O dia em que o Banco Central virou Geni

  • 22/01/2016
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 O Banco Central só é autônomo quando joga a taxa de juros para cima ou faz o que o mercado quer. O comentário de véspera de Alexandre Tombini sobre as projeções do FMI foi tido como heresia. Ele sinalizou a manutenção das taxas, atirando uma boia salva vidas para que todos se socorressem. Talvez fosse melhor que a autoridade monetária fizesse como em muitas outras gestões e apostasse contra o mercado. Mesmo salvando a pele dos rentistas, levou pedrada. O BC foi também chamado de ginasiano e mentecapto. Ora, não é o departamento econômico do Banco Central que é incompetente porque não acompanhou as projeções do FMI. O Fundo, como se sabe, já errou previsões a dar com pau, e até pode fracassar nessas também. Mas o fato gerador de expectativas – números muito ruins e, afinal, o FMI tem lá sua importância para os formadores de preço – forçou o BC a se expor antes do Copom. Foi essa partitura de desarranjo econômico que levou a instituição a alterar os sinais anteriores dados através do seu relatório de inflação e da carta ao ministro da Fazenda.  Mau que o comunicado tenha sido um dia antes da reunião do anúncio da decisão do Copom. Mas não tinha jeito: foi nessa data que o Fundo divulgou seu relatório, e é nessa data que o comentário teria de ser feito. Noves fora o FMI, o BC considerou que elevar a taxa de juros nesse ambiente recessivo seria uma roleta russa. Com a política fiscal ainda frouxa, câmbio em alta e o componente inercial que segura a queda da inflação, a autoridade monetária corria o seguinte risco: jogar os juros em 14,75% e o PIB cair 3,8% neste ano; depois, na reunião do Copom, em março, subir para 15,25%, e o PIB cair mais de 4%. E neca da inflação descer. Ocorre que a Selic atual, mesmo mantida, ainda aprofundará a recessão. Portanto, há uma enorme probabilidade de os preços se retraírem com esses juros que estão aí, ou – por que não? – ainda menores. A banda de música do Focus sabe disso. Só fez chororô porque foi contrariada. E a pedra já tinha sido cantada pelo RR, nas edições de 5 e 12 de janeiro. Não custa lembrar que, no dia 6 de janeiro, o jornal Valor Econômico, porta voz qualificado do “mercado”, publicou em larga manchete de primeira página que o BC poderia dar um cavalo de pau nos juros, aumentando a Selic em somente 0,25 ponto percentual ou estacionando a taxa. A inflação, como diria Friedman, é, sem dúvida, um problema monetário. Mas os juros são que nem a saúva: destroem tudo. O BC agiu de forma gradualista e oportuna. Ponto para Tombini.  Obs: O RR acha o cúmulo do provincianismo uns homens adultos, de barba e terno e gravata, se referindo às decisões do BC como Hawkish ou Dovish, como se estivessem brincando de Wall Street.

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