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Suspeições contra ex-diretores nem sequer arranham credibilidade do Itaú

  • 11/12/2024
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O Itaú Unibanco entrou em temporada de faxina geral. Todas as áreas passíveis de qualquer vírgula de má prática estão sendo investigadas com lupa. Segundo o RR apurou, a ordem de uma limpeza superlativa veio por intermédio de uma comunicação elegante dos acionistas – as famílias Setubal, Villela e Moreira Salles -, como é do seu estilo. A mais singela manifestação dos controladores costuma ter o efeito de um raio junto à diretoria.

Imagina-se o incômodo que os recém-revelados casos envolvendo os executivos Eduardo Tracanella e Alexsandro Broedel tiveram sobre os acionistas. Poucos banqueiros no país podem ser equiparados aos controladores do Itaú em termos de estirpe e reputação inatacável. De acordo com as informações filtradas junto ao próprio Itaú, no trabalho de higienização interna deve sobrar também para a auditora independente, a PwC, sobre quem ainda respingam as ignomínias contábeis da Americanas.

A julgar pelos fatos recentes, de uso indevido do cartão corporativo para interesses pessoais e de suspeições de pagamentos irregulares, protagonizados, respectivamente, por Tracanella e Broedel, o Itaú se tornou alvo dos seus executivos de proa. Com absoluta certeza, a esmagadora maioria dos integrantes da diretoria do Itaú são profissionais de boa fé. Que se escreva essa afirmação em negrito.

Mas, contabilizado o tempo de serviços prestados ao Itaú, Tracanella, ex-chefe do marketing, e Broedel, ex-diretor financeiro, somavam 39 anos de Itaú. As malfeitorias imputadas a Broedel estariam ocorrendo desde 2019 em parceria com o icônico contador Eliseu Martins. Em tempo: na condição de egressos da CVM, ambos, por via oblíqua, acabariam manchando também a imagem da autarquia, a pretensa “xerife do mercado”, que, entre outras atribuições, existe para coibir procedimentos dessa natureza.

Os recursos que teriam sido tungados são um trocadinho ridículo para o Itaú. O problema maior é de ordem moral. E pretérita. Além da importância de uma comunicação convincente, Tracanella e Broedel tomaram decisões sobre centenas de bilhões nesse tempo todo.

Portanto, é preciso esmiuçar com detalhes o passado. Para o Itaú, melhor será se as investigações inocentarem os dois ex-executivos. Ou seja: melhor um erro de apuração do que um crime cometido bem debaixo de todos os controles.

É importante frisar que o ocorrido em nada macula o Itaú, uma referência bancária de solidez e ética nos negócios. Assim como se deve separar radicalmente o episódio do que aconteceu nas Americanas. Uma coisa não tem nada a ver com outra, ao contrário do que apregoam algumas línguas pérfidas do mercado.

O Itaú imediatamente comunicou o fato aos órgãos competentes e deu transparência ao ocorrido. O próprio banco confirmou em nota que “o desligamento de Eduardo Tracanella foi motivado única e exclusivamente pelo mau uso do cartão de crédito corporativo, sem prejuízo material à instituição”. Por sua vez, na ata da assembleia geral extraordinária do último dia 5 de dezembro a instituição relata que “conforme apurações internas finalizadas em 24 de novembro deste ano, identificou-se que o ex-administrador da Companhia, Sr. Alexsandro Broedel Lopes, agindo em violação às políticas internas e à legislação e à regulamentação aplicável, atuou em grave conflito de interesses, e em benefício próprio, no relacionamento com determinado e específico fornecedor de pareceres da Companhia a ele relacionado.”

Ou seja: uma vez identificadas as supostas irregularidades, o banco cumpriu os procedimentos conforme as exigências mais rigorosas. A lição que fica do episódio e de tantos outros recentes é que talvez esteja na hora de um “Breton Woods da contabilidade”, que permita passar a limpo as práticas de compliance, auditoria, segundas opiniões e políticas de integridade. Chegou-se a um ponto que qualquer deslize mínimo, por efeito sinérgico, fica muito feio.

#Itaú

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