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Tropeços do passado e fator Trump levam Brasil a adotar cautela nas relações com a China

  • 13/12/2024
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Há uma mudança de postura do governo brasileiro no que diz respeito à comunicação sobre parcerias bilaterais com a China. Esse comportamento mais conservador já pode ser observado por ocasião do recente anúncio dos 37 acordos de cooperação firmados pelos dois países, durante a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil. Após discussões envolvendo o Palácio do Planalto e o Itamaraty, o governo optou por adotar um tom cauteloso.

Limitou-se à divulgação do escopo dos atos assinados, sem se comprometer com números absolutos. O embaixador Celso Amorim, assessor direto do presidente Lula para a área de relações internacionais, é apontado como uma voz determinante para a posição mais contida e protocolar. A principal preocupação é repetir experiências traumáticas das gestões petistas em relação à China, marcadas por muitos fogos de artifício, polpudas cifras propaladas e, na prática, pouco resultado efetivo.

O episódio mais constrangedor foi protagonizado por Dilma Rousseff. Em 2015, por ocasião da vinda ao Brasil do então primeiro-ministro do país asiático, Li Keqiang, Dilma e seus assessores trataram de alardear a criação de um fundo de US$ 50 bilhões com recursos inteiramente provindos da China. A administração caberia à Caixa Econômica, e os recursos seriam destinados ao setor de infraestrutura.

Não foi só. Dilma anunciou a montagem de um segundo fundo, de US$ 20 bilhões, desta vez com capital chinês e brasileiro, para investimentos em setores como siderurgia, cimento e vidro. Nos dois casos, não se tem notícia de um centavo que tenha pingado no Brasil.

O próprio governo Lula já caiu nessa armadilha do factoide bilateral. Em abril de 2023, durante visita do presidente a Pequim, o Ministério da Fazenda anunciou a assinatura de acordos que trariam para o Brasil R$ 50 bilhões em investimentos. Na ocasião, nem a Pasta e muito menos o Palácio do Planalto detalharam como e para o que os recursos seriam destinados.

Nem na ocasião nem depois. Se algum dinheiro entrou, faltou disclosure. Em junho deste ano, mais cifras caíram do céu. Durante a viagem a Pequim de uma comitiva de ministros chefiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o governo festejou investimentos chineses de R$ 24,6 bilhões. Mais uma vez, sobraram papel picado e purpurina e faltaram pormenores, cronogramas, lista dos projetos contemplados etc.

Segundo fonte do Itamaraty, há ainda um outro motivo para a contenção do governo ao anunciar os recentes acordos com a China. Este é um momento repleto de sensibilidades no campo geoeconômico. Os Estados Unidos estão às portas de uma mudança de governo, com o retorno de um presidente sabidamente sinofóbico, como Donald Trump.

Afagar o maior parceiro comercial brasileiro, a China, é mais do que recomendável, desde que não soe como uma desfeita ao segundo maior parceiro comercial, os Estados Unidos. Foi a mesma lógica que levou o governo brasileiro a uma decisão diplomática de relevo: não aderir formalmente à chamada Nova Rota da Seda.

#China #Lula #Ministério da Fazenda

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