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Economia
Há um princípio de histeria entre as empresas que carregam elevados passivos ou programaram altos investimentos. O desespero reflete o medo de que a combinação da Nova Lei de Falências com debacles como as da Light ou casos tenebrosos como o das Lojas Americanas (uma prática criminosa que não entrou na Lei do Colarinho Branco, sabe-se lá por que) leve a economia a um estado de recessão.
O recorde de recuperações extrajudiciais, conforme publicado ontem pelo Valor Econômico, pode acabar criando um efeito cascata. Credores ficam mais seletivos, fornecedores temem entrar pelo cano e investimentos são suspensos. Um não paga o outro. O RR levantou, por meio de ferramenta de inteligência artificial, o número de vezes que os termos “recuperação judicial” e “recuperação extrajudicial” foram mencionados neste ano em comparação a 2023 – sendo que o atual calendário somente está nos meados do oitavo mês.
Pois bem, arredondando, o aumento foi de 2.373%. É bem verdade que a Americanas representa quase metade disso. Mas, mesmo assim, o percentual é superlativo. Com a prenunciada possibilidade de elevação da taxa de juros, com o viés de alta já aventado pelo Banco Central, as bancas de advocacia da área de falências estão esfregando as mãos.
Para dar um toque de humor negro, vale uma historieta. Nos idos de 1964, a dupla Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões produziu um enorme arrocho monetário para o ajuste da economia do país. Os empresários já não sabiam mais o que fazer: juros altos, crédito escasso, controle da base monetária, o inferno.
Na ocasião, um dos maiores potentados do empresariado nacional, o empreiteiro Sebastião Camargo, dono da Camargo Corrêa, foi ao professor Bulhões, conforme o então ministro da Fazenda era denominado, e pediu pelo amor de Deus que o governo arrefecesse a duríssima política econômica. Afirmou que todos os empresários iriam se jogar pela janela se o ministro não mudasse de postura. Bulhões, o “santo irredutível” – conforme os dizeres de Roberto Campos – olhou Camargo com a placidez de sempre e mostrou ao empresário: “A janela está ali mesmo”.
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