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Empresa
Brasil está na mira de rede de joalherias espanhola
15/05/2024Vivara e congêneres podem ter uma nova concorrente. Há um burburinho crescente que a rede de joalherias espanhola PDPaola planeja se instalar no Brasil. A empresa já teria, inclusive, sondado grupos da área de shopping center, como o Iguatemi, para abrir sua primeira loja em São Paulo. Com sede em Barcelona, a PDPaola tem joalherias em Londres, Paris e Milão.
Especial
Quem é o manda chuva do futuro nessa tal de economia?
7/05/2024Há um evidente descolamento entre a realidade econômica do agora e o cenário econômico previsto para o amanhã, que vem ocorrendo desde 2023. Fiquemos com este último ano e alguns breves recortes do primeiro quadrimestre de 2024. Começando pelo fim, a elevação do rating do Brasil pela agência de classificação de riscos Moody’s sinaliza para um crescimento mais robusto. A previsão leva em consideração os dados do presente e alguma estimativa não rigorosa em relação aos números prováveis do futuro, de três, quatro, cinco, seis anos, e olhe lá. Quanto ao porvir, repete-se a ladainha de sempre: tudo dependerá do fiscal. Leia-se o aumento do superávit primário de forma que a relação dívida bruta/PIB sinalize uma trajetória de queda. Nada de novo em condicionar o crescimento do PIB à redução do passivo interno do país. Mas o confronto entre a situação do presente e a predição do futuro ganhou uma dimensão inusitada desde o início do governo Lula até agora. À exceção da questão fiscal, que merece uma observação diferenciada devido a sua enorme transversalidade na macroeconomia, parece que tudo vai “muito bem, obrigado”, não obstante as instituições financeiras – vulgo mercado – e o pensamento ortodoxo da academia cravarem que o magma do desastre crepita no interior da economia. Todos os indicadores do dia a dia estão solares. Poucos fundamentos são ameaças no horizonte do tempo, como a taxa de juros, que é muito influenciada por variáveis exógenas – guerras, taxa básica americana, crescimento da China e preço do petróleo, para citar algumas – e do onipresente equilíbrio fiscal.
Os juros e o fiscal conversam o tempo todo. Mas isso não interessam diretamente à população. Os fatores que contam no bolso das pessoas, ou influem diretamente na sua qualidade de vida, jogam a favor. Estamos falando de inflação, emprego, renda, consumo, atividade produtiva, PIB, inadimplência, pobreza, salário, carteiras assinadas, dívidas atrasadas, entre outros. O dólar, que poderia influenciar ainda mais a favor desse grupo, estaria apreciado em função da enorme imprevisibilidade que engolfa o mundo e da monocórdia dúvida sobre a política fiscal do governo. No outro lado do ringue, estão as expectativas. Elas ditariam o futuro, pois levariam em consideração a antecipação dos dados de forma racional e são confirmadas com a concordância dos analistas das instituições financeiras, que capturaram a mídia como fontes hegemônicas de opinião em relação ao amanhã.
Nas últimas décadas, em determinados anos, houve algum desencontro entre o hoje e o amanhã. Nada grave. Mas, em 2023, o presente e o futuro antecipado pelos preditores se distanciaram em demasia, criando um triplo “dilema de Tostines”. O futuro reflete o agora? O agora se divorciou do futuro? Ou é o futuro que faz o agora acontecer? São poucos que questionam a teoria neoclássica, principalmente no que diz respeito à influência das expectativas racionais, inclusive como geradoras de uma profecia autorrealizável. A mesma coisa em relação à exigência do equilíbrio do fiscal, cujas referências de saúde são as métricas de outros países do mundo, dos emergentes, dos desenvolvidos. Uma relação dívida/PIB acima das médias dos blocos citados acima condena o futuro. Mas existem assimetrias que fazem refletir sobre esse “pensamento perfeito”.
Uma pesquisa pretérita feita por ferramenta que vasculha a internet e captura informações de todas as mídias do Brasil (online, impressa, rádio, TV, vídeo, podcasts, Diário Oficial) revela, em números minerados por IA, as distintas visões. A probabilidade de melhora do cenário econômico no presente – o ano base da pesquisa foi 2023 –, obteve um universo de 7.925 ocorrências. Em uma nova rodada, a mesma questão foi colocada, mas trocando a palavra-chave “melhora” por “piora”. No mesmo ano base, de 2023, essa busca negativa teve 2.868 registros identificados, o equivalente a quase um terço dos “otimistas”. Digamos que essa inferioridade do “pior” teria ocorrido devido à fixação de arcabouço fiscal. Qualquer regra que viesse a surgir no vácuo melhoraria o ambiente econômico de momento, que nadava no escuro. Mas, aos poucos, foi se verificando que o arcabouço, uma combinação de aumento permanente de gastos e de crescimento contínuo da arrecadação, só daria certo se fosse uma espécie de “Plano Real Fiscal”.
A partir daí, surgem percepções ainda mais curiosas, que podem talvez ser explicadas por questões de ordem semântica, de humor, linguística, psicológica, sociológica etc. Quando trocamos a palavra-chave “cenário” por “expectativa”, o resultado é de 21.419 ocorrências que levam a crer na “melhoria” do porvir. Fazendo o mesmo exercício invertido, associando “expectativa ” ao termo “piora”, a dispersão torna-se maior se comparada à avaliação de momento da economia em 2023: somente 5.903 menções fazem acreditar que as coisas não irão melhorar. A palavra “expectativa”, portanto, tem um poder maior do que a palavra “cenário”. Talvez esse resultado tão assimétrico derive da incorporação da palavra “expectativa” ao vocabulário econômico em detrimento da palavra “cenário”. Ou seja: a troca do preço presente pelo valor a futuro.
Abrindo a sondagem para investigação dos dados pormenorizados, observa-se que nas correlações vinculadas às palavras “cenário”, “expectativa”, “melhora” e “piora”, há dominância de grupos de interesse e atuação distintos. Essa divisão pode estar vinculada a parâmetros e influências conjunturais/setoriais diferentes, mas também como objeto de captura do futuro. Em ambas as correlações com a palavra “cenário”, os agentes vinculados às finanças (um só grupo) são majoritários quando a percepção é de piora, levando em consideração a proporcionalidade numérica – dominante – dos subgrupos que apostam no melhor. Ou seja: há uma dispersão grande na média das avaliações feitas por variados segmentos. Na análise do ambiente econômico em 2023, todas as ocorrências do termo “piora” vinculadas ao grupo das finanças são em número proporcionalmente maior do que as vinculadas ao setor real, desmembrados nos seus respectivos subgrupos (agrícola, automotivo, alimentos, energia, mineração, varejo etc.). A relação Finanças/Economia Real na “piora” do cenário, com a amostra devidamente seccionada, é de 68% maior nas finanças. Essa proporção cai razoavelmente no grupo das Finanças quando a apreciação do cenário é de “melhora” da economia. Quase a mesma proporção se verifica, inversamente, quando a relação Finanças/Economia Real é associada ao cenário de “melhora” (70% maior). Ou seja: diversos subgrupos do setor real superam o grupo das Finanças quando se acha que o cenário de momento (2023) é otimista. Na metodologia da sondagem, ressalte-se, o bloco Finanças não tem subgrupos.
Decupe-se ainda mais o resultado setorial, trocando a palavra-chave “cenário” por “expectativa”, ou seja, “presente” por “futuro”. Quando a associação é feita a um futuro pior, Finanças são superiores em, no mínimo, 94% a qualquer dos subgrupos do setor real. Quatro, entre muitas interpretações, poderiam explicar isso: (1) a sondagem não menciona prazo em relação ao tempo de projeção, o que pode ter influenciado os subgrupos do setor real que consideram horizontes mais curtos do que a área de Finanças – algo que poderia provocar uma descalibragem nas expectativas de parte a parte; (2) o setor financeiro trabalharia com uma racionalidade/avaliação de risco maior, além de uma capacidade de influência sobre a percepção geral superior à dos subgrupos do setor real, o que torna a predição seu maior ativo; (3) já o setor real (inclusos a maioria dos subgrupos) teria uma relação maior com o agora, e seriam mais influenciados – inclusive por terem um instrumental menor para prever o amanhã – pelo aumento da demanda conjuntural; (4) finalmente, as Finanças “votam” em bloco; e os subgrupos do setor real da economia, não. Por essa ótica, enquanto o setor financeiro “faria” acontecer o futuro, o setor real gozaria do presente, com “uma menor preocupação” e capacidade de captura do amanhã. Lembre-se que o setor financeiro foi considerado um grupo só e é transversal a todos os subgrupos do setor real. Então, quem manda nessa totalidade? O leitor que interprete.
Economia
Brasil parece fadado a ser refém da maldição fiscal
19/04/2024Brasil parece fadado a ser refém da maldição fiscal
A questão fiscal vem sendo usada para desestabilizar governos praticamente desde a reabertura democrática. Há quem diga que a origem do problema começa bem antes, durante a presidência de JK, com a construção de Brasília. Muitos remetem à decisão do então presidente do FED, Paul Volcker, de elevar às alturas os juros norte-americanos com o choque do petróleo, em 1979. Outros atribuem à Constituição de 1988, que contemplou demandas de toda a sociedade. Alguns presidentes brasileiros sofreram menos do que outros. FHC, por exemplo, contou com o sucesso do Plano Real como biombo. Já Lula, em seu primeiro mandato, teve de desdizer o programa do PT, fazendo um dos mais severos ajustes fiscais da recente democracia brasileira. Dilma Rousseff, então, nem se fala: as pedaladas fiscais serviram de pretexto para o seu impeachment. Jair Bolsonaro, mesmo com o discurso neoliberal fortíssimo, piorou barbaramente as contas públicas – noves fora o atípico e dramático 2020, com a pandemia. Entre outros motivos sabidos, Bolsonaro foi desacreditado em um de seus maiores trunfos, a política econômica do hiper ortodoxo Paulo Guedes.
Lula III iniciou seu governo celebrado pela aprovação do novo arcabouço fiscal, que permitiria previsibilidade – ainda que dando prioridade ao aumento de receita e não ao corte de gastos. O encanto durou pouco. Agora, se vê uma repetição da maldição do fiscal, que se propaga por fatores exógenos, como os conflitos no Oriente Médio e a resiliência dos altos juros nos Estados Unidos. O fato é que o trinômio dívida pública, inflação e juros tornou-se um tormento para o país. Todas as diversas tentativas de equilíbrio das contas públicas anunciadas por seguidos governos foram inviabilizadas em função de motivações políticas ou por grupos de interesse privados – ênfase a estes últimos.
Frente à declarada impotência dos poderes executivos, talvez coubesse uma sugestão de PEC redentora da malsinada saga fiscal em nome da harmonização das contas públicas. A emenda constitucional em questão determinaria punição a todos aqueles que criticassem o desequilíbrio fiscal e usufruíssem das benesses do setor público. Uma punição gravíssima, com alteração inclusive do Código Penal, também àqueles que são identificados como responsáveis por contrabando, pirataria, roubo, concorrência desleal por fraude fiscal, sonegação fiscal e furtos de serviços públicos – segundo estudo realizado por CNI, Firjan e Fiesp, o prejuízo com esses crimes chega a R$ 453 bilhões por ano. A PEC poderia determinar ainda que todos os hiper-ricos do país contribuíssem com um mísero quinhão de 2% do seu patrimônio pessoal para compensar os cortes de gastos com serviços essenciais – saúde e educação, por exemplo; que todas as desonerações fiscais fossem auditadas para o cotejamento da relação custo-benefício; que o código penal fosse revisto de forma a triplicar as penas dos integrantes do crime organizado, não permitindo nenhum tipo de regalia; que o próprio Congresso propusesse, detalhadamente, quais despesas deveriam ser podadas e as divulgasse à opinião pública como sua posição institucional. Pronto! A questão fiscal estaria resolvida para sempre. Então, ficamos assim: ou aprove-se a PEC ou que o próprio Congresso se destitua como demonstração de boa-fé.
Venture capital
Tiger Global ruge cada vez menos no Brasil
11/04/2024Há um forte burburinho nos escritórios da Faria Lima que a Tiger Global Management fará uma nova redução do seu portfólio no Brasil, zerando posições importantes de sua carteira. Seria o segundo movimento similar em menos de um ano. Além de seguidas perdas globais, os norte-americanos têm se deparado com obstáculos para levantar novos recursos. O mais recente fundo lançado pela Tiger, o Private Investment Partners 16 (PIP 16), fechou sua captação com um volume financeiro 63% abaixo da meta estipulada. O Brasil vai pagar uma parte dessa conta. Procurado pelo RR, o Tiger Global não se manifestou.
Brasil e China
Uma agenda “diplomática” sob a batuta do Instituto Lula
9/04/2024Ideia que circula no Instituto Lula: transmitir ao vivo uma apresentação conjunta, feita de forma remota, de autoridades do Brasil e da China no seminário sobre os 50 anos das relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, que será realizado pelo think tank no dia 23 de abril, no Hotel Pestana, em São Paulo. Se confirmado, Lula estaria criando uma nova forma de diplomacia: conduzindo relacionamentos internacionais de maneira informal por meio da sua fundação.
Empresa
GAC Motor é mais uma montadora chinesa a caminho do Brasil
26/03/2024O RR apurou que a montadora chinesa GAC Motor prepara o terreno para se instalar no Brasil. A empresa busca um local para construir uma fábrica de veículos convencionais e híbridos. No último dia 16 de março, executivos da GAC estiveram reunidos com o governador do Amapá, Clécio Vilhena, curiosamente um estado sem qualquer tradição industrial, muito menos automobilística, e que representa menos de 1% do PIB. Já não se pode dizer o mesmo de São Paulo e Goiás, também na mira da companhia – os chineses pretendem se reunir com os governadores Tarcísio Freitas e Ronaldo Caiado.
Empresa
BYD quer inaugurar fábrica com um encontro bilateral
25/03/2024A BYD organiza o seu próprio G-20. Ou melhor: “G-2”. A montadora quer aproveitar a vinda do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil em novembro para inaugurar a sua fábrica de carros elétricos em Camaçari (BA). Pretende reunir no evento Lula e Jinping. Os dois chefes de governo não iriam à Bahia apenas para cortar fita. Segundo o RR apurou, a BYD vai aproveitar a efeméride para anunciar um novo pacote de investimentos no Brasil. Há ainda um fato simbolicamente importante que a montadora quer capitalizar: Brasil e China completam, em 2024, 50 anos de relações diplomáticas e comerciais.
Política externa
Quem será o novo embaixador da Argentina no Brasil?
22/02/2024De acordo com alta fonte do Itamaraty, o ex-senador Federico Pinedo é o candidato mais forte a assumir o cargo de embaixador da Argentina no Brasil. Pinedo é próximo da ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, nome bastante influente no governo de Javier Milei. Ele teria também o apoio de Daniel Scioli, que deixou recentemente o posto para assumir o Ministério do Turismo, Ambiente e Esportes. Segundo informações obtidas por canais diplomáticos brasileiros, correm por fora Luis Maria Kreckler, atual cônsul argentino em São Paulo, e Diego Guelar, que já esteve à frente da Embaixada argentina em Brasília no segundo mandato de Carlos Menem.
Política externa
Brasil e Uruguai costuram parceria no espaço
15/01/2024Se, em terra firme, as relações têm sido marcadas por divergências no âmbito do Mercosul, ao menos Brasil e Uruguai têm se entendido da estratosfera para cima. O clima de cooperação envolve a criação da Agência Espacial Uruguaia. O Brasil tem dado apoio técnico ao projeto, que está vinculado aos planos do governo do presidente Luis Alberto Lacalle Pou de lançar satélites, notadamente de defesa e telecomunicações e de captações de imagens para o agronegócio. Recentemente, o brigadeiro do ar Paulo Vasconcellos, ex-diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB), esteve reunido com o Conselho Nacional de Política Espacial, órgão do governo federal uruguaio responsável pela criação da Agência.
Energia
Brasil e Paraguai divergem sobre tarifa de Itaipu
11/01/2024Quanto a energia de Itaipu vai custar em 2024? As primeiras conversas entre Brasil e Paraguai sobre o assunto mostraram que há uma distância entre os dois países maior do que os 1,8 mil km que separam Brasília de Assunção. No Ministério de Minas e Energia, extraoficialmente a informação é que o país vizinho aumentará a tarifa para US$ 20,75 MW/mês, a mesma cifra praticada em 2022. O preço atual é de US$ 16,71 KW/mês. O Brasil vai na contramão e defende uma redução do valor. O RR apurou que os Ministérios de Energia dos dois países fizeram estudos técnicos distintos – no caso do Brasil, o relatório deverá ser encaminhado à Presidência da República em até duas semanas. Sob a ótica do Paraguai, a sua gula é justificável. O país quer ganhar dinheiro em cima do sócio: os paraguaios não consomem integralmente a parte que lhes cabe da produção de Itaipu. Com isso, vendem o excedente para o Brasil.
Destaque
Negociação com Emirados Árabes é o novo ponto de cisão no Mercosul
11/12/2023Há novas fissuras surgindo no já craquelado Mercosul. O motivo é a proposta de negociação de um acordo comercial com os Emirados Árabes. Brasil e Paraguai são a favor. Mas, segundo uma alta fonte do Itamaraty, o novo presidente da Argentina, Javier Milei, e o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, já sinalizaram que são contrários ao tratado e vão trabalhar para brecar as tratativas diplomáticas com o país árabe. Por trás dessa postura está a política do “cada um por si”, que ameaça, se não implodir, ao menos esvaziar o Mercosul por dentro. De acordo com a mesma fonte, há informações no Itamaraty de que o Uruguai, na paralela, tem feito contatos diplomáticos com os Emirados Árabes para um possível acordo bilateral, à margem do bloco econômico. O mesmo estaria ocorrendo com Cingapura – outro país no radar de Brasil e Paraguai. Trata-se da mesma posição adotada pelo presidente Lacalle Pou em relação à China.
A oposição de Argentina e Uruguai às negociações em bloco com os Emirados Árabes atingem, mais especificamente, o Brasil e o próprio governo Lula. A tentativa de aproximação do Mercosul com o país árabe leva a assinatura do presidente brasileiro, assim como as negociações para a entrada dos Emirados no grupo dos BRICs. E mesmo a sintonia entre Brasil e Paraguai em relação ao assunto é um tanto quanto cacofônica. Neste momento, o governo brasileiro concentra seus esforços diplomáticos na conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Ou seja: as tratativas com os árabes teriam de esperar um pouco. Já o Paraguai, que acaba de assumir a presidência rotativa do Mercosul, tem outros planos. No entanto, o que se diz nos meios diplomáticos é que gestão do presidente paraguaio, Santiago Peña, quer abrir de imediato as conversações com os Emirados Árabes, independentemente do que acontecer nas negociações com o bloco europeu. Possivelmente porque não está levando muita fé na assinatura do tratado com a UE
Mineração
Enquanto o Brasil boia no minério, a China nada em um oceano de terras raras
9/11/2023Essa fixação por valuation está transformando o valor estratégico futuro em uma sanha por dividendos no presente que pode tirar a empresa de mercados promissores no porvir. É o caso das terras raras, vendidas por uma grana para o Japão, o maior comprador do mundo e carente dos minerais. O país, inclusive, é boicotado pela China, detentora da maior reserva planetária de terras raras. São dois bicudos que não dão uma bitoca nem por muitos bilhões de dólares. Mas deixemos os ricos de lado. Vamos ao Brasil, que joga dinheiro fora obsessivamente. Quem é mais velho se lembra de uma história corrente no Departamento Nacional da Produção Mineral, nos anos 60, que relatava, com tom de blague, a pirataria dos estrangeiros com as terras raras brasileiras. Pouco antes de meados do século passado, os navios paravam no Porto do Espírito Santo, despejavam suas mercadorias e enchiam o barco com o mineral como lastro. Levavam de graça uma riqueza cujo valor estava escrito há quase 100 anos. O que encarecia, à época, as terras raras era a monazita, usada por idosos para passar no corpo e reduzir as dores de artrite. As terras raras são compostas de minérios como lítio, cobalto, tório, ítrio, césio etc. Em tempos de transição energética, são insumos valiosos para a produção de baterias, chips, dispositivos eletrônicos, fabricação de laser etc.
O tempo passou, e o Brasil não aprendeu. Não prospectou, perdeu o segundo lugar no ranking das terras raras para o Vietnã e assiste, como informa hoje o Brazil Journal, a uma companhia brasileira tentar um “Ipozinho, de US$ 50 milhões, na bolsa de valores australiana. Trata-se da Brazilian Rare Warth, que acaba de fazer um IPO das suas maquetes (o caixa da companhia é de US$ 10 milhões) – fisicamente, não existe nada. Não se sabe muito bem se os recursos minerais são inferidos, indicados ou medidos. No Brasil, há registro de quatro empresas que estão buscando o minério em estágio pré-operacional no Brasil. Além Brazilian Rare, outros exemplos são a Meteoric Resource e a Serra Verde.
Esses quase 100 anos de tempo perdido foram resgatados, sem êxito, no governo Dilma, pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. O economista chamou no Ministério 17 empresas habilitadas para a exploração de terras raras em associação com a Vale. Reza a lenda que a reunião foi boa. Já a joint venture e os financiamentos do BNDES, prometidos à época, ninguém viu, nem nos governos de Dilma, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula III. Fala-se à boca pequena que a Vale voltou a estudar o investimento na extração de fosfato. Na verdade, não se sabe muito bem o que a empresa vai explorar: se fosfato ou terras raras, que é um minério associado em grande escala ao insumo para fertilizantes – 60% dos fosfatados consumidos no Brasil são importados.
Agronegócio
Produtores brasileiros de óleo de soja acirram disputa pelo mercado indiano
6/11/2023O agronegócio brasileiro fez um movimento pontual, mas absolutamente estratégico. Segundo informação publicada há pouco pelo veículo indiano The Economic Times (https://economictimes.indiatimes.com/industry/cons-products/food/indias-sea-sign-mou-with-brazils-abiove-for-soyabean-oil-imports/articleshow/105014585.cms), a Solvent Extractor’s Association of India (SEA) assinou um memorando de entendimento com a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) para a importação do óleo de soja. A SEA é a principal entidade representativa do segmento de óleos vegetais da Índia, respondendo por mais de 800 empresas locais. O país asiático é o maior comprador de óleos comestíveis do mundo – 15 milhões de toneladas por ano. Em 2022, o Brasil exportou 1,4 milhão de toneladas do óleo para a Índia, número que deverá ser suplantado neste ano. Até setembro, as vendas somam a 1,2 milhão de toneladas.
Obs RR: O acordo com os indianos é um importante movimento defensivo da agroindústria brasileira. O objetivo é proteger seu mercado, que começa a ser ameaçado por outros grandes produtores globais. Players como Malásia, Indonésia e Tailândia têm comercializado volumes cada vez maiores de óleo de palma na Índia, o que, no médio prazo, pode afetar significativamente as vendas de óleo de soja do Brasil. Trata-se de uma disputa razoavelmente acirrada. Os produtores da Malásia e da Indonésia costumam adotar uma política agressiva de descontos, quase um dumping, para ganhar mercado na Índia. Para não falar dos custos logísticos mais competitivos, em razão das menores distâncias.
Agronegócio
Fumo ganha mais peso nas relações comerciais entre Brasil e China
3/10/2023O Brasil negocia um acordo com a China para aumentar as exportações de fumo a partir de 2024. As tratativas se dão no âmbito do protocolo bilateral de comércio entre os dois países. Segundo informações filtradas do Ministério da Agricultura, nas últimas três semanas técnicos do governo chinês conduziram uma inspeção das lavouras brasileiras, notadamente no Rio Grande do Sul, que responde por pouco mais da metade da safra brasileira de tabaco. A partir da auditoria, a China deverá habilitar novos produtores. No ano passado, as exportações de fumo para o país asiático totalizaram 62 mil toneladas (ou cerca de US$ 400 milhões), 19% a mais do que em 2021. Na Pasta da Agricultura, a estimativa é de um aumento médio de 30% nos próximos dois anos, o que colocará o Brasil em condições de tirar o lugar do Zimbábue, hoje o maior vendedor de tabaco para os chineses.
O acordo, ressalte-se, não mexe apenas com a balança comercial brasileira. O aumento das vendas para a China pode ter um impacto razoável no mercado interno, com a alta dos preços cobrados pelos agricultores aos dois grandes compradores de fumo no país: a Philip Morris e, sobretudo, a BAT Brasil. Neste ano, os produtores conseguiram, a duras penas, arrancar um reajuste de 6,5% à mesa de negociações com os dois fabricantes. No setor, há projeções de que esse índice pode chegar perto dos 10%, puxado pela maior demanda por parte da China.
Política externa
Brasil deve voltar a comprar energia da Venezuela
4/08/2023O Ministério de Minas e Energia abriu tratativas com o governo da Venezuela para comprar energia do país vizinho. A ideia é que o acordo com a estatal venezuelana Corpoelec entre em vigor ainda neste ano. O objetivo é garantir o suprimento do insumo para a Roraima, que sofre com o déficit energético. Seria uma solução temporária, até a construção da linha de transmissão Manaus-Boa Vista e a consequente conexão do estado ao Sistema Integrado Nacional. Roraima precisa de energia extra. Ponto. Mas, como quase todos os movimentos da gestão Lula na América do Sul, há segundas intenções que conversam com a política externa do governo.
Um importante projeto acalentado pelo presidente Lula é a entrada do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) – conforme o RR já informou. A Venezuela, membro fundador da Opep, é tratada no governo como a grande avalista para o ingresso do país na entidade. Nesse caso, qualquer moeda de troca com o presidente Nicolás Maduro passa a ter um valor ainda maior. Dessa disposição de entrar na Opep é que derivam as declarações de que “A democracia é relativa” e “Nicolás Maduro é um presidente democrata”.
O governo Lula não está inventando moda. O Brasil comprou energia da Venezuela por 18 anos seguidos. O acordo começou em 2001, no governo FHC, no auge da crise do apagão. Em março de 2019, logo no terceiro mês de mandato, o presidente Jair Bolsonaro desfez o contrato, uma decisão eivada de uma forte dose de ideologia. Desde então, o abastecimento de Roraima tem sido feito por quatro termelétricas da Roraima Energia. As usinas consomem mais de um milhão de litros de diesel por dia, custo que é subsidiado pelo governo federal. Por ano, Brasília repassa a Roraima cerca de R$ 1 bilhão para cobrir as despesas com o funcionamento das térmicas.
Política externa
Brasil e China semeiam uma nova parceria no agronegócio
26/07/2023O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, vem mantendo conversações com o governo chinês para uma parceria na produção de sementes no Brasil. As tratativas se dão no âmbito dos acordos firmados entre os dois países para investimentos conjuntos no agronegócio. O apoio de Pequim poderia se consumar, por exemplo, por meio da LongPing Hitech, uma das maiores produtoras de sementes do mundo. O grupo chinês, que, em 2017 pagou US$ 1 bilhão pelo braço de agroscience da Dow no Brasil, já é um dos grandes players do setor no país. Nos últimos dez anos, o volume total de sementes de soja, milho, algodão, trigo, arroz e feijão saltou de 1,7 milhão para quatro milhões de toneladas por safra. Há estimativas que esse número chegue a seis milhões de toneladas em três anos.
Política externa
Chile e Brasil juntam os fios na energia renovável
4/07/2023Os governos de Lula e Gabriel Boric começam a discutir uma política conjunta de investimentos em energia renovável. Do lado chileno, os projetos seriam desenvolvidos no âmbito da petroleira estatal Enap. Ressalte-se ainda que Boric já manifestou a intenção de criar uma nova empresa pública exclusivamente para a produção de hidrogênio verde. Em janeiro deste ano, não custa lembrar, o Chile firmou um acordo com a Colômbia para investimentos em geração renovável.
Destaque
Estados Unidos pretendem garimpar metais estratégicos no Brasil
24/02/2023A agenda bilateral com os Estados Unidos, impulsionada pela recente visita de Lula a Washington, vai passar pelo subsolo brasileiro. Segundo informações filtradas do Itamaraty, os dois países estão alinhavando um acordo na área mineral. As tratativas envolvem, notadamente, níquel, cobalto e lítio. Em relação a este último, a Casa Branca já teria manifestado a disposição de financiar a atuação de mineradoras norte-americanas no Brasil – o país reúne cerca de 8% das reservas de lítio conhecidas do mundo. No caso do níquel e do estanho, o caminho já está mais bem desenhado. Trata-se de uma operação triangular, cujo terceiro vértice é a mineradora inglesa TechMet. Em novembro do ano passado, o governo norte-americano anunciou a liberação de aproximadamente US$ 30 milhões para financiar operações da companhia no Piauí. Foi apenas a primeira tranche. Na Embaixada brasileira em Washington, já se fala em um segundo aporte, desta vez na casa dos US$ 100 milhões.
Fundada pelo sul-africano Brian Menell, a TechMet é um istmo do Departamento de Estado norte-americano. Um dos seus principais acionistas é o DFC (Development Finance Corporation), a agência de desenvolvimento do governo dos Estados Unidos. O presidente do Conselho Consultivo é o almirante Mike Mullen, ex-comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas e principal conselheiro militar dos presidentes George W. Bush e Barack Obama. A TechMet atua como uma espécie de ponta de lança na iniciativa privada dos interesses geoeconômicos dos Estados Unidos na área de mineração.
Trata-se de um acordo ganha-ganha. Ao montar uma cabeça de ponte mineral no Brasil, financiando projetos no setor mediante a garantia de suprimento, os Estados Unidos fazem mais um movimento no tabuleiro global para reduzir sua dependência de cadeias de valor dominadas pela China. Foi o que motivou o presidente Joe Biden a anunciar no ano passado a liberação de US$ 2,8 bilhões para estimular a produção de minerais estratégicos e a fabricação de baterias de veículos elétricos, uma forma de conter a excessiva presença chinesa nesses dois setores dentro dos Estados Unidos. Por sua vez, o Brasil passa a ter um aliado na produção de metais estratégicos na transição para um futuro de baixo carbono. Projeções da Agência Internacional de Energia indicam que a demanda por lítio deve crescer 40 vezes até 2040; e a procura por cobalto e níquel, entre 20 e 25 vezes.
Empresa
Grupo indiano planeja investir em energia verde no Brasil
24/02/2023A indiana ReNew Power estuda se instalar no Brasil. A empresa já sinalizou ao Ministério de Minas e Energia a intenção de investir em geração eólica e solar no país. A aterrissagem em solo brasileiro se daria no âmbito de um grande projeto global dos indianos, que prevê o desembolso de mais de US$ 9 bilhões até 2025 para triplicar sua capacidade de produção de energia verde. Além da Ásia, a estratégia do grupo passa por investimentos na Europa e na América Latina. Voltagem financeira não deverá faltar: a ReNew tem entre seus acionistas a Goldman Sachs e o Canada Pension Plan Investment Board.
Negócios
Paramount entra em campo na disputa pelo Brasileirão
24/02/2023A Paramount promete entrar pesado na disputa por direitos de transmissão de futebol no Brasil. A plataforma de streaming norte-americana já iniciou conversas nos bastidores para exibir o Campeonato Brasileiro a partir de 2025 – o contrato atualmente em vigor termina no ano que vem. A Paramount já deu seu cartão de visitas ao comprar os direitos da Libertadores e da Sul-Americana para serviços de streaming.
A entrada da Paramount no game coloca ainda mais eletricidade no negócio de transmissões esportivas no Brasil. Esse mercado vive um frenesi, em grande parte alimentado pela criação de duas ligas simultâneas: a Libra, com 18 clubes e a Liga Forte Futebol do Brasil (LFF), com 26 integrantes. A coexistência dessas duas “holdings” vai acirrar ainda mais a concorrência por direitos de exibição do Brasileiro, uma negociação, ressalte-se, já naturalmente fragmentada pela possibilidade de contratos distintos para TV aberta, fechada e streaming.
Empresa
Fábrica de carros elétricos da Chery perde velocidade
24/02/2023Circula no setor automotivo a informação de que a chinesa Chery estuda instalar uma fábrica de veículos elétricos na Argentina. Má notícia para o Brasil. A se confirmar, o projeto pode empurrar para o acostamento os planos da Caoa Chery – associação entre o Grupo Caoa e a montadora asiática – de reabrir a fábrica de Jacareí (SP). No ano passado, a companhia demitiu os mais de 400 trabalhadores da unidade, prometendo reabri-la em 2025, com a produção de carros elétricos. O Grupo Caoa é acionista majoritário da joint venture. No entanto, é pouco provável que o investimento em Jacareí seja levado adiante caso a Chery decida produzir seus automóveis elétricos na Argentina. Nesse caso, a planta no país vizinho teria o papel de abastecer outros países da América do Sul.
Empresa
Mubadala quer morder uma participação na IMC
23/02/2023O Mubadala tem fome de Brasil. Se, de um lado, não desistiu da compra das operações do Burger King no país, do outro tem feito sondagens para a aquisição de uma participação na International Meal Company (IMC). A holding reúne 14 bandeiras do mercado de fast food, entre as quais Pizza Hut, KFC e Viena. A principal acionista da IMC é a UV Gestora. Entre os acionistas está também o empresário Carlos Wizard, fundador da escola de idiomas de mesmo nome.
Destaque
Conglomerados bancários lideram consolidação das fintechs
16/02/2023As fintechs não vão entrar em extinção, podem até aumentar numericamente, mas uma parcela expressiva da espécie acabará nas mãos dos grandes conglomerados bancários do país e verá reduzida sua participação no total de ativos do sistema financeiro. Os próximos meses deverão ser marcados por uma sequência de aquisições sem precedentes desde o surgimento desses bancos que não são bancos, mas são. Ou seja: a tão esperada consolidação das fintechs virá, sim, mas não exatamente entre elas, como muitos acreditavam. Há uma combinação de fatores empurrando essas instituições para o colo da banca puro-sangue, a começar pela estiagem de funding.
Assim como as startups de uma maneira geral, as fintechs surfaram na onda de investimentos de venture capital no país. O Softbank, por exemplo, teve um papel determinante no boom do segmento, investindo em dez empresas, entre as quais Nubank e Creditas. No entanto, a maré desceu. Assim como o banco japonês, outros importantes players da indústria de VC no país têm reduzido seus aportes, caso do Tiger Global e Monashees, entre outros. Em 2022, as fintechs brasileiras captaram US$ 2,3 bilhões, 44% abaixo do valor recebido no ano anterior (US$ 4,1 bilhões). O recuo foi superior à queda de investimentos registrada na América Latina como um todo (31%). Indicadores recentes do setor apontam que algo em torno de 70% das startups do setor financeiro no país têm sido bancadas exclusivamente com recursos dos próprios acionistas fundadores. A tendência é que esse cenário se acentue ao longo deste ano, com pretensos predadores transformando-se em presas.
O próprio Nubank ilustra bem o momento de vulnerabilidade das fintechs. Por ocasião do seu incensado IPO, em dezembro de 2021, alardeou aos quatro cantos que havia destronado a banca raiz e se tornado a instituição financeira com maior valor de mercado do Brasil – e da América Latina. À época, seu market cap chegou a US$ 41,7 bilhões, então equivalente a R$ 232,4 bilhões. Um brilho efêmero. De lá para cá, a ação do Nubank despencou a ladeira. Seu valor de mercado caiu praticamente à metade – US$ 22,5 bilhões ou aproximadamente R$ 116 bilhões. Está abaixo do Itaú e do Bradesco.
Por outro lado, o aumento da bancarização não direcionou, conforme se imaginava, uma parcela maior dos meios de pagamento para as fintechs. O dinheiro procurou os grandes bancos, que mantêm o monopólio da percepção de segurança, uma das variáveis mais relevantes quando se trata do depósito do salário e das micro poupanças. O “entrante” no sistema bancária, com raras exceções, pertence a um público de baixa ou baixíssima renda, que quer olhar o banco na rua, saber que ele existe. Portanto, é possível fazer uma projeção de que o crescimento contínuo da bancarização aumentará a participação dos grandes conglomerados no volume total dos depósitos.
As novas regras impostas pelo Banco Central às fintechs, que começaram a entrar em vigor no mês de janeiro e serão gradativamente implantadas até 2025, também vão impor um processo de seleção natural no setor. O arcabouço normativo elaborado pelo BC ainda está longe de eliminar as assimetrias regulatórias em relação aos bancos convencionais, sujeitos a um ordenamento muito mais rigoroso. Ainda assim, muito provavelmente uma parcela expressiva das fintechs não conseguirá atender às exigências. Trata-se de um ecossistema inteiro de instituições financeiras que nasceram e cresceram em um limbo regulatório, quase que à margem do alcance do Banco Central. Mas há importante ressalva a ser feita: o espaço de crescimento para as fintechs é imenso, porém, proporcionalmente, elas decrescerão sua participação em relação aos grandes bancos no estoque de capital do setor financeiro.
Há cerca de quatro anos, o RR produziu um trabalho para bancos comerciais intitulado “Sistema bancário no Brasil desafio dos grandes conglomerados”. À época, apesar do incômodo demostrado na sondagem com o desequilíbrio regulatório e, consequentemente, concorrencial, os bancos convencionais consideravam que, no tempo, acabariam por absorver o impacto da enxurrada de fintechs. Não deu outra. Desde então, os grandes grupos têm feito sucessivos movimentos neste sentido. O Itaú investiu R$ 1 bilhão para comprar 50% da fintech da Totvs. No mercado, a aposta é que em algum momento, não muito distante, assuma o controle do negócio. O banco dos Setúbal adquiriu 35% da Avenue Securities, corretora digital norte-americana. O Santander incorporou 80% da Gira, especializada em recebíveis do agronegócio, e a Mobills e a Monetus, especializadas no desenvolvimento de aplicativos financeiros. O Bradesco, por sua vez, comprou empresas como a 4ward e a Aarin, focadas em meios de pagamento – a segunda por meio do Next, seu banco digital. Também cravou uma aquisição no exterior, a BCP Global, sediada em Miami. Estes são apenas alguns exemplos de fintechs que caíram na rede dos tradicionais conglomerados bancários brasileiros. Vem muito mais pela frente.
Empresa
A última dança do Makro no Brasil
16/02/2023A holandesa SHV avalia um movimento radical: fechar as oito lojas do Makro que ainda restam no Brasil. O grupo está penando na busca de um comprador para os imóveis, localizados em São Paulo. São unidades deficitárias em áreas pouco atrativas para outras redes varejistas. Enfim, uma espécie de xepa do Makro. A rede atacadista está encerrando suas operações no Brasil por etapas. Em 2021, negociou 21 lojas para o Carrefour. No início deste ano, vendeu outra leva de 16 imóveis para o grupo paranaense Mufatto.
Destaque
Brasil entra no mapa de um gigante global da energia renovável
14/02/2023A Copenhagen Infrastructure Partners prepara sua entrada no Brasil. A gestora dinamarquesa, dona de uma das maiores carteiras de ativos em energia verde do mundo, tem se movimentado para se associar a projetos em geração renovável no país, notadamente usinas eólicas e solares. De acordo com informações apuradas pelo RR, há conversas com um grande grupo brasileiro do setor, que reúne um portfólio da ordem de 40 GW, somando-se plantas já em operação ou em fase de desenvolvimento.
O Copenhagen Infrastructure Partners tem por regra investir em negócios no nascedouro, do zero. Seus números são hiperlativos. Ao todo, são mais de US$ 20 bilhões em investimentos globais, abrigados sob dez fundos de investimento. Por enquanto. O Copenhagen está lançando seu Fund V, ou seja, a quinta carteira da sua série principal de fundos. A meta é captar até US$ 15 bilhões, igualando-se ao Brookfield Energy Transition, até o momento a maior captação global já feita para projetos em energia verde.
Com parcela majoritária de seus negócios concentrada na Europa e nos Estado Unidos, o Copenhagen Infrastructure Partners começa a esticar seus tentáculos para novos mercados, notadamente Ásia e América Latina. No ano passado, associou-se a um projeto para a construção de um complexo eólico na cidade de Barranquilla, na Colômbia. Os dinamarqueses estão investindo também na produção de hidrogênio e amônia verde no Chile.
Negócios
Festival de música desafina e vira caso de Justiça
14/02/2023O lamaçal e as graves falhas operacionais que provocaram a suspensão do REP Festival, no Rio de Janeiro, talvez sejam o menor dos problemas dos organizadores do evento, à frente o empresário Fabrício Stofel. Segundo o RR apurou, a Ingresse, uma das principais plataformas de venda de bilhetes para shows e eventos do Brasil, estuda processar Stofel e seus sócios. A empresa teme um calote de altos decibéis. No início de fevereiro, a menos de dez dias dos shows, os organizadores do REP Festival anunciaram a mudança de local no Rio de Janeiro. A essa altura, milhares de ingressos já haviam sido comercializados. A alteração provocou uma onda de pedidos de cancelamento da compra dos bilhetes à Ingresse, até agora sem resolução, de acordo com a fonte do RR. A plataforma joga a culpa para cima dos donos do festival, que já receberam o dinheiro das vendas e até o momento não teriam devolvido o montante necessário para o ressarcimento dos tíquetes. A própria Ingresse tem informado aos clientes que, até amanhã, no mais tardar, “seus advogados adotarão as providências necessárias” em relação aos organizadores do REP Festival, uma espécie de Rock In Rio em miniatura que, literalmente, fez água. E muita lama.
Infraestrutura
Fraport sobrevoa aeroporto do Rio Grande do Norte
14/02/2023O RR apurou que a alemã Fraport AG planeja disputar o leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN), prevista para 19 de maio. Seria o retorno do grupo às licitações do setor no Brasil depois de seis anos. Operadora do Aeroporto de Frankfurt, o maior da Alemanha, a Fraport administra o Salgado Filho, em Porto Alegre, e o Pinto Martins, em Fortaleza, arrematados em 2017. O leilão do terminal de São Gonçalo do Amarante é uma das licitações do setor aeroportuário que o governo Bolsonaro deixou engatilhadas para o seu sucessor. Nesse caso, trata-se, na verdade, de uma relicitação: o consórcio Inframérica, leia-se a argentina Corporación América, devolveu a concessão à União no ano passado.
Destaque
Contratos em aberto ameaçam o setor cafeeiro no Brasil
13/02/2023A ameaça de safras com “inconsistências contábeis” em cadeia paira sobre o setor cafeeiro no Brasil. O risco em questão vem da crescente exposição dos players centrais – produtores, tradings e bancos – a contratos mercantis de entrega futura em aberto. Segundo uma fonte do setor, o estoque atual soma cerca de 10 milhões de sacas ou aproximadamente US$ 1 bilhão – o equivalente a pouco mais de 25% das exportações brasileiras do produto no ano passado. Essa cifra tem causado apreensão no mercado, especialmente nas instituições financeiras, a ponta final onde está pendurada toda a estrutura de crédito que faz a roda girar. Como o nome sugere, essa modalidade de contrato prevê a entrega física do café a futuro com base em projeções de produção e preço para os anos subsequentes. Esse tipo de operação, existente apenas no Brasil e na Colômbia, carrega riscos consideráveis e coloca toda a indústria sobre o fio da navalha. Hoje há um razoável grau de alavancagem, que deixa o setor à mercê do imponderável. Uma eventual repetição das condições climáticas adversas registradas no país em safras recentes pode afetar consideravelmente a capacidade de entrega do café e cumprimento do contrato, criando um efeito dominó nos balanços das tradings e, sobretudo, dos bancos.
O compliance das grandes trading companies não permite que elas trabalhem com um risco excessivo. Essas multinacionais são obrigadas a fazer operações de hedge para o risco de preço e do não recebimento do produto. Ainda assim, não deixa de ser uma potencial bomba relógio: as tradings carregam o hedge para a frente e vão lançando sucessivamente em seus balanços a entrega do café a futuro. Com isso, a ameaça maior recai sobre as instituições financeiras. Não por acaso, diante do excessivo volume de contratos em aberto no país, já circulam rumores no setor de que bancos poderão brecar o crédito a tradings.
A preocupação dos agentes do mercado cafeeiro no Brasil tem sido alimentada pelo alerta que vem da Colômbia. A modalidade dos contratos mercantis de entrega a futuro criou um rombo no setor no país vizinho. Neste momento, há algo em torno de US$ 200 milhões em acordos não honrados. Essa cifra tende a ser ainda maior. O volume em questão corresponde apenas a exportações firmadas no âmbito da Federação de Cafeicultores da Colômbia, uma espécie de “grêmio cafeeiro” com vinculações paragovernamentais. A Federação responde por aproximadamente um terço das vendas internacionais de café da Colômbia ou algo como US$ 1,2 bilhão. Significa dizer que os contratos mercantis em aberto representam cerca de 18% das vendas feitas pelos membros da instituição. Em tese, a Colômbia tem um hedge natural. Em razão da ligação da Federação com o governo, muito provavelmente o Tesouro colombiano entrará em ação para cobrir as perdas. No Brasil, esse colchão estatal não existe.
O contrato mercantil para entrega física de café a futuro é um “produto” made in Brazil. A modalidade foi copiada do mercado de petróleo. Só que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Na indústria petrolífera, a imprevisibilidade é muito menor. Cada produtor tem suas reservas quantificadas e auditadas, com a garantia de que terá óleo para entregar. Além disso, um ponto fundamental: não tem seca ou geada a dois ou três mil metros de profundidade.
Infraestrutura
Uma ponte que ficou para 2023
31/10/2022A inauguração da nova ponte entre o Brasil e o Paraguai, prometida pelo governo Bolsonaro para antes das eleições, deve ficar para 2023. Os testes com carga estão previstos apenas para o fim de novembro. Se tudo der certo, o fluxo de veículos e de pessoas só será liberado em janeiro.
Temperatura subindo
4/04/2018No Brasil, faz 45 graus à sombra. As autoridades civis estão desidratando. A meteorologia anuncia o risco de uma tempestade. Antes, porém, as temperaturas ficarão ainda mais quentes.