Quando Simonsen e a esquerda não estavam ausentes

  • 24/10/2017
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Se o professor Mário Henrique Simonsen seguisse hoje entre nós, estaria como um Beckett da economia-política procurando a esquerda para debates. O ex-ministro sempre perfil ou entre os economistas de direita que gostava de terçar floretes com os socialistas esclarecidos. Verdade seja dita que Simonsen não era tão de direita assim. Topava controle de preços, estatização e subsídio, no melhor estilo Deng Xiaoping: “Não interessa a cor do gato se o inimigo é o rato”.

Ele convidava os antagonistas a irem à Escola de Pós-Graduação (EPGE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) para participar de uma disputa elegante em torno das ideias. São rios de histórias. Uma das vezes, convidou o ex-ministro Celso Furtado para uma palestra aos seus alunos. O economista e seu fiel escudeiro, Moyses Glatt, galhofeiro por natureza, começou a fazer gozações e provocar Furtado em voz alta.

Simonsen virou-se para Glatt e fez um psiu que retumbou por toda a Praia de Botafogo, onde fica a sede da FGV. “Respeitem o professor”, ordenou. Mas os quindins de Simonsen realmente era a portuguesa Maria da Conceição Tavares, que, inclusive, por um breve tempo, chegou a dar aula na EPGE. O ex-ministro e a professora se atracavam na lousa com o giz na mão em intermináveis derivadas matemáticas. Simonsen ria dos destemperos de Conceição e avisava volta e meia: “Maria, o quadro negro acabou”. Simonsen foi-se, Furtado também, Conceição recolheu-se com problemas de coluna, e quase todos nós não andamos muito bem. A esquerda acadêmica, ausente, parece ter ido hibernar junto com as suas melhores memórias.

#FGV

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