“Presidente Mourão” é um risco a mais para Jair Bolsonaro

  • 12/12/2018
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Seja qual for a análise de risco, Jair Bolsonaro tem um prazo curto para responder com vigor às denúncias que pesam sobre ele e seu filho Flavio Bolsonaro. Se o assunto não for enfrentado com a devida veemência no breve período pré-natalino, quando a cobrança certamente irá crescer, Bolsonaro terminará deixando o tema quicando na frente do presidente em exercício, General Hamilton Mourão. O General, como se sabe, assumirá o cargo durante o afastamento do presidente para a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia – a princípio, o procedimento está previsto para o dia 19 de janeiro, mas poderá ser adiado para a semana seguinte caso Bolsonaro confirme sua ida ao Fórum de Davos, o que também significará a interinidade de Mourão na Presidência.

Por mais efêmera que seja, a abertura da janela Mourão logo no raiar do governo não é garantia de tranquilidade para Bolsonaro. Pelo contrário. O vice-presidente é um paiol ambulante. Mourão tem pautado sua conduta por surpreender e, quando não, constranger o governo eleito com declarações fortes e polêmicas, algumas delas merecedoras do contraditório de Bolsonaro. O General já deu uma palinha sobre o assunto: no fim de semana, declarou que o ex -assessor de Flávio, investigado por movimentações financeiras suspeitas no valor de R$ 1,2 milhão, “precisa dizer de onde saiu o dinheiro”.

Defendeu ainda que o governo dê explicações à sociedade, “senão fica parecendo que está escondendo algo”. É provável até que Jair e Flavio Bolsonaro tenha um tríplice alívio entre a penúltima semana de dezembro e a primeira de janeiro, devido à sequência do Natal, Ano Novo e a própria posse. Salvo o surgimento de alguma nova informação de maior impacto, a tendência é um arrefecimento momentâneo do noticiário sobre o caso. No entanto, será apenas um período de armistício imprensado entre dias de forte cobrança. O presidente eleito terá pouco mais de dez dias até o Natal para deixar de lado a estranha tibieza – atípica tratando-se do clã Bolsonaro –, manifestar-se de forma firme sobre as denúncias e evitar que o tema ganhe corpo e volte com força ainda maior logo no início do governo.

Até porque, ele próprio já assistiu a este tipo de filme. Histórias como essa, sabe-se como começam, mas nunca o seu fim. O Fiat Elba e o triplex que o digam. O “governo Mourão” traz a reboque outro fator de risco: seu tempo de duração é uma incógnita. A rigor, a reversão da colostomia a que Bolsonaro será submetido é considerada uma intervenção razoavelmente simples. O processo consiste na sutura do intestino grosso, com a reconstituição do trânsito no órgão. O bom estado do paciente ajuda: ao longo da última semana, a inflamação do abdômen que impediu a realização do procedimento em dezembro praticamente desapareceu.

Tudo correndo como se espera, o tempo de internação é estimado em quatro dias. Neste caso, ao receber alta, Bolsonaro já poderá retornar a Brasília e reassumir a Presidência. Que assim seja! No entanto, intercorrências clínicas razoavelmente comuns, como íleo paralítico (interrupção momentânea do trânsito intestinal), vômitos, diarreia e febre, podem elevar o período de permanência do presidente no hospital para até 12 dias, o tempo médio de internação para pacientes que passam por este procedimento. Médicos especialistas consultados pelo RR enfatizam que, não obstante ser um procedimento de baixa complexidade, a reconstituição do trânsito intestinal tem um risco superior ao da colostomia por si só. Há casos de pacientes que só recebem alta cerca de 40 dias após a cirurgia. O RR, ressalte-se, apenas cumpre o dever de estressar os cenários de risco de maior probabilidade. No caso da saúde do Capitão, tempo é Mourão. Mas as condições clínicas de Bolsonaro apontam para um rápido restabelecimento e uma curtíssima duração do “mandato” do General.

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