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Tributo

O Brasil deveria aproveitar o legado de Eliezer Batista

1/07/2024
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A julgar por algumas de suas mais notáveis realizações – Porto de Tubarão, Complexo de Carajás, fundação da Aracruz, pioneirismo na abertura do mercado japonês -, o engenheiro Eliezer Batista poderia pintar até a Capela Sistina. A Vale, praticamente fundada por ele, não se esqueceu do “construtor de catedrais” e publicou nos jornais quatro páginas inteiras sobre o centenário do engenheiro. No entanto, são poucos os que conhecem a fundo o arsenal de ideias de Eliezer Batista. Para além de um colaborador, Eliezer foi um conselheiro informal e dileto amigo do RR por mais de duas décadas. A publicação compartilhou, em primeira mão, muitos de seus estudos e projetos de interesse público. Um privilégio inigualável do qual o RR e seus leitores desfrutaram.
Após deixar a presidência da Vale, no fim dos anos 1980, Eliezer Batista assumiu a Secretária de Assuntos Estratégicos (SAE), no governo Collor, e, poucos anos depois, já na gestão FHC, encabeçou o Conselho para o Desenvolvimento do Rio de Janeiro, unindo-se a Raphael de Almeida Magalhães, igualmente um memorável amigo do RR. No entanto, Eliezer Batista nunca precisou de cargos para se dedicar ao Brasil. Nos anos 2000, montou, na sede da Firjan, no Rio de Janeiro, uma “usina” de projetos para o país. Foram alguns dos seus anos mais profícuos. Da mente de Eliezer crepitavam ideias.
É o caso da Gestão Integrada do Território (GIT), conceito criado por Eliezer Batista como um passo à frente, melhor seria dizer muitos passos à frente em relação à ideia original de desenvolvimento sustentável, formulada adivinhem por quem? Por Eliezer Batista e pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny no início dos anos 90.  Pois bem, a GIT foi concebida por Eliezer como um modelo capaz de enfeixar todas as variáveis em torno de um determinado projeto, sejam elas de ordem econômica, social, ambiental ou cultural. Grandes obras de infraestrutura, por exemplo, deveriam levar em consideração todo o entorno das construções, da preservação do meio ambiente à melhoria da qualidade de vida das populações locais, além do treinamento e capacitação dos funcionários. “Olhar um projeto apenas pelo seu aspecto econômico é ruim ´pra´ burro! ´Pra´ burro e ´pra´ gente também”, costumava dizer Eliezer, com seu estilo inconfundível, para logo depois soltar sua notória e inimitável gargalhada. Para ser viável e bem-sucedido, um projeto deveria harmonizar todos os seus vetores e combinar ganho econômico com preservação dos recursos naturais, melhor qualificação dos profissionais envolvidos, distribuição de renda, desenvolvimento social em toda a sua área de impacto e ampliação do empreendedorismo local. Todos os envolvidos precisam se beneficiar. “É como um tango. Alguém consegue dançar tango sozinho?”, dizia Eliezer. Tempos em que o acrônimo ESG não passava pela cabeça de ninguém. Quer dizer, de quase ninguém… Batista cunhou a máxima de que “no seu término, nenhuma obra deveria deixar a região pior do que quando começou”.
Eliezer Batista lançou também a ideia das “universidades corporativas”. Eliezer sempre defendeu que as grandes corporações nacionais se transformassem em lócus de saber para a formação de mão de obra qualificada, preferencialmente com elevado nível de conhecimento tecnológico. “No futuro, não haverá negócio e emprego fora da tecnologia”, falava, em tom incisivo. Eliezer pregava que empresas do porte da Petrobras, da AmBev e da própria Vale deveriam criar suas universidades, próprias ou vinculadas a terceiros, notadamente grupos da área de educação, com o objetivo de preparar capital humano para suprir a demanda do próprio Brasil. Uma das premissas era conter o êxodo de cérebros para outros países. Ao fim, todos os formandos poderiam disputar, por meio de concurso, postos de trabalho na fomentadora educacional. O projeto concebido por Eliezer era restrito à iniciativa privada, a quem caberia financiar as universidades e uma parcela significativa dos alunos, por meio de bolsas. No caso de grupos internacionais instalados no Brasil, o modelo previa convênios com o apoio dos respectivos governos estrangeiros. À época, entre 2012 e 2013, Eliezer chegou a manter contatos com o então vice-primeiro-ministro japonês, Taro Aso, em busca de um aliado para a implantação da ideia.
Em sua incessante produção de projetos estruturantes, Eliezer Batista debruçou-se como ninguém sobre a geoeconomia nacional. Era um obcecado defensor do redesenho das fronteiras internas. O ex-presidente da Vale considerava a divisão federativa do Brasil um “pé de galinha”, disforme e torta. Eliezer dedicou-se a profundos estudos sobre o tema para chegar a uma proposta de reconstrução das fronteiras domésticas com base não em interesses de ordem política ou administrativa, mas, sim, a partir das especificidades de cada região, de forma a combinar e potencializar variáveis como recursos naturais, logística, vocação econômica, densidade demográfica, mão de obra etc. Os preciosos mapas de Eliezer Batista se perderam na Vale, no Palácio do Planalto, na Firjan. Assim como tantas de suas ideias que evaporaram neste Brasil que insiste em não ser grande. O ideal é que o país tivesse outros Eliezer Batista. Na impossibilidade, já será ótimo se o Brasil reverenciar a memória e aproveitar os ensinamentos deixados por Eliezer, primeiro e único.

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