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Vitórias e desafios de Haddad

  • 22/03/2024
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Como antecipado no Destaques, a Fazenda estabeleceu um bloqueio de R$ 2,9 bilhões, sem contingenciamento, após a divulgação do relatório bimestral do Tesouro, o que impulsionará ainda mais a “estrela” de Haddad.

O resultado político mais importante é que, antes, o ministro da Fazenda exortava o Congresso como responsável por decidir os rumos fiscais do país, como forma de pressão pela aprovação de suas medidas, mas o fazia sem comprovação de que surtiriam efeito.

Agora, em uma situação até o momento incerta em um Parlamento que parece já operar em ritmo eleitoral, o ministro terá a “prova”. Mais: mesmo que sua política não seja a que mais agrade ao mercado, ela se mostra crível para atingir o equilíbrio fiscal. E certamente melhor do que a defesa de gastos “ilimitados” e, pior, sem se importar com o que os lastreará, que faz parte do PT.

Da mesma forma, o ministro ganhará pontos junto a uma mídia que já o vê com bons olhos. Ambos os fatores podem até não se refletir em popularidade para Lula, mas terão impacto, sim, junto a parlamentares – e aos presidentes da Câmara e do Senado – que se querem bem vistos pelos agentes econômicos.

Internamente, trata-se de mais uma etapa na consolidação do “superministro”, por falta de qualquer outro que consiga impor uma agenda positiva – ou negociar com o Congresso que seja. Com uma escudeira na busca seja por brechas tributárias seja (especialmente) por brechas para cortar gastos sem enfurecer a esquerda: a ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Vale salientar outro ponto: ao garantir, até o momento, um bloqueio muito abaixo do previsto e, consequentemente, abrir a porta para os investimentos que são a obsessão de Lula, a Fazenda mantém seu prestígio junto ao presidente e ofusca seus adversários no PT e na base aliada.

Não apenas por tornar mais difícil que se manifestem, como por impulsionar seus aliados dentro do partido que, hoje, incluem nomes de peso como o ex-ministro José Dirceu e seu filho, Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara.

O maior desafio para Haddad é que as vitórias que sustentam o resultado bimestral – e ampliam a credibilidade de suas “promessas” fiscais -, ainda que mantenham efeitos ao longo do ano, estão no retrovisor e não serão suficientes. O ministro precisa continuar a avançar sua agenda em um ano imprevisível, do ponto de vista político.

E, mesmo fortalecido, diante de cobranças que aumentarão, se não houver repique na popularidade de Lula, particularmente por medidas de efeito imediato (o que aumenta as chances de heterodoxia, com a anuência do próprio Congresso), como as voltadas para baixar o preço dos alimentos, terma tratado no RR de hoje.

Indicadores

Saem na segunda feira o IPC-S 3a quadrissemana de março, bem como, para o mesmo mês, o Índice Nacional de Custos da Construção e a Sondagem da Construção, todos da FGV.

#Fernando Haddad

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