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RR “invade” Ministério da Economia de Portugal

8/11/2021
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Nas cercanias da estação ferroviária do Rossio, uma das joias arquitetônicas lisboetas, mais precisamente no início da Rua da Prata, se situa em um prédio modesto o gabinete de estudos estratégicos do Ministério da Economia de Portugal. O RR atravessou a porta de vidro cinza e se apresentou como uma newsletter de economia e negócios brasileira. “Gostaríamos de trocar um dedinho de prosa com um economista do gabinete”. Aguardou pouco para ser levado a um técnico da casa, Manoel Bonfim.

O bate bola teve início com a indagação sobre a evolução da parceria entre Brasil e Portugal. Bonfim não se fez de rogado: “Não vamos bem no comércio exterior (os portugueses importam do Brasil menos de 3% das suas compras externas, e somente 0,8% das exportações brasileiras são dirigidas a Portugal), mas melhoramos a nossa posição nos investimentos. Hoje há cerca de 600 empresas portuguesas no Brasil. Nós temos nos preocupados em atrair as firmas brasileiras. Temos um programa que subsidia até 70% da internacionalização das empresas.

Mas a maior geração de riqueza proporcionada pelos brasileiros vem do seu ingresso maciço para morar em Portugal através do Visa Gold (visto permanente que funciona como um passaporte para toda a União Europeia). De Lisboa, seguindo para Cascais e Cintra, onde se encontram as quintas mais caras de Portugal, os brasileiros são os maiores donos de imóveis. Os ricos do seu país também compram terrenos e casas velhas para refitá-las e revendê-las. Os brasileiros residentes já representam mais de 5% da população. Quando se trata do Visa Gold, o Brasil somente se encontra atrás da China.

Os brasileiros vêm buscar colocação no nosso país.” Pudera! São 23 mil vagas de empregos sem candidatos em Portugal. O RR perguntou, então, o que o Ministério da Economia lusitano pensa das notícias que chegam sobre a política econômica do Brasil. Bonfim matutou por alguns segundos, como se estivesse pensando com cuidado suas palavras. “Nos preocupa muito. Parece-nos que o Brasil toma muitas decisões ao mesmo tempo e não consegue cumprir nenhuma delas. O ministro Paulo Guedes é um homem honrado e um economista preparado, mas, cá para nós, parece meio perdido.

O país cresce pouco, tem um desemprego alto e agora tem de volta a inflação. E o presidente tem atitudes de difícil compreensão. É aflitivo ver o Brasil assim. É uma pena”. O RR acrescentou que uma parte do problema é o fato do governo brasileiro não acreditar em planejamento. E perguntou a Bonfim como o Ministério da Economia português trata a questão. A resposta veio com o chiado típico da lusofonia local: “Meu senhor, me diga se viu bem o nome deste departamento. Somos um gabinete de estudos estratégicos. Planejamos Portugal para mais de 30 anos”. A janela entreaberta da sala deixava entrar um vento frio, sibilante, que vinha das bandas do Rio Tejo. O fado, com sua tristeza visceral, bem poderia ser a trilha sonora daquele momento. Pena do Brasil.

#Manoel Bonfim #Ministério da Economia #Visa Gold

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