Relação entre o governo Bolsonaro e a mídia vira caso de Justiça

  • 26/11/2019
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A conflituosa relação entre o governo Bolsonaro e a mídia vai subir de temperatura. A Advocacia Geral da União (AGU) está entrando com uma ação contra a revista Carta Capital e o jornalista Nirlando Beirão, pelo crime de injúria previsto no artigo 140 do Código Penal. O estopim do contencioso é a matéria intitulada “Mulheres que envergonham as mulheres”, veiculada pela revista na edição com data de capa de 20 de novembro.

Entre outros trechos que motivaram a decisão da AGU, a revista cita que Damares “acredita até em mamadeira de piroca”; a ministra Cármen Lúcia é a “bruxa e que deixa um rastro de enxofre por onde passa” e a deputada Joice Hasselmann, “uma espécie de Augusto Nunes de calças”. O processo será em nome da ministra da Família, Damares Alves, com a possibilidade de que outras servidoras federais entrem na causa. Há informações de que a máquina digital do governo Bolsonaro aproveitará o episódio para bombardear as redes sociais e insuflar o efetivo feminino do funcionalismo público. Caso ocorra, certamente será menos pela causa e mais pela oportunidade de atacar a mídia. Consultada pelo RR, a AGU confirmou o processo contra a Carta Capital. Segundo o órgão, o advogado-geral André Mendonça “determinou urgência no preparo da ação”, por considerar a reportagem “uma agressão absurda contra todas as mulheres”.

Ainda não está decidido se o processo vai ser movido em Brasília ou em São Paulo, sede da revista. A reportagem, que começou a circular no mesmo dia do lançamento nacional da campanha “Dezesseis dias pelo fim da violência contra as mulheres”, despertou reações de repúdio de diferentes entidades, a exemplo da OAB e da Associação dos Magistrados. No próprio dia 20, o Ministério da Família se manifestou publicamente rechaçando o conteúdo da matéria, “que demonstra desrespeito às mulheres e promove o discurso do ódio, com o uso de expressões depreciativas e até mesmo com apelo sexual”. Ainda na semana passada, diante da repercussão, a Carta Capital retirou a matéria do seu site. Procurada, a publicação não retornou até o fechamento desta edição. Sem entrar no mérito da questão, um dado curioso do imbróglio é um governo com notório viés misógino se aproveitar da causa feminina para fazer política e pressionar a imprensa. Trata-se de um assunto que deveria ficar circunscrito à Justiça e não ser instrumentalizado pelo Palácio do Planalto.

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