Análise
Uma segunda-feira de alto risco para o governo Lula
A comunicação do cancelamento da viagem de Fernando Haddad à Europa pode ter sido uma estratégia de mestre ou um tiro de canhão no pé. O próprio governo traçou essa linha tênue ao vincular a permanência de Haddad no Brasil a um pedido do presidente Lula, conforme informou a assessoria do Ministério da Fazenda. A partir dessa associação direta, tudo dependerá do que ocorrer nas próximas horas. Se o Haddad anunciar ainda hoje um pacote de corte de gastos – conforme antecipou há pouco o colunista Lauro Jardim, de O Globo -, toda a narrativa parecerá ter sido milimetricamente calculada. Não bastava dizer que o ministro não viajaria. Para interferir nas expectativas do mercado logo na manhã da segunda-feira, era necessário enfatizar que Haddad não se ausentou do país por determinação do próprio Lula, de forma a criar a percepção de que o governo não adiaria mais a divulgação das medidas. Ou seja: o ajuste fiscal é para ontem. Os agentes financeiros, ao que tudo indica, entenderam o recado. Ou melhor: entenderam que o recado só pode ser esse. O câmbio e os juros futuros operam em queda desde o início da manhã. No momento, o dólar à vista recua 1,76% em relação à sexta-feira; por sua vez, a taxa do contrato DI com vencimento de janeiro de 2026 está em 12,92%, abaixo do 13,09% no fechamento de sexta.
No entanto, a distância entre a consagração e o abismo é milimétrica. Pouco importa se a comunicação da Fazenda foi de caso pensado ou não. Esse é um jogo de percepções, e, como tal, determinado menos pelo que se diz e mais como se ouve. Depois de todo o frenesi causado desde o fim de semana e de atribuir o cancelamento da viagem de Haddad a um “pedido” do próprio Lula (Getulio Vargas teria dito, certa vez, que presidente da República “não consulta, manda”), se o governo não colocar um pacote de medidas sobre a mesa ainda hoje, será mais uma bola fora. Mais uma vez, prevalecerá a leitura de que o governo bate cabeça, de que não há consenso sobre que gastos cortar, não obstante a notória sintonia entre Haddad e Simone Tebet, e de que o ajuste fiscal tem seu maior adversário no Palácio do Planalto, sentado na cadeira de presidente.
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