Planalto enxerga luzes até no impeachment

  • 8/12/2015
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 O governo não trabalha com outra hipótese senão o êxito contra o impeachment. E considera que ele representará uma dupla vitória: não só permitirá que Dilma Rousseff continue governando, como criará condições para que ela aprume seu mandato. Na visão do Planalto, trata-se de uma bala de prata com duas direções: atinge os golpistas de frente e, pelos flancos, a inércia administrativa que tem caracterizado sua gestão. Não à toa, Lula tem dito que “Dilma precisa correr e ganhar o processo, pois vencerá duas vezes: conquistando a batalha propriamente dita e ressuscitando seu mandato”. É bola ou búlica. O governo precisa colocar velocidade no processo de julgamento do impeachment, aumentar seu apoio, impor seus argumentos e apresentar voando um fato novo capaz de mudar a expectativa depressiva que tomou conta da Nação. É difícil, sem dúvida. O quarteto Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, Edinho Silva e José Eduardo Cardozo foi designado para comandar as principais frentes de ação: aglutinar a base aliada, coordenar a tropa de advogados e tourear a mídia. Coube a Wagner uma missão adicional: a articulação da “volta por cima”, uma espécie de codinome para o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) versão governo Dilma.  Os ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Armando Monteiro estariam debruçados sobre essa peça de convencimento nacional: um colar amplo de iniciativas e projetos capazes de injetar otimismo nas expectativas. Os mosqueteiros do Planalto têm motivado a presidente. Se há algo de que Dilma nunca lançou mão, apesar dos milhões de aconselhamentos, é a apresentação de um plano integrado de desenvolvimento. Um saco de balas, como diz um dos ministros. Até porque a palavra “desenvolvimento” se descolou do governo. A ideia é colocar o ajuste fiscal de Joaquim Levy como função meio e não fim. As medidas de correção do desarranjo das contas públicas seriam embaladas como pré-condição para uma saraivada de projetos, todos muito bem delineados. O ajuste fiscal seria aprofundado para pressionar a queda dos juros. Na linha do slogan “a fome tem pressa”, do saudoso Betinho, o gancho seria “o crescimento tem urgência”. O “PNDD” (Plano Nacional de Desenvolvimento da Dilma) seria uma mistura de JK e Geisel, com um toque do social de Lula.  O governo convocaria escritórios de advocacia e consultorias para reforçar a credibilidade e dar agilidade na construção de projetos de engenharia básica e montagem do aparato regulatório. Levy já é useiro e vezeiro nessa prática, contratando advogados de renome para aconselhamento e parecer – vide a Lei do Repatriamento. As ideias, observando-as como uma pintura impressionista, parecem boas. Mas partem de uma premissa não necessariamente verdadeira: que bons planos trazem credibilidade. Não raras vezes, é a desconfiança que aniquila com os bons planos. O processo do impeachment, por uma via oblíqua do destino, pode ser a forma de Dilma voltar a ser crível.

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