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Difícil saber qual a versão de Fernando Haddad saiu mais maculada do anúncio do pacote fiscal: se o ministro da Fazenda ou o eventual nome do PT para disputar a sucessão de Lula, em 2026. Ao ser designado para apresentar as medidas em cadeia de rádio e televisão, Haddad tinha a missão de sensibilizar dois senhores: o mercado e a população. No primeiro caso, o ministro falhou grosseiramente; no segundo, o potencial candidato à Presidência da República errou feio. Para o PT, esta última derrota é a que mais dói.
No partido, o entendimento é que, ao menos por ora, o palanque montado para Haddad desmoronou. Nas longas e tensas discussões que antecederam o anúncio dos cortes de gastos, a proposta de isenção do IR para aqueles que recebem até R$ 5 mil foi pensada muito mais como um contraponto político do que econômico. No fundo, Lula precisa de um nome no banco de reservas para disputar a eleição caso ele não seja candidato. Por essa lógica, a apresentação do pacote serviria quase como um pré-lançamento da pré-candidatura de Haddad, o tal Plano B. No entanto, o tiro saiu pela culatra.
Nem o governo nem o próprio ministro conseguiram capitalizar a iniciativa. Mais uma vez, a comunicação, um problema sistêmico da gestão Lula, fracassou. O fato é que Fernando Haddad não conseguiu se comunicar nem com a Faria Lima nem com o Tatuapé – lócus simbólico de uma classe média paulistana que deu um terço dos seus votos a Pablo Marçal no primeiro turno das eleições municipais. Diante desse diagnóstico, houve no Palácio do Planalto quem sugerisse uma espécie de pacote 2, leia-se o anúncio de novas medidas que permitissem ao governo e a Haddad recuperar ao menos parte do capital político evaporado na semana passada.
A ideia, no entanto, foi congelada. Assim de chofre, seria uma confissão de erro, com o risco de a emenda sair pior do que o soneto sem métrica e sem rimas. No entanto, ainda que não imediatamente, o PT cobra um Haddad 2, leia-se uma segunda fala à nação capaz de melhorar a percepção da opinião pública tanto em relação ao governo de hoje quanto ao eventual candidato de amanhã. Uma das propostas é que o ministro volte a público, no médio prazo, para prestar contas à população dos benefícios gerados pelos diversos programas sociais da gestão Lula – Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Pronatec, Prouni, Fies etc.
Ou seja: amarrar uma série de números e estatísticas que estão dispersas e não são devidamente percebidas pelo eleitorado.
Há uma boa dose de ansiedade no PT, hoje envolto em dois dilemas eleitorais: Lula vai ou não concorrer à reeleição? Se não concorrer, quem será o “ungido”, o seu candidato? Nesta segunda hipótese, os olhares se voltam automaticamente na direção de Fernando Haddad, que já disputou uma eleição à Presidência quando Lula estava na cadeia, em 2018. Em tese, cada tropeço de Haddad é, desde já, um possível tropicão do partido nas eleições de 2026. Enquanto isso, a direita tem seus pré-candidatos.
Ronaldo Caiado colocou seu nome na corrida presidencial. Tarcísio Freitas é o mais provável candidato do “bolsonarismo” – nos últimos dias, voltaram a surgir rumores sobre uma chapa puro-sangue, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice. E Lula, Haddad e o PT? Conseguem pegar uma bola em cima da linha, sem goleiro, como era o caso da isenção do Imposto de Renda, e chutá-la para trás, contra o próprio gol.∴
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