Publicidade da JBS não apaga seu passivo ambiental

  • 27/04/2021
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O compromisso público da JBS de investir US$ 1 bilhão até 2030 para reduzir as emissões de carbono é, por si só, uma notícia positiva. No entanto, é preciso avaliar se a cifra é uma fração pequena para compensar o passivo da empresa no quesito sustentabilidade. A JBS é uma corporação condenada pelo seu passado – também nessa área. Que o diga a britânica Global Witness, uma das mais respeitadas entidades do terceiro setor em todo o mundo. Em dezembro, a ONG divulgou um detalhado relatório acusando a empresa de ter comprado gado de 327 fazendas do Pará nas quais ocorreu desmatamento ilegal. De acordo com o levantamento, somente na região de São Félix do Xingu a JBS fez negócio com 109 propriedades alvo de desmate criminoso entre 2017 e 2019.

A JBS contesta o estudo da ONG. Mas a Global Witness não está sozinha. Em outubro do ano passado, outra entidade mundial, a Mighty Earth, desacreditou os planos da empresa dos irmãos Batista de zerar sua contribuição para o desmatamento da Amazônia, classificando-os como mais uma promessa “de uma longa linha de compromissos públicos sem continuidade”. Segundo a Mighty Earth, há mais de dez anos a JBS anuncia que deixará de comprar gado de fazendas desmatadas ilegalmente, sem honrar sua palavra.

O descrédito se alastra também entre investidores. A gestora finlandesa Nordea Asset Management, que administra 200 bilhões de euros, vendeu todas as ações da JBS em carteira. A decisão foi motivada pela suposta ligação da empresa com a destruição ambiental da Amazônia. Ressalte-se ainda o estudo realizado pela Chain Reaction Research (CRR), consórcio de entidades de conservação do meio ambiente. Ao analisar o desmatamento na cadeia de fornecimento da JBS, a CCR identificou uma expressiva exposição a riscos associados à destruição ambiental que podem comprometer 26% do seu lucro e aumentar seu custo de capital em cerca de 30%.

Os cálculos provavelmente não levam em consideração o papel decisivo da JBS na destruição de pequenos abatedouros, inclusive fazendo campanha para que houvesse intervenção sanitária nessas empresas. O resultado foi uma carnificina de milhares de postos de trabalho. O passado, portanto, justifica o estardalhaço com que a companhia anunciou seu plano de reduzir as emissões de carbono, com anúncios pagos na capa das principais publicações impressas do país. Por ora, o tamanho da exposição da JBS na mídia mais indica que a companhia quer surfar na onda da sustentabilidade e fazer com que o seu passado seja esquecido.

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