A diatribe do presidente Donald Trump ao abrir uma guerra comercial praticamente contra o mundo pode ser interpretada sob vários ângulos: protecionismo, fortalecimento da extrema-direita, divisão geopolítica, intervenção na soberania de outros países, forçar com o big stick novas alianças potenciais, fortalecer os laços com antigos aliados etc. Cada um enxerga como quer. Mas talvez o motivo principal — ou um deles — esteja na aurora do MAGA (Make America Great Again), quando Trump justificou que a política tarifária do comércio exterior seria usada para atrair de volta empresas americanas que tinham transferido suas linhas de produção para outros países, com menor custo de manufatura. Pode também ter sido um blefe. Começar devagarinho até chegar à bagunça criada sob sua regência absoluta.
Pois bem, com o retorno das operações fabris e, ato contínuo, a reconcentração das exportações sendo originadas no próprio país, as sobretaxas seriam reduzidas ou até mesmo extintas sobre essas empresas. Passado um tempo desse anúncio, o presidente norte-americano escalou a barreira para as nações e não mais as empresas, não obstante continuar valendo, ainda que obscurecida pelos fatos gritantes, a primeira das suas exigências: empresas norte-americanas cujas plantas de fabricação voltem ao país não só serão isentas das taxas megalômanas como também incentivadas. O mesmo vale para companhias de outras nacionalidades que se instalarem na terra do Tio Sam. Elas receberiam o habeas corpus em relação à chantagem tarifária. Esse último quesito, aos poucos, foi sendo diluído pela extensão do problema criado pelo presidente dos EUA, já que era uma condição tímida para o enorme ego de Trump. Além do mais, o custo de transferência de unidades fabris inteiras não é nada desprezível, para não dizer que é praticamente inviável. De qualquer forma, existem, segundo a Apex, mais de 500 empresas brasileiras atuando nos EUA. Em sua maioria, são empresas de serviços, escritórios comerciais e congêneres que não se enquadram no waiver das sobretaxas.
Mas existe também uma minoria de multinacionais brasileiras que têm robustas unidades de produção na América. São algumas delas a JBS (quase 60% da produção da companhia está nos Estados Unidos), Weg, Tupy, Stefanini, Metalfrio, CZM, Margrig, BRF, DMS Logistics. Esses empresários têm discutido, longe dos holofotes, uma proposta de negociação sobre a isenção das sobretaxas em casos de joint ventures com empresas norte-americanas, além do alívio no estupro tarifário em caso do aumento da produção local das fábricas já instaladas. Uma outra demanda é liberar das sobretaxas as companhias que exportam componentes para montagem do produto final. Esses equipamentos teriam passe tarifário livres da sobretaxação. Digamos que brechas podem até existir e serem usufruídas por meia dúzia de empresas, mas é um pingo no oceano dos malefícios causados por uma sobretaxa geral sobre o maior contingente das exportações globais. O início do MAGA foi quase uma política endógena, voltada para uma decisão restrita ao governo norte-americano e suas empresas fugitivas. Mas o palco era pequeno. Durou pouco até que o ego megalômano de Donald decretasse a I Guerra comercial planetária, e com ela uma versão ampliada e sem limite das primeiras medidas. Resta esperar que Donald Trump ceda, como aliás já fez algumas vezes. Ou então que um raio caia no mesmo lugar. Foi justamente no período da Guerra Fria que o Brasil mais cresceu nos últimos 100 anos.