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Saída de Wilson Ferreira dá mais voltagem à campanha pela reestatização da Eletrobras

  • 18/08/2023
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Por uma via transversa, o Conselho da Eletrobras deu munição ao governo, que se movimenta no Supremo para ter mais poder na gestão da empresa, e, por extensão, ao discurso em defesa da sua reestatização. A abrupta saída de Wilson Ferreira Jr. da presidência alimenta a ideia de instabilidade no modelo de gestão e de uma permanente cacofonia entre o board e a diretoria executiva, decorrente do modelo “public company tupiniquim” – pulverização do capital acionário, com “pílula de veneno. Ao mesmo tempo, inverte o argumento de que uma gestão profissional e um “Conselho Independente” impedem a companhia de servir a outra finalidade ou interesses. Um personagem importante nesse enredo é Pedro Batista, sócio da 3G Radar – de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, além de outros investidores. A gestora é um dos mais influentes, se não o mais influente dos acionistas da Eletrobras, tanto que Batista foi responsável pela indicação de boa parte dos conselheiros. Era ele também um dos principais interlocutores de Ferreira junto ao board. E vice-versa. Natural, Batista tinha quase um mandato informal para ser o interlocutor oficial de Ferreira.  Era ele quem, predominantemente, levava as decisões do Conselho não aceitas por Ferreira. Para efeito do melhor julgamento da governança da companhia, o ideal a se pensar é que o Conselho tomava suas decisões por critérios estritamente técnicos, pensando sempre no retorno da Eletrobras, não obstante, em algumas vezes, os interesses do país se colidirem com os seus interesses empresariais. 

Sim, seria bom se o mundo fosse virtuoso. Ocorre que Wilson Ferreira Jr. é considerado por ranking especializados, nos últimos 20 anos, no mínimo, o mais capacitado executivo na sua área de atuação. Foi convidado para assumir o comando da companhia para ser exatamente um “gestor profissional”. Algo parecido aconteceu na Petrobras, na gestão Bolsonaro. O ex-presidente Roberto Castello Branco foi defenestrado por não cumprir as ordens do “Conselho”- leia-se o presidente Jair Bolsonaro. Ocorre que Castello não foi alçado a titular da Petrobras por qualquer clausula do estatuto de uma empresa privada que exigia uma gestão profissionalizante. Sem qualquer juízo de valor sua competência era uma premissa. Com Ferreira Jr. era uma exigência. 

O presidente da Eletrobras foi admoestado diversas vezes por não cumprir “ordens” que contrariavam a “gestão profissional” para a qual foi contratado.  Em alguns casos, com decisões incomuns, para não dizer estapafúrdias. Após contratar uma consultoria, o Conselho da Eletrobras criou 18 vice-presidências, um número exagerado que acabou impondo amarras. Talvez nem nos tempos de Eletrobras estatal Ferreira tenha se sentido tão engessado para tomar decisões. Há um ingrediente a mais nessa novela. O board da ex-estatal  foi constituído à imagem e semelhança da 3G. Trata-se de executivos que rezam no altar dos sócios de referência das Americanas. São profissionais que prezam o resultado financeiro acima de quase tudo, e as bonificações acima de tudo. No compromisso de Ferreira Jr. com o board estava a obrigação de que o resultado seria melhor do que o realizado quando o executivo tomou posse. 

Por ora, existem apenas estilhaços dessa história. Da galeria de retratos dos ex-presidentes à demissão do então vice-presidente de comercialização da Eletrobras, João Carlos Guimarães, por denúncias de supostas fraudes, já se falou de tudo um pouco. O fato é que os reais motivos para o agastamento da relação entre Wilson Ferreira Jr. e o Conselho da Eletrobras ainda não são conhecidos. A transparência, que é um dos atributos mais graves de um modelo de “public company” foi rasgado. Seja como for, o acontecimento fortalece o argumento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), impetrada por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), contra a limitação do poder de voto de 10%. Querem mais? Pois há mais. Um total de 13 parlamentares do PT, liderados pelo deputado Carlos Zarattini, entrou com denúncia na CVM contra a influência do Grupo 3G Radar no Conselho de Administração da Eletrobras. O grupo é acionista minoritário. No entanto, é acusado pelos deputados de agir para participar de forma direta no controle da governança da Eletrobras. O documento pede que, caso seja identificada a infração ou outras possíveis irregularidades,  sejam adotadas medidas cautelares, no sentido de bloquear a continuidade das ações do Conselho de Administração da Eletrobras. Fica a batata quente também nas mãos da CVM.

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