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Não se sabe quantos Otelos e Desdemonas desfilam na versão kitsch e palaciana da peça sobre o mouro de Veneza. Mas inexistem dúvidas de que só há um vilão, pusilânime e fofoqueiro, na dramaturgia do faroeste brasiliense. Até as cigarras, com seu canto estridente, sibilam que Aloizio Mercadante é o Iago do governo Dilma Rousseff. O “Bigode” encena com requintes de perfídia essa comédia de farsas que se desenrola no Gabinete Civil da Presidência da República. Como bom Iago que é, Mercadante não tem inimigos orgânicos. São seus adversários todos que cruzem a linha que demarca o poder. Joaquim Levy é um deles. Desde que ascendeu ao posto de ministro da Fazenda, Levy tem levado rasteiras seguidas do Iago dessa trama vulgar. Mercadante acicatou Nelson Barbosa contra Levy, o desmentiu em off na imprensa várias vezes e foi responsável por uma das ações mais ofídicas na curta saga “levyniana”: Iago, aliás, Mercadante desmentiu que o governo lançaria mão da CPMF – a mesma que será relançada agora – deixando o ministro da Fazenda defendendo- a sem saber o que tinha sido dito em Brasília. Em tempo: Mercadante somente se expôs em favor de Levy no momento de uma crise quase terminal. Instado pela presidente, acompanhou o ministro da Fazenda em uma entrevista coletiva, emprestando o apoio do governo. O Iago do Planalto tem se esmerado no seu repertório de traições. O episódio da tributação do “Sistema S” supera tudo que o bardo de Stratford-upon- Avon nos legou. A ideia foi de Mercadante, que garantiu ter capacidade de convencimento do empresariado. Ato contínuo, ligou para seu amigo Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp, comunicando a decisão em primeira mão. O assunto foi logo levado a Skaf. Soou como a mais profunda traição. Mercadante, então, tirou o corpo fora e repassou a bola para a Fazenda. Pronto, o autor do crime passou a ser Levy. Mais recentemente, Mercadante foi informado do documento de crítica à política econômica produzido pela Fundação Perseu Abramo. O desfecho da trama nos recomenda a acreditar que ele calado ouviu, calado ficou. Ninguém mais do que Mercadante estaria autorizado a contestar um documento provindo da sua origem acadêmica, a Unicamp. Pois acredite que nosso Iago mais divulgou o posicionamento do que o contestou. Talvez Joaquim Levy seja o Cássio dessa história. Talvez não haja mocinhos. Em qualquer das hipóteses, Mercadante é quem assina o tratado do ciúme e da inveja. Já vai tarde.
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