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Política externa
Por maior que seja o prestígio de Celso Amorim junto a Lula, sua presença no Palácio do Planalto está longe de eclipsar a figura do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Indicadores ajudam a desconstruir a percepção de que Vieira seria uma espécie de “chanceler do B”. Mas paremos por aí. Amorim é quem fala no ouvido no presidente, escreve seus discursos e o acalma com seu jeito tranquilo de ser. Mas, apesar da maior intimidade e confiança, há uma divisão de tarefas respeitada pelos dois diplomatas. O ministro carrega o piano do Itamaraty. Não é o “conselheiro de Lula”, mas fala pela chancelaria com conhecimento de causa e respeito da casa. E não deixa o presidente ficar fora do seu raio de atuação. Vieira é o nome da diplomacia brasileira mais indexado ao presidente da República, como mostra levantamento exclusivo realizado pelo RR junto a 210 mil veículos de todo o país. Desde o início do governo, Mauro Vieira é citado junto a Lula em 46.400 registros, contra 29.011 de Amorim. Trata-se de uma diferença de 58% em favor de Vieira.
Nas internas, a influência de Amorim é disparadamente maior. Seu cargo, formalmente, não fica restrito à área externa. Ele é um “assessor para qualquer coisa”, como se diz no Planalto. Portanto, não há comparação de proximidade com Lula: fora Fernando Haddad e Janja, Amorim ganha de todos. A duplicidade na área diplomática atende os objetivos do presidente de fazer o Brasil estar em todos os lugares nos quais haja uma discussão internacional relevante. Há missões de Estado que exigem quase invisibilidade, boa parte delas entregue a Amorim. Outras são típicas do chanceler. Elas são exercidas por Vieira. O ministro das Relações Exteriores pontifica também o noticiário sobre os temas mais sensíveis na área de política externa neste momento. Desde o início do confronto, Vieira soma 2.986 menções junto ao presidente Lula quando o assunto é o conflito entre Israel e Hamas – são cerca de 1,4 mil citações a mais do que Celso Amorim. Parte expressiva do noticiário se refere ao papel do Brasil na presidência provisória do Conselho de Segurança da ONU.
Em relação ao G-20, do qual o Brasil é o atual presidente, a pesquisa também referenda o status de Mauro Vieira como nome mais representativo da diplomacia. São 4.445 referências ligadas ao tema, contra 2.469 de Amorim. Deve-se ressaltar também a exposição do ministro das Relações Exteriores vinculadas aos dois maiores parceiros comerciais do Brasil. Mauro Vieira desponta ao lado de Lula, respectivamente, em 16.810 inserções ligadas aos Estados Unidos e 17.011 registros com assuntos sobre a China. Mesmo assim, em ambas, Celso Amorim surge com aproximadamente 12 mil menções. Muitas delas, provavelmente por estar presente ao lado de Lula.
Entre os temas avaliados na pesquisa, há uma única pauta que aparece mais vinculada a Celso Amorim: a guerra entre Rússia e Ucrânia. São 11.463 citações ao assessor especial de Lula vinculadas ao confronto entre os dois países, contra 10.342 menções a Mauro Vieira. À época, na divisão de tarefas, coube ao assessor especial representar o Brasil nas conversações com Putin sobre a guerra com a Ucrânia. A tabelinha funciona. Existem poucos setores mais harmônicos no governo do que o exercido pelo ministro bifronte, metade Celso Amorim, metade Mauro Vieira.
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