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Tensão do mercado às vésperas do Copom está exageradamente “inflacionada”

  • 18/06/2024
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A reunião do Copom, hoje e amanhã, terá como som de fundo o vozerio do mercado em favor da interrupção do ciclo de queda da Selic. A percepção, no entanto, é que os agentes financeiros estão contaminados por um estado de aflição exagerado. Além do frenesi com o resultado primário – que, conforme o RR já disse, se sair da meta, será por poucas casas decimais -, o gatilho da vez é o receio de um repique inflacionário.

Um temor que parecer ter um componente psicológico maior do que os fundamentos. De janeiro até o momento, a projeção do Boletim Focus para o IPCA jamais ultrapassou o intervalo de tolerância da meta fixado para este ano, de 4,5%. Na edição mais recente, divulgada ontem, em meio ao pessimismo que assola o mercado, a estimativa é de um índice de 3,96% neste ano. Nas últimas quatro semanas, já com todo o nervosismo provocado pela catástrofe do Rio Grande do Sul e seu potencial de pressão sobre os preços, a previsão do Focus para o IPCA deste ano subiu apenas 0,16 ponto percentual. E as instituições financeiras estão longe de poder evocar para si a prerrogativa da infalibilidade quando o assunto são projeções econômicas.

A primeira edição do Boletim Focus de 2023,  por exemplo, projetava um crescimento do PIB de 0,78%. O resultado foi “apenas” 2,9%. As projeções para o IPCA também já foram motivo de picos e vales, dependendo do humor das instituições financeiras. O dado curioso é que na grande maioria das vezes, o coeficiente de dispersão é mínimo. É como se todos os agentes do mercado, os disseminadores das intituladas expectativas racionais, pensassem de forma igual naquele momento.

Sempre haverá a alegação de que o mercado trabalha estritamente com o centro da meta, de 3%, sem margem de tolerância. Pode ser. Mas o descumprimento do target está longe de significar o fim do mundo. Até porque, se significasse, o mundo já teria sido “extinto” diversas vezes. Desde que o sistema foi implantado pelo Banco Central, em 1999, ou seja, em 25 anos, a inflação rompeu o intervalo de tolerância em sete anos – 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022. Nesse quarto de século em que o inflation target está em vigor, o centro da meta somente foi atingido seis vezes, três delas nos governos Lula. Em alguns casos, o teto não foi furado; foi demolido.

Em 2002, por exemplo, último ano de mandato de FHC, o IPCA bateu em 12,53%, sete pontos acima do limite máximo de 5,5%. Em 2015, primeiro e último ano completo do Dilma II, a inflação chegou a 10,67%, para um índice de tolerância de 6,5%.

Em relação a 2024, a Fazenda e o Banco Central ainda teriam uma carta-trunfo para usar, se necessário: o expurgo da catástrofe gaúcha do IPCA – conforme o RR noticiou ontem. Mas, a não ser que as chuvas do Sul atinjam a autoridade monetária, é uma carta na manga que vai continuar na manga. Seria mais fácil Roberto Campos Neto deixar o BC antes do fim do seu mandato.

#Copom #IPCA #Lula

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