A informação de que a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) alcançou, na manhã de hoje, as assinaturas necessárias para a tramitação da PEC “6×1” calou fundo entre as entidades patronais. O alerta está ligado. Na prática, é como se os 194 parlamentares signatários do pedido já tivessem antecipado seu voto. Partindo-se dessa premissa, faltariam 163 deputados e senadores para o número de 357 congressistas necessários à aprovação da emenda constitucional.
Ainda é uma ladeira razoável, mas uma parte dela já foi vencida. Para os empregadores e a economia de uma forma geral, as implicações do fim da atual escala 6×1 seriam expressivas. Aos que preferem olhar o copo meio cheio, a redução da jornada poderia levar à contratação de novos trabalhadores para cobrir os dias adicionais de folga e, consequentemente, ao aumento da demanda agregada, criando um círculo virtuoso.
Mais demanda agregada, mais contratações e investimentos. No entanto, é justamente a metade vazia do copo que parece borbulhar. O repasse da perda de produtividade e/ou dos custos mais altos de produção ao preço final penalizaria primeiramente os mais pobres. E também o consumo.
Há o risco também de que a redução das horas trabalhadas não venha a ser resolvida com contratações compensatórias de pessoal, mas, sim por meio de adequação das empresas, com restrição da oferta e corte dos custos de produção. Alguém pensou em redução da mão de obra? Seria a consumação de um círculo vicioso, com sua força centrífuga a expulsar pessoas do mercado de trabalho. Sem entrar no mérito da proposta, a redução da jornada, por ora, é um tiro no escuro.
A escala de benefícios e de malefícios potenciais varia de economia para economia. De país para país. Em tempo: discussões econômicas à parte, no perímetro da política a proposta da deputada Erika Hilton surge eivada de serventias. A parlamentar criou uma agenda para o governo do PT e a esquerda como um todo, desprovida de ideias que dialoguem com o eleitor e tratem da vida como ela é.
Neste momento, pode até se dizer que Erika pautou a República, colocando sobre a mesa um assunto capaz de rivalizar com a celeuma em torno do corte de gastos públicos. Mas a parlamentar enxerga ainda mais além. Segundo o RR apurou, tem conversado dentro do PSOL e mesmo com lideranças do PT sobre a necessidade de criação de um grande sindicato da nova economia, uma entidade que abrangesse trabalhadores autônomos, como motoristas de aplicativos (mais de 1,5 milhão de pessoas a números de 2022) e entregadores, pequenos empreendedores (palavra que a esquerda insiste em demonizar), além de funcionários do setor de serviços, o maior empregador do Brasil. Seria uma espécie de CGT da área de serviços, que soma mais de 14 milhões de trabalhadores e responde por aproximadamente 60% do PIB. No museu de grandes novidades do chamado campo progressista da política, Érika Hilton é, no mínimo, alguém para se prestar atenção.