Mandetta e um governo paralelo?
POLÍTICA
Mandetta e um governo paralelo?
Em termos político institucionais, a grande questão amanhã será a reação do presidente Bolsonaro – e da própria estrutura do governo – à primeira coletiva dada em novo formato, com seis ministros.
Ainda que o objetivo, especula-se, fosse diminuir o protagonismo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o resultado será o inverso. Mandetta contrariou enfaticamente todas as diretrizes defendidas pelo presidente da República, sem negar o atrito entre eles, e pareceu assumir a liderança no planejamento do governo (mesmo que tenha sido o último a falar).
Fez questão de ressaltar, justamente, a articulação com os estados – no que foi secundado pelo ministro da Infraestrutura -, chegou a dizer que, nessa hora, não há governo e oposição e enfatizou algumas vezes a situação dramática dos EUA, cujo exemplo é caro ao presidente Bolsonaro, por sua proximidade com o presidente Trump.
As opções, nesta terça, são limitadas: ou Bolsonaro assume a difícil tarefa de demitir o ministro em meio à crise, ou recua – o que parece, hoje, quase impossível -, ou estará em curso uma espécie de governo paralelo, no qual Mandetta e os ministros assumem a gestão, em articulação com o Parlamento e governadores, enquanto o presidente atuará apenas no campo da retórica.
INSTITUCIONAL
Aumento de casos, logística e apoios aos informais
Os próximos dias se voltarão para a implementação de apoio de R$ 600 para trabalhadores informais, aprovado hoje pelo Senado e que vai para sanção presidencial; para articulação entre governo federal e estados visando manter o funcionamento dos serviços essenciais; e para a forte ampliação na quantidade de testes do coronavírus, anunciada hoje.
Como ocorreu com os EUA, esta última medida deve elevar exponencialmente o número de infectados (ao mesmo tempo em que diminuirá o índice de letalidade da doença), o que terá impacto sobre a opinião pública e as percepções econômicas.
ECONOMIA
Os números de março – EUA em crise
Estão previstos para amanhã, no Brasil, a PNAD Contínua de fevereiro (IBGE), o Índice de Confiança Empresarial (ICE/FGV) e o Índice de Incerteza da Economia (IIE-Br/FGV), ambos de março. Já no exterior devem sair, também para março, a Confiança do Consumidor dos EUA, a taxa de desemprego na Alemanha e o PMI Industrial na China.
No caso do Brasil, estima-se que PNAD seja essencialmente um retrato pré-crise do coronavírus, sem uma oscilação mais forte. Já o ICE/FGV e o IIE-Br tendem a ser muito negativos, refletindo o momento atual – embora ainda não deem a medida da queda efetiva na atividade econômica, particularmente no setor de serviços, que será pesada em março.
Os efeitos no mercado devem vir mais fortemente dos números internacionais. Nos EUA, que viverão ciclo de intensa retração nos meses de março/abril, a expectativa é de que a Confiança do Consumidor desabe. Na Alemanha, o número de desempregados também deve apresentar crescimento significativo.
O contraponto – importante – pode vir da China, de onde se espera sinais de recuperação na produção industrial. Seria uma espécie de farol em momento no qual a economia ocidental está parcialmente paralisada. E com impactos para a saúde – diretos para o Brasil – já que o gigante asiático é exportador de máscaras e testes para o coronavírus.
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