O ganha e perde do general Braga Netto

  • 28/04/2021
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Sempre tão cuidadoso, o general Braga Netto errou na dose. Seu discurso durante a posse do novo comandante do Exército, general Paulo Sergio Nogueira, fez recrudescer no Alto-Comando da corporação o incômodo com a instrumentalização política do estamento militar. A declaração de que “é preciso respeitar o rito democrático e o projeto escolhido pela maioria dos brasileiros para conduzir os destinos do país” ressoou no Exército pela mensagem contida nas entrelinhas. Embora não tenha citado nominalmente as Forças Armadas, de forma subliminar Braga Netto empurrou novamente a instituição para o papel de fiadora do governo Bolsonaro, na medida em que exigiu respeito ao mandato do atual presidente. Não era o que estava sendo esperado pelo Alto-Comando do Exército. Segundo o relato de um general da ativa ao RR, “foi uma inabilidade daquele que era considerado o mais hábil”.

A participação do general Braga Netto na turbulenta mudança da cadeia de comando da área de Defesa ainda está “sub judice”. O general ganhou ou perdeu com o episódio? Em Brasília, ecoam duas versões. Do lado do Palácio do Planalto, prevalece o discurso da pacificação. O que se diz é que Braga Netto, com seu perfil aglutinador, cumpriu sua missão, transformando uma excepcionalidade histórica de razoável gravidade – a saída conjunta dos comandantes das três Armas – em algo quase banal. Mais do que isso: Braga Netto teria matado a ideia do contragolpe. Por contragolpe, entenda-se a leitura de que a renúncia coletiva dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica teria sido uma ação combinada com o objetivo de rechaçar o uso político das Forças Armadas e desmontar o blefe do golpe, alimentado pelo próprio Bolsonaro.

No entanto, a versão do mesmo general da ativa consultado pelo RR é que a atuação de Braga Netto neste enredo teria causado fissuras interna corporis. Há relatos de que a substituição do general Fernando Azevedo e Silva e dos comandantes das três Forças abalou a relação entre o novo ministro da Defesa e alguns de seus antigos colegas no Alto-Comando do Exército, a começar pelo próprio general Edson Pujol. O histórico de proximidade entre ambos amplifica o significado de uma possível rusga: entre outros momentos compartilhados nas Forças Armadas. Pujol foi o principal apoiador da nomeação de Braga Netto para a chefia do Estado Maior do Exército, cargo que ocupou entre abril de 2019 e fevereiro de 2020.

Pela forma como conduziu a saída dos comandantes militares e do general Fernando Azevedo e Silva do cargo, Braga Netto teria sido visto por muitos de seus pares como uma espécie de interventor do Palácio do Planalto no Ministério da Defesa e, por extensão, nas Forças Armadas. Segundo a mesma fonte, o desgaste teria chegado ao ponto do Exército resistir à possível indicação do general Marco Antonio Freire Gomes, apontado como o preferido de Bolsonaro para o lugar do general Pujol. Teriam ocorrido articulações para que o general Hamilton Mourão acumulasse a vice-presidência com o Ministério da Defesa. Com os dois chapéus, Mourão se tornaria uma espécie de general de “seis estrelas”, sendo o mais capacitado para mediar uma crise envolvendo as Forças Armadas e o Palácio do Planalto. Com um detalhe: Mourão não é demissível da vice-presidência. Um eventual afastamento do Ministério seria muito mais constrangedor.

Como resposta, a escolha pelo general Paulo Sergio Nogueira teria partido do Alto-Comando do Exército, uma indicação, ressalte-se, simbólica. Dois dias antes, a entrevista do general Paulo Sergio dizendo que o Exército já se prepara para uma terceira onda da Covid-19 havia desagradado ao Palácio do Planalto. Há informações ainda de que as três Forças teriam imposto o calendário da posse dos novos comandantes. O general Pujol, por exemplo, só deixou o cargo em 20 de abril, 21 dias após o anúncio da sua saída. Seria a data para o epílogo desta traumática situação. Mas Braga Netto, com seu discurso, colocou reticências onde deveria haver um ponto final.

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