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Com eleições presidenciais, o Congresso Nacional travado e o empresariado inseguro, não há muita coisa que os ministros substitutos da Fazenda, Eduardo Guardia, e do Planejamento, Esteves Colnago, possam fazer neste ano. Mas o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, tem a força. Não fosse a conhecida teimosia, já no mês de maio, na próxima reunião do Copom, Ilan poderia fazer História. Se trouxer a taxa Selic dos atuais 6,50% para 6%, estará injetando um pouco mais de gás em uma economia que insiste em andar de lado. Ilan tem dito ao mercado que o ciclo de flexibilização monetária deverá ser interrompido após uma redução da taxa em 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic a 6,25%.
A partir daí, o BC se recolheria em prudente expectativa, observando o resultado da política monetária. Em outras palavras, Ilan congelaria a Selic em 2018. Os juros do resto do ano seriam os da próxima reunião do Copom. O presidente do BC teme que uma redução um pouco mais ousada da taxa carregue o risco de um aumento de juros mais à frente. Ilan Goldfajn mira nos juros americanos, na guerra, no câmbio e na ascensão de um presidente populista.
No caso de uma descolada do real, já anunciou que tem farta munição de swaps cambiais para desovar no mercado. Quanto à possibilidade do futuro mandatário ter uma visão divergente da economia, não há política monetária que se interponha à vontade soberana do povo. E durma-se com uma Selic ainda elevada, ignorando a queda da inflação abaixo do piso da meta (3,5%); a vampirização da economia resultante da capacidade ociosa; a resiliência do desemprego em 12,4%; o recuo das previsões do crescimento do PIB para o intervalo entre 2,6% e 2,4% (o governo cravava 3%); e a oportunidade histórica de pressionar para baixo os juros bancários, com um argumento da maior solidez.
O fato, repita-se, é que só o BC tem a força nesse momento. E sendo verdade, está à frente o risco de mais desaquecimento da economia e desemprego. Com um peteleco, puxando mais 0,25 ponto percentual e deixando a Selic em históricos 6%, Ilan reverteria essa entortada macroeconômica. Ou, no mínimo, colaboraria efetivamente para uma melhoria no ambiente econômico. Como alterações nos juros têm uma inércia de cinco a seis meses para locomover a economia, a hora seria agora. Com a vantagem adicional de ainda contribuir para uma desaceleração na relação dívida bruta/PIB.
Quem sabe teríamos um fim de ano um pouco melhor? A birra foi má conselheira do presidente do BC em seu ciclo anterior de manutenção dos juros em um nível astronômico, quando o IPCA já indicava uma descida ladeira abaixo. Ilan Goldfajn teve de sair baixando os juros em desabalada carreira para reduzir o prejuízo na economia. Repetir o erro com o sinal trocado levaria Ilan à galeria das autoridades monetárias que mais desprezaram os agentes produtores e o tecido social do país. Tudo por pura teimosia.
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