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A disputa entre os herdeiros de Joseph Safra reserva ainda mais fel e fúria para os próximos capítulos. O RR apurou que Alberto Safra autorizou seus advogados a iniciar os procedimentos para a transformação da ASA Investments, sua gestora de recursos, em banco. De acordo com a mesma fonte, com o upgrade da ASA, Alberto passaria a ter a sua própria casa bancária, um lócus que lhe permitiria iniciar um segundo movimento: cooptar para a nova instituição uma parcela dos clientes do Safra. A genealogia bancária do clã guarda um episódio similar. No início dos anos 2000, Joseph, pai de David e Alberto, e seu irmão Moise travaram uma briga igualmente eivada de rancor e mágoa pelo comando do Banco Safra. Joseph abriu uma nova instituição financeira, o J. Safra, e carregou consigo uma parcela da carteira de clientes do Safra. O êxodo surtiu o efeito desejado, forçando o irmão a um “acordo”. Em 2006, enfim, “seu José”, como gostava de ser chamado pelos próprios funcionários, comprou a parte de Moise e assumiu sozinho o controle do Safra.
Alberto Safra tem feito seguidos movimentos para aumentar a musculatura da ASA Investments, que administra cerca de R$ 4,3 bilhões em ativos, segundo o ranking da Ambima. Há cerca de duas semanas, comprou a Tower Three, gestora especializada em renda variável, com aproximadamente R$ 90 milhões em ativos. No ano passado, incorporou a CORE Real Estate, como o nome sugere focada em fundos imobiliários. A metamorfose para virar um banco seria o passo mais agudo dessa escalada, passo este que ganharia uma dimensão maior em razão do timing. Alberto e David Safra, como se sabe, estão no meio de um ruidoso litígio. Deserdado pelo pai, Alberto entrou na Justiça contra a própria mãe, Vicky Safra, e David, assim como seus outros dois irmãos, Jacob e Esther. Jacob responde pelo banco suíço J. Safra Sarasin e pelo Safra National Bank de Nova York. David é o condutor de todos os negócios da família no Brasil, acirrando ressentimentos nutridos desde antes da morte de Joseph. Em 2019, em outro momento de fortes tensões, Alberto renunciou à sua posição no Conselho do Safra. Foi nesse momento que fundou a ASA Investments. Na semana passada, o litígio entre Alberto e David teve um novo capítulo: o Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou os conselheiros do Banco Safra indicados por Alberto, André Franco de Moraes e Ricardo Tepedino, a terem acesso a informações financeiras detalhadas do banco. Moraes e Tepedino alegam que só ficaram sabendo da exposição do Safra à Americanas pela imprensa. Segundo os conselheiros, o assunto teria sido levado ao board apenas no dia 18 de janeiro, uma semana após a fraude contábil da rede varejista vir à nota. Os representantes de Alberto no Conselho afirmam ainda que o Safra teria ainda elevada exposição a outras nove empresas.
Marx dizia que a história se repete, na primeira vez, como tragédia e, na segunda, como farsa. Neste caso, há só tragédia no jogo de repetições dos Safra. A história de um dos mais longevos e míticos clãs de banqueiros – iniciada em meados do Século XIX, com o Safra Frères & Cie, em Alepo, na Síria – é recorrentemente marcada por cismas e diásporas. No Brasil, essa saga teve início nos anos 50, com a chegada de Jacob Safra. A dinastia teve continuidade com seus filhos, Edmond, Joseph e Moise. Edmond se separou dos dois irmãos e, de certa forma, viraram concorrentes. No início dos anos 60, Edmond vendeu sua parte nos negócios no Brasil e se mudou para a Suíça. Abriu o Trade Development Bank e, posteriormente, o Republic National Bank. Ficou com o filé das operações bancárias dos Safra. Edmond vendeu o Republic Bank em 1999. Àquela altura, a relação entre os três irmãos estava deteriorada. Joseph já iniciara o momento de investir sozinho em negócios paralelos. Mais de duas décadas depois, Alberto mostra que não foi de todo deserdado. Joseph deixou-lhe como herança o ensinamento de como atacar um irmão tentando minar os seus negócios.
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