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“Embrapa do hidrogênio” entra no radar de Lula

30/09/2022
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Empresas do setor de energia encaminharam ao comitê responsável pelo programa econômico de Lula uma proposta que visa acelerar a transformação do Brasil em uma potência da geração renovável. A ideia que circula entre os assessores do ex-presidente é a criação de uma espécie de “Embrapa do hidrogênio”. Ou seja: uma empresa pública da área de pesquisa dedicada ao desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de hidrogênio verde, em parceria como a iniciativa privada. Se a Embrapa surgiu em 1973, em pleno governo militar, para garantir um modelo de agricultura e pecuária “genuinamente tropical”, caberia a essa estatal criar soluções para o aproveitamento das notórias potencialidades do Brasil para o setor.   

Um exemplo: hoje existem pesquisas no país para a produção de hidrogênio verde a partir da vinhaça, um resíduo proveniente do etanol. Essa “escória” sucroalcooleira é puro ouro para o setor energético: sua composição tem 95% de água. Basicamente, o hidrogênio verde é obtido a partir da quebra das moléculas da água por meio de um processo chamado eletrólise. A eletricidade necessária para essa transformação vem de fontes renováveis, como solar e eólica. O Brasil tem sol, tem vento e tem muita cana de açúcar. A cada litro de etanol – o país produz 28 bilhões de litros do biocombustível por ano – são obtidos dez litros de vinhaça. Os estudos em torno dessa técnica vêm sendo conduzidos pela USP e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), financiado pela Fapesp e pela Shell. A existência de uma “Embrapa do hidrogênio” teria o potencial de acelerar o desenvolvimento dessa e eventualmente de outras tecnologias.  

Até o momento, Lula tem sido razoavelmente econômico nas menções aos seus planos para a área de energia. Algumas das poucas citações ao tema têm sido feitas por Mauricio Tolmasquim, que ocupou cargos no Ministério de Minas e Energia no governo do petista e é um de seus principais assessores para o setor. Sem entrar em detalhes, Tolmasquim já afirmou que os planos de Lula passam pela construção de hidrelétricas de menor porte e usinas solares e eólicas. A proposta de criação da Embrapa do “hidrogênio verde” daria uma voltagem bem maior ao plano de governo do petista. Até porque os investimentos nessa matriz energética do futuro, fundamental para a transição para uma economia de baixo carbono, ainda são incipientes perto do potencial que se enxerga para o Brasil.  

Ainda assim, alguns projetos de porte já estão no pipeline. A Unigel vai investir cerca de US$ 120 milhões em uma planta na cidade de Camaçari (BA). A AES assinou um pré-contrato com o Porto de Pecém (CE) para instalar no local um hub de produção de hidrogênio verde com capacidade de até 2 GW. A australiana Fortescue também assinou um memorando de entendimentos com o governo do Ceará para investir US$ 6 bilhões em uma usina no mesmo complexo portuário. Há ainda a expectativa pela vinda de grandes fundos internacionais ESG. É o caso do VH Global Sustainable Energy Oportunities. O RR apurou que os ingleses querem se associar a projetos de hidrogênio verde no país. O VH Global, por sinal, já deu um primeiro passo em energia renovável no país: em parceria com a Paraty Energia, comprou a hidrelétrica Mascarenhas, até então pertencente à EDP.  

#Energia #Lula #Ministério de Minas e Energia #Unigel

Nem tudo é o que parece ser no pedido de IPO da Unigel

8/09/2021
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O pedido de IPO da Unigel seria apenas o primeiro ato da peça. Fontes próximas à família Slezynger já enxergam a oferta de ações como o possível início do fim, ou seja, um rito de passagem para a posterior venda do controle da petroquímica. Isso se o IPO for mesmo realizado – no setor, há dúvidas sobre a sua concretização. Ainda que ocorra, a operação controversa serviria como uma isca, permitindo ao clã engordar a companhia e melhorar seu valuation até a saída em definitivo do capital.

Há um quê de Rei Lear nessa trama. Na realidade, um Rei Lear reverso. Enquanto Henri Slezynger estiver dando as cartas, os ativos não serão distribuídos entre os príncipes herdeiros. Permanecerão sob o seu controle. Em algum momento futuro, porém, os três filhos deverão se descartar da empresa. Pelo menos esse é o projeto hoje, segundo fontes do setor petroquímico. Esse seria o desejo, principalmente, de Marc Slezynger, o filho mais envolvido com a gestão da Unigel, e também de Leo Slezynger, que tem uma participação menor na administração dos negócios.

Marc já teria confidenciado a fontes do RR que gostaria de deixar a empresa. Consultada sobre a hipótese de venda do controle e a disposição dos herdeiros de não seguir à frente do negócio, a Unigel informou que “está em processo de IPO e, portanto, não pode se manifestar em relação a temas que tratem direta ou indiretamente da abertura de capital”. O possível epílogo da saga dos Slezynger na petroquímica não está relacionado a questões de competência ou da performance administrativa dos herdeiros. Está mais na categoria do projeto de vida. Até porque a Unigel é um negócio difícil de conduzir.

A empresa foi construída à imagem e semelhança de Henri Slezynger. Seu estilo e suas idiossincrasias estão encrustadas na governança. Este, inclusive, é um dificultador para a própria venda da Unigel, assim como questões de ordem operacional. A empresa é vista por analistas como uma colcha de retalhos de negócios com baixa sinergia e escala reduzida. Não há racionalidade industrial: as diversas operações não conversam uma com a outra. Ao mesmo tempo, a companhia está no meio do ciclo da cadeia da indústria petroquimica, o que, na avaliação de analistas, a deixaria em uma posição de fragilidade. Os pontos positivos ficam por conta da hegemonia na produção de acrílicos no Brasil e do razoável crescimento dos negócios internacionais, notadamente no México. Desde 2013, os controladores da Unigel buscam um associação, parceria ou até mesmo a negociação de ativos separadamente. A venda da empresa em bloco, nem pensar. Henri Slezynger está lá, firme e forte.

#Henri Slezynger #Unigel

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