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Governo estuda PPP para a produção de chips no Brasil

18/04/2024
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Antes tarde do que nunca, o governo embala uma iniciativa capaz de reduzir o enorme gap tecnológico do Brasil e permitir um avanço em uma área absolutamente estratégica. A ideia que começa a ganhar corpo no Ministério da Ciência e Tecnologia é a montagem de uma PPP para viabilizar a reabertura da estatal Ceitec e a produção de chips no país, hoje praticamente residual. A parceria com um investidor privado desponta como uma das soluções para dar à empresa tudo o que ela não tem: recursos financeiros, capital humano e tecnologia.

O orçamento da Ciência e Tecnologia para a Ceitec são migalhas jogadas aos pombos: o valor previsto para este ano é de aproximadamente R$ 100 milhões. Outro desafio é repor a brutal perda de cérebros sofrida durante o governo Bolsonaro, que paralisou as atividades da Ceitec e chegou a iniciar seu processo de liquidação. A empresa perdeu mais de 90% dos seus engenheiros e projetistas, cerca de 100 profissionais de notória qualificação. Para completar, a fábrica precisa ser “resetada”. Paralisada há mais de dois anos e meio, a unidade tem um alto grau de obsolescência.

Mesmo porque a Ceitec nunca chegou perto de produzir semicondutores com elevado nível de sofisticação. Sua atuação ficou restrita à fabricação de chips para passaporte e um dispositivo para rastreamento de gado. Estudos feitos pelo grupo interministerial criado pelo governo Lula no ano passado recomendam a fabricação de chips de 350 a 180 nanômetros, de tecnologia mais avançada e maior valor de mercado.

A estatal foi concebida originalmente para produzir semicondutores de 600 a 350 nanômetros. A tecnologia de 600 nanômetros, por exemplo, atingiu seu auge nos já distantes anos 90.

Nomes de potenciais parceiros espocam aqui e ali nas conversas travadas dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia. É o caso da Huawei. O grupo chinês, não é de hoje, tem buscado uma aproximação com o governo para desenvolver projetos conjuntos na área digital. No ano passado, o próprio presidente Lula visitou o centro de inovação da companhia em Xangai.

Entre outras iniciativas, a empresa já mantém um programa para a criação de salas 100% tecnológicas na rede pública de escolas da Bahia. A Huawei teria motivações de ordem geoeconômica para se aliar ao governo brasileiro na fabricação de chips. Os chineses têm feito seguidos investimentos no setor. Nesta semana, anunciaram a construção de uma fábrica de semicondutores em Shangai, orçada em US$ 1,7 bilhões.

Faz parte do esforço da Huawei para reduzir a dependência de terceiros, sobretudo após as sanções impostas pelos Estados Unidos, restringindo o fornecimento dos chips à empresa. Outro nome citado na equipe da ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, é o da norte-americana Nvidia, uma gigante do setor. A empresa responde por mais de 80% do mercado global de chips para processamento de dados.

Assim como a Huawei, também tem feito aproximações sucessivas com o Brasil, por meio de parcerias com instituições públicas. Um supercomputador da Nvidia, batizado de Santos Dumont, atende ao Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Nesta semana, em meio a sua participação no Web Summit Rio 2024, a companhia sinalizou o interesse de instalar um data center para universidades e centros de pesquisa do país.

Em entrevista à edição de ontem do Valor Econômico, por sinal, o diretor executivo de vendas corporativas da empresa Nvidia na América Latina, Marcio Aguiar, disse que o “Brasil precisa aproveitar melhor a demanda por Inteligência Artificial”. Talvez a Nvidia tenha como ajudar.

Não seria de todo despropositada a transferência da Ceitec e do projeto de produção de chips para as Forças Armadas. Grandes potências caminham nessa direção, a começar pelos Estados Unidos. A fabricação de semicondutores é hoje uma das maiores rubricas entre os investimentos militares norte-americanos.

Em novembro de 2023, o Exército dos Estados firmou um acordo com a Intel para o desenvolvimento de chips para a área de Defesa. No mês passado, o governo Biden liberou US$ 20 bilhões em empréstimos e subsídios para a empresa aumentar a produção de semicondutores. No Brasil, ressalte-se, há uma PEC em tramitação no Congresso que propõe a destinação de uma parcela do PIB, que começaria em 1,2% e iria até 2%, para as Forças Armadas. Parte desses recursos adicionais poderiam ser destinados a projetos estratégicos de tecnologia, como a produção de chips.

O Brasil tem um notório déficit nessa área. As importações respondem por aproximadamente 90% da demanda interna por semicondutores, a um custo anual da ordem de US$ 11 bilhões. O país tem 11 empresas na cadeia de produção de chips. Porém, todas atuam apenas no backend, a etapa final da produção. É praticamente um trabalho manual, de montagem dos dispositivos. Tecnologia que é bom, quase zero.

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