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Das duas uma: ou a Ame nunca foi essa joia da coroa que a Americanas sempre alardeou ou há algo muito mal contado nessa história. A decisão da companhia de simplesmente encerrar uma carteira digital com mais de 32 milhões de usuários cadastros, sendo 12 milhões ativos, causou estranheza no varejo. No setor, já se dava como certo a venda de toda a operação da Ame.
Segundo o RR apurou, o Mercado Pago, braço financeiro do Mercado Livre, demonstrou interesse na aquisição. A Americanas foi sondada também por uma grande plataforma de e-commerce chinesa. As conversas, no entanto, não alcançaram etapas mais avançadas e fulcrais. De acordo com a mesma fonte, nenhum dos dois pretendentes chegou a mergulhar nos números da Ame. Ou seja: não tiveram uma visão intestina do negócio. Não só eles.
No mercado, notadamente entre aqueles que conhecem a fundo as demonstrações financeiras da empresa, é voz corrente que a Americanas jamais deu o devido disclosure aos números e à performance da sua fintech.
O head de um grande asset, fonte do RR, cita, como exemplo dessa penumbra, o mais recente balanço da companhia, referente ao segundo trimestre deste ano.
Na rubrica “Outros assuntos”, consta que “Os trabalhos de auditoria da controlada indireta AME Digital Brasil Instituição de Pagamento Ltda. (“AME Digital”) ainda não haviam sido concluídos em sua totalidade, de forma que não nos foi possível reunir evidências de auditoria apropriadas e suficientes, em relação a potenciais impactos que poderiam ser gerados sobre as demonstrações contábeis, individuais e consolidadas, do exercício findo em 31 de dezembro de 2022.
Com a conclusão desses trabalhos, as distorções significativas foram reconhecidas em 2022.” Que “distorções significativas” são essas? O balanço do segundo trimestre não explica. Talvez não passem de filigranas contábeis. Mas é a velha história da mulher de Cesar parafraseada sob medida para a Americanas. Tratando-se da protagonista do maior escândalo contábil da história recente do Brasil, não basta ser honesta; tem de parecer honesta.
O RR encaminhou uma série de perguntas à Americanas, entre outros pontos, abordando as distorções citadas em balanço em relação à Ame Digital. A empresa, no entanto, não respondeu os questionamentos e limitou-se a reencaminhar o press release enviado à imprensa quando do anúncio da incorporação da Ame.
Em 2021, a Ame Digital chegou a ser avaliada em aproximadamente R$ 10 bilhões. Naquele período, no intervalo de apenas cinco meses, a empresa enfileirou a aquisição de três fintechs – BIT Capital, Parati e Nexoos. Pouco depois, o braço financeiro da Americanas passou a empilhar números preocupantes. Segundo informações publicadas pela Bloomberg, no último dia 2, no fim de 2022 a operação acumulava prejuízo de R$ 1 bilhão e um passivo de R$ 2,5 bilhões. No entanto, para além das cifras negativas, o que tem alimentado as mais diversas ilações no mercado é a forma como a rede varejista de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles deu cabo do negócio.
A base de clientes e parte da operação serão incorporadas pela própria Americanas. Mas não será uma incorporação elas por elas. O que está sendo carregado para dentro da Americanas é uma miniatura da Ame. A plataforma deixará de oferecer serviços de conta-pagamento, de credenciadora e de participante indireta do PIX. O CNPJ e a licença de instituição de pagamento (IP) serão vendidos a quem interessar possa.
No ano passado, a própria Americanas confirmou publicamente as conversas com potenciais interessados na compra da Ame Digital. Por que a empresa não foi negociada? Como uma fintech que até pouco tempo tinha um valuation estimado de R$ 10 bilhões é simplesmente desmontada, não como uma joia da coroa, mas como uma bijuteria da 25 de março? São algumas das perguntas para as quais o mercado busca respostas.
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