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RR Destaques – 06/02/2024

  • 6/02/2024
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Batalha aberta?

Continua  (e deve se manter por algum tempo) a escalada entre o Planalto e Arthur Lira, ainda que, por enquanto, no plano mais simbólico do que qualquer outra coisa. Surge, no entanto, um ponto que pode gerar um embate mais duro – talvez o primeiro no qual ambos os lados partam para um enfrentamento aberto de narrativas e no Parlamento: O Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos).

O que fica claro, agora, é que o programa foi um alvo central (e não lateral) de todo o movimento de Haddad para derrubar as desonerações. Trata-se de uma estratégia que, tudo indica, tem chances de colar no Senado, apesar das insatisfações na Casa, mas, na Câmara, esbarra na defesa aberta de Arthur Lira e de um grupo importante de deputados.

Cria-se então, daqui para a frente, uma contraposição:

> De um lado, a Fazenda não somente acusa o programa de representar uma perda de arrecadação muitas vezes acima do previsto (de R$ 17 bilhões frente a R$ 4 bilhões) como de servir para ações de lavagem de dinheiro;

> De outro, movimentada por Arthur Lira e reagindo na defensiva, como se o Perse fosse um a cervo institucional seu, lideranças da Câmara se levantam e vão cobrar provas do governo. Se as provas vierem, o mal-estar virá junto, sim, mas com o governo ganhando um pesado argumento. Se não vierem – ou forem contestáveis – o tom do embate vai subir.

A grande questão é se os dois lados buscam ampliar suas margens de negociação e haverá um meio termo possível a ser alcançado ou se, por outro lado, o atrito resultará em disputa no voto, com o governo buscando “ganhar” o Senado, previamente, para a sua posição (cedendo, para tanto, nas demais desonerações).

Como pano de fundo e combustível para o processo já está, a cada dia mais, o jogo pela sucessão à presidência. A briga em torno do Perse tende a indicar até onde Lira e Lula pretendem ir:

> O presidente da Câmara vai tentar “mostrar quem manda” como forma de garantir que não perderá influência, mesmo se o horizonte fora do cargo (início de 2025) inevitavelmente ameace o seu predomínio? Topará conversar com base em uma neutralidade do Planalto na disputa, somada a concessões de novos espaços de poder? Ou, ainda que dialogando, exigirá sinalizações claras de apoio ao seu “direito” de fazer seu sucessor, bem como a suas pretensões eleitorais futuras?

> O governo vai usar esse mesmo horizonte de uma nova presidência na Câmara como forma de valorizar o seu apoio (diretamente ou via cargos e emendas que ajudem Lira), insinuando a ele que, cada vez mais, um precisa do outro, em igual medida? Ou arriscará ir além, alimentando especulações de que pode “escolher” um candidato, antes que o mesmo seja “ungido” por Lira?

Nessa hipótese, o escolhido poderia ser tanto o deputado Marcos Pereira, que tem proximidade com Lula e o PT apesar de ser do Republicanos, ou um nome do PSD ou MDB. Os partidos compõe o bloco “adversário” do de Lira (que acaba de perder o PSB) e são essencialmente governistas.

Há, ainda, um terceiro vetor a ser observado: o Centrão. A questão para o grupo, já em curso, será:

> Existe a possibilidade de uma divisão, com núcleos mais distante do poder se aliando ao governo para ganhar força?

> Ou, pelo contrário, o grupo não se dividirá em negociações, convicto de que, se o fizer, o Executivo se fortalecerá perante o Legislativo na gestão do orçamento?

Dobradinha entre BC e Fazenda

Como o Destaques antecipou, o BC fez dobradinha com a Fazenda, ampliando a espécie de “lua de mel” entre Roberto Campos Neto e Haddad. Não apenas na sinalização sobre as futuras quedas de juros quanto, sobretudo, na previsão de crescimento, muito mais alinhada ao que o ministro tem indicado do que às expectativas do mercado. O apoio tem peso, em um momento no qual:

> Hadda joga (educadamente, mas nem tanto) a responsabilidade pelo cumprimento da meta de déficit zero no Congresso;

> A posição do presidente do BC (e seu eco nos agentes econômico) cumprirá um papel de pressão no que tange os próximos embates no Congresso (e via mídia). Inclusive em torno do já citado Perse.

Ainda nesse sentido, também vale atenção para a divulgação, amanhã, das Estatísticas Fiscais (BC) de dezembro.

Indicadores
Em paralelo, saem amanhã a Pesquisa Mensal do Comércio de dezembro (IBGE), bem como o Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR) e o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), ambos da FGV, referentes a janeiro.

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