 10% neste ano, afeta, por via direta, o diálogo entre o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. A taxa de 9% em dezembro que estava sendo prevista pelo Boletim Focus – ainda elevada, mas já digerida por Lula – volta ao epicentro do debate sobre a política econômica. Para o presidente, é ruim e bom. Ruim porque atinge desde já as expectativas de um crescimento do PIB de 3%, em 2024, que vinha sendo acalentado pelo mandatário e permitiria alcançar, ainda que fora do radar do mercado, uma taxa de expansão do Produto, em média e da mesma grandeza, durante seu governo – ver RR (https://relatorioreservado.com.br/noticias/governo-lula-flerta-com-um-pib-medio-de-3/). O percentual atenuaria as dificuldades da política fiscal já em 2025, e nos anos subsequentes. Como se sabe o crescimento do PIB foi meio que indexado ao fiscal. Se este último anda mal, em tese, a economia seguirá a toada de um crescimento medíocre. Bom, porque Lula, se mantiver a postura crítica do passado, responsabilizando o presidente do BC pela previsão de uma menor queda da Selic – uma besteira, porque a decisão cabe a um colegiado de 11 integrantes – terá mais um elemento para atribuir a culpa dos equívocos eventuais da sua gestão a Campos Neto. É aquela história: sempre que pode, o passado captura o futuro, já que não existe o presente.

Já Haddad não vai e não tem por que mudar a orientação de acompanhar os dizeres do chefe. Na verdade, o ministro acha que mesmo uma taxa de 9% já seria alta. Mas hoje tem acompanhado as decisões do Copom de forma intestina, devido à presença no Comitê de um agente “infiltrado”, o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, seu ex-diretor executivo, cuja indicação para o BC é 100% de sua responsabilidade. Galípolo tem votado junto com o colegiado. E Haddad deve conhecer cada detalhe que motivou a decisão da autoridade monetária. Talvez por saber o que viria pela frente, antecipou suas críticas à mudança da sinalização do Copom em relação a queda dos juros há alguns dias atrás. Saiu batendo no órgão e afirmando que seu compromisso era com o Brasil e não com o mercado. Esse ente abstrato, é bem verdade, em muitas vezes atrapalha decisões que interferem no andamento da economia. Mas, na maior parte, é fetiche de analistas que temem em expor suas opiniões sinceramente.

E o papel de Mercadante nessa história? O presidente do BNDES tem o DNA do ex-titular da instituição, o falecido Carlos Lessa, que passou sua gestão no governo quase toda brigando com o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mais uma vez, o “adversário” está no BC. Mas porque Campos Neto levará os cascudos? O BC troca chumbo com o BNDES afirmando que seus gastos reduzem a potência da política monetária, ampliando a liquidez, que é tudo aquilo que ele quer reduzir com uma Selic mais alta. Mercadante acha isso uma loucura, pois o dinheiro do BNDES irriga a economia, gerando investimentos que ampliarão a renda, o consumo e o emprego. Com essa sinalização, o Copom fere todo o ciclo de prosperidade devido a distribuição do dinheiro público a custo mais barato, além de impactar o presente devido ao efeito da curva de juros futuros sobre o custo do dinheiro quase que imediatamente, ao contrário do efeito dos juros no curto prazo. Este é quase o contrário, pois sofre de uma inércia em torno de seis meses para produzir o impacto desejado de aperto maior no PIB. Inevitavelmente Mercadante e Campos Neto vão bater boca. A diferença maior, no caso, deverão ser os fatores intensidade e elegância. Campos Neto mais parece um lorde inglês, inabalável. E Mercadante, desde sua passagem como professor da Unicamp e ingresso no PT, está acostumado a vociferar, espernear e bater sem luvas de box. Não são boas as prováveis relações futuras entre os principais responsáveis pela performance da nossa economia.

#Campos Neto

Economia

Campos Neto aumenta a sequência de erros dos últimos presidentes do BC

13/06/2023
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O ex-operador do Santander Roberto Campos Neto é o terceiro presidente seguido do BC que erra no manejo da política monetária. Alexandre Tombini deixou a taxa de juros lá embaixo por tempo demais; Ilan Goldfajn falhou na calibragem das metas; e agora Campos Neto engrossa ainda mais o caldo azedo do target da inflação e mantém a Selic nas alturas mais tempo que que devia. O resultado é que teremos um período de deflação, muito em função da contribuição da abundância agrícola e introdução da Petrobras como agente de redução da carestia, acompanhado do derretimento do varejo – os exemplos das Americanas e Magazine Luiza são os mais gritantes – de uma inadimplência assustadora, e de uma inanição do crédito que já chega a dar medo. O emprego resiste e até reage em função dos salários mais baixos, redução dos encargos trabalhistas e aumento do precarizado. Valeu a pena ter feito dessa forma? Campos Neto argumenta disseminando em off um estudo que mostra a média de metas no mundo na faixa dos 3% cravados pelo CMN na gestão Paulo Guedes – ora, como dizia Roberto Campos, seu avô, média é quando se coloca o pé no gelo e a cabeça dentro do forno. Não é bem por aí.

Peculiaridades devem ser levadas em consideração. Cada país é um universo próprio. Segundo consta nas internas da Fazenda, o então ministro Paulo Guedes encarregou Adolfo Sachsida, seu secretário de Política Econômica, de pedir a Campos Neto que encomendasse a “um tal japonês do BC” – a fonte do RR não conseguiu precisar o nome do personagem, um técnico menos conhecido – um estudo afirmando que não há relação de causalidade entre a meta de inflação mais alta e a queda dos juros. E quem disse que há? O que existe é maior folga para acomodar eventuais choques de oferta e menos pressão para chegar a uma meta improvável.  

O tal estudo do tal “japonês” indica que a meta poderia ir até 2%, o que exigiria uma Selic na faixa de 100% por algum tempo. Esse delírio seria o projeto de colocar o Brasil alinhado com a inflação dos países desenvolvidos. Pode ser até que a taxa de juros real aumente mesmo com o Copom reduzindo a Selic. Se a queda for a passos de cágado, a partir de agosto, conforme acredita o mercado, e não houver alguma sincronia com a redução do índice de preços, a Selic real aumenta.  Quando Lula acorda todas as segundas-feiras, recebe o clipping e vê que o Boletim Focus prevê para o fim do seu mandato uma taxa de juros real no barato entre o top five do mundo (Selic nominal da ordem de 10%), deve querer dar um beijo em Campos Neto. Perdemos todos, playboy!

#Campos Neto

Política

O que preocupa mesmo Campos Neto é o “arcabouço parafiscal”

30/03/2023
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A entrevista “macroprudencial” de Roberto Campos Neto, marcada em horário praticamente coincidente com o anúncio do arcabouço fiscal pelo ministro Fernando Haddad, teve o cuidado de não tocar em um dos principais fantasmas da autoridade monetária com materialização garantida no governo Lula: as políticas parafiscais expansionistas. De forma mais clara, Campos Neto e seus técnicos sentem fobia pelo BNDES e por Aloizio Mercadante. Na verdade, a aversão à forma de atuação e – por que não dizer? – à própria agência de fomento antecede a chegada de Mercadante. Na gestão de Paulo Guedes no Ministério da Economia, a desconstrução do banco já estava escrita antes da primeira hora do governo Bolsonaro. Campos Neto vem repetindo o mantra nas atas do BC com mais cuidado do que Guedes. A mudança da TLP com prováveis subsídios em linhas de crédito especial e o aumento expressivo dos investimentos são considerados como redutores da potência da política monetária. Por essa ótica, mais gastos do BNDES, mesmo sem os “famigerados” subsídios, contribuiriam para a manutenção ou elevação dos juros.

Mercadante realizou um mega seminário no banco para passar o recado de que a era da anemia do BNDES findou. Nem tão ao sul, nem tão ao norte. O BC tem razão em parte quando alerta para que o banco de desenvolvimento não volte a ser o torrão de açúcar de outros tempos. Mas também não é o caso de transformar a instituição em apêndice da política monetária. Hoje, as atenções do BC estão menos voltadas para o arcabouço fiscal – já sabido de cor e salteado por Campos Neto e por seu colegiado – e mais para o marco das PPPs. O fundo soberano garantidor para que as PPPs deslanchem nos estados e municípios pode desaguar em uma igualmente “famigerada” política fiscal expansionista. Nesse assunto, o BC está boiando.

O marco das PPPs ainda está em construção, e as cifras em processo de revisão. O anúncio é que ele sai na semana que vem. A ver como o BC vai esgrimir seus argumentos em relação ao impacto das duas variáveis e do arcabouço fiscal na sinalização futura da Selic. Fica faltando ainda a questão da incumprível meta de inflação. O RR aposta que a autoridade monetária vai ceder. Não só os “farialimers”, mas também os bancões estão no modo “juros mais baixos”. A banca ganha dinheiro com as taxas altas. Mas a partir de certo ponto, os juros “matam a galinha” em função do aumento insustentável da inadimplência. Vai ser difícil Campos Neto manter uma Selic de 13,75% além desse semestre. E olhe lá!

#Campos Neto

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