PT e MDB juntos e misturados de olho em 2022?

  • 30/09/2019
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O enfrentamento do “bolsonarismo” nas urnas, em 2022, pode unir os pedaços de um vaso que o impeachment quebrou: a aliança PT MDB. Esta é a percepção de dirigentes empresariais, banqueiros, juristas, parlamentares, entre outros, consultados pelo Relatório Reservado em sondagem realizada entre os dias 23 e 26 de setembro. A partir de perguntas sobre o cenário político enviadas pelo RR a 161 assinantes, chamou atenção o resultado de uma questão específica: “Na sua avaliação, de zero a dez, qual é a probabilidade de ocorrer cada uma das coligações partidárias abaixo nas eleições presidenciais de 2022?” Parcerias mais lógicas – PT-PSOL-PCdoB, PSL-DEM e PT-PDT – apareceram nas três primeiras posições. Até aí, um museu de grandes novidades. A surpresa ficou por conta da elevada expectativa de reconciliação entre PT e MDB, que governaram o país juntos por 13 anos. De zero a dez, na média os assinantes do RR classificaram em 7,9 a probabilidade de os dois partidos se unirem daqui a três anos.

Três anos? Há fortes indícios de que a voz dos entrevistados já ecoa na política. Movimentos pontuais de parte a parte sugerem que o processo de reconciliação entre petistas e emedebistas é uma realidade. 2022 já começou. Antes mesmo da disputa presidencial de 2022, o reatamento da coalizão PT-MDB teria dois alvos prioritários. No atacado, as eleições municipais do ano que vem, com a formação de alianças, notadamente nas grandes capitais; no varejo, leiase a política do dia a dia, a ampliação do poder de fogo no Congresso. Juntos, os dois partidos somam 90 deputados – o PT mantém a maior bancada da Casa, com 56 representantes, seguido do PSL, com 51.

É bem verdade que o MDB está longe de ser um monólito: muitos “partidos” e interesses pulverizados coabitam sob o seu teto. Mas o núcleo duro da sigla passaria a ter um razoável grau de alinhamento com o PT, de forma a reduzir a margem de manobra de Bolsonaro no Congresso, que já não é muita, e impor dificuldades à aprovação de pautas de interesse do Palácio do Planalto. Ainda que não necessariamente dentro da aliança, partidos da esquerda que costumam votar contra o governo, como PDT e PSOL, seriam importantes satélites do PT e do MDB na Câmara e no Senado. Desde já, podar a força do governo no Congresso é uma forma de fragilizar o capital político e eleitoral de Bolsonaro para 2022.

Lula, como se sabe, tem canal direto com a cúpula do MDB. É também o grande interessado em reviver a dobradinha com o partido e, com isso, abrir uma janela para um possível retorno do PT à ribalta, se não com ele, com outro presidenciável. Além de Lula, Jaques Wagner é outro importante embaixador dos petistas junto a lideranças emedebistas, a começar por Michel Temer, que já não faz mais segredo sobre a articulação. A sinalização mais aguda de que a costura está em curso veio justamente de Temer, em sua recente entrevista ao programa Roda Viva.

O ex-presidente citou por duas vezes a palavra “golpe” ao se referir ao impeachment de Dilma Rousseff. Fez menção a Lula e ao PT sempre em tom conciliador, sobretudo ao revisitar os bastidores do período que antecedeu o afastamento de Dilma Rousseff. O affair está no ar. Para muitos, a possibilidade de religação do PT e do MDB depois de tudo que aconteceu pode soar como uma hipótese inverossímil. No entanto, o que é a política se não a arte do impossível. Ver novamente Lula, Dilma, Temer, Renan, Eunício juntos e – quem sabe? – com Ciro Gomes no mesmo palanque é muito menos estranho do que assistir a Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart reunidos nos anos 60. Ou a Luiz Carlos Prestes fazendo um discurso a favor de Getulio Vargas, no estádio de São Januário, após o presidente ter entregado sua mulher, Olga Benário, grávida de sete meses, para Hitler.

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