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“Sindicalistas” e “liberais” acirram divisão na Petrobras

  • 14/03/2024
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Parece que a polarização nacional chegou à Petrobras. O presidente da estatal, Jean Paul Prates, tem sob sua gestão uma companhia com ranhuras como nunca antes ocorreu em sua história. Não que a estatal viva em um clima de “Fla-Flu corporativo”. O funcionalismo da empresa, na sua maioria, permanece sindicalista e estatizante. Mas uma parcela crescente, segundo a fonte do RR, se bandeou para o “lavajatismo” e o liberalismo. Essa rachadura ideológica já extrapolou o campo retórico. O ambiente de polêmicas começa a ter impacto sobre a condução e execução de projetos. E o clima de tititi nas diversas gerências e áreas de negócio somente atrapalha a produtividade da estatal.

De um lado, estão os “sindicalistas”, ala hegemônica que defende redução dos dividendos, aumento dos investimentos, diversificação dos negócios e até a interferência do governo sobre o Conselho, para garantir que a companhia seja uma fomentadora de variados segmentos da economia. Enfim, entre “gerar lucro aos acionistas” ou “servir ao Brasil” – os dois bordões que são brandidos pelos funcionários públicos mais tradicionais -, a prioridade é a segunda hipótese. Por outro lado, os “insurretos” rechaçam intervenções políticas, pregam uma governança pró-shareholders, com autonomia, e defendem que apenas projetos com economicidade comprovada devem ser levados adiante. Há, inclusive, os que concordam que uma das funções da estatal é ser uma “vaca leiteira” do resultado primário das contas públicas, assim como foi o BNDES durante todo o governo de Jair Bolsonaro. Para acentuar ainda mais as diferenças, há até mesmo um grupo simpático à privatização da Petrobras – quem diria? Os “liberais” e os “lavajatistas” convivem em uma fronteira tênue. Os primeiros parecem mesmo ter se convertido as ideias da gestão de Roberto Castello Branco na presidência da estatal. Já os “lavajatistas” misturam gestão profissional e redução da intervenção do governo. Estaria na conta do Estado o desvio de dinheiro feito em gestões do PT. Além das suas convicções mais inclinadas ao mercado, trata-se de uma fração de funcionários que enxerga na retomada de antigas políticas o risco de repetição das práticas criminosas que emporcalharam a reputação da Petrobras.

Segundo fontes ouvidas pelo RR, os dividendos têm acirrado as divergências internas. Estão no mesmo balaio da guerra de opiniões a política de preços, investimentos em refino e o retorno a setores como distribuição de combustíveis, fertilizantes e geração renovável. Já é possível verificar os efeitos do debate ideológico no dia a dia da estatal. As discordâncias teriam tornado os processos mais lentos. Projetos vêm ricocheteando por diferentes gerências, por conta de seguidos questionamentos, em uma espécie de “slow track”. O impacto sobre investimentos mais sensíveis ou polêmicos começa a ficar visível. Um exemplo: a retomada da construção da unidade de nitrogenados de Três Lagoas (MS) – a UFN3 – tem sido sucessivamente postergada, na contramão das promessas do próprio presidente Lula do retorno da Petrobras ao setor de fertilizantes. E cada vez mais e mais pareceres são anexados ao andamento de iniciativas já decididas. Para o bem ou para o mal, parece que Paulo Guedes deixou uma semente plantada do seu liberalismo radical na irredutível convicção pró-Estado da Petrobras.

Mesmo com a retenção dos dividendos extraordinários, os “sindicalistas” não poupam críticas à política de distribuição de lucros da Petrobras. O presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), Felipe Coutinho, classifica os dividendos da empresa em 2023 como “insustentavelmente altos”. Em contato com o RR, quando perguntado se a gestão de Jean Paul Prates tem conduzido a contento o plano de investimentos da Petrobras, Coutinho afirma que os valores “são muito baixos se comparados ao histórico da companhia e em relação às maiores petrolíferas estatais e privadas estrangeiras.” O presidente da Aepet é contundente na vocalização da ala “sindicalista”. Diz que até o momento a administração de Prates mantém “as principais políticas que são contrárias ao interesse nacional, ao crescimento e ao desenvolvimento do Brasil.”

#Jean Paul Prates #Petrobras

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