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O “imposto da proteína” está caindo de maduro. O RR teve acesso a um estudo com base em dados oficiais que reforça a ideia de criação de um gravame sobre as exportações do agronegócio, proposta que vai e vem de tempos em tempos. As condições nunca foram tão propícias para o governo instituir uma nova fonte de arrecadação sem arranhar a competitividade da indústria agrícola nacional. Esses recursos poderiam ser destinados para a área social, para um fundo compensatório dos preços dos combustíveis ou até mesmo para reduzir a insegurança do próprio setor, com o financiamento de projetos no âmbito do Plano Nacional de Fertilizantes. Todos os principais segmentos de produção do agronegócio atravessam um ciclo de fartura, que deve se sustentar ainda por longo tempo. A soja é um bom exemplo.
Os estoques globais estão nos níveis mais baixos desde a safra de 2015/16, em razão, sobretudo, dos efeitos do fenômeno La Niña na América do Sul. Com isso, o preço da saca já está triscando nos R$ 220, 175% acima do valor negociado em abril de 2019. A cotação na Bolsa de Chicago caminha para bater no maior patamar dos últimos 20 anos, rompendo a barreira dos US$ 17/bushel. O aumento dos preços tem compensado, com sobras, a quebra da produção brasileira de soja, a menor desde a safra 2018/19, e a consequente previsão de queda dos embarques: a estimativa para este ano é de 78 milhões de toneladas, contra 86,1 milhões em 2021. Algo similar ocorre em relação ao milho: os estoques mundiais os são menores desde 2015/16, ao passo que o preço da saca praticamente triplicou nos últimos três anos.
O agribusiness tem gerado riquezas de forma contínua e exponencial, ganhos estes cada vez mais concentrados nas mãos de um seleto baronato, boa parte composta por grandes tradings internacionais. A renda do produtor rural cresceu 27% nos últimos cinco anos, impulsionada pelos seguidos recordes de exportação. No ano passado, a balança do agronegócio superou o patamar dos US$ 100 bilhões em vendas para o exterior – US$ 104,8 bilhões, mais precisamente -, com um superávit de US$ 92 bilhões. Aos seguidos saltos das exportações e ao câmbio favorável – não obstante a recente valorização do real -, some-se ainda o aumento da produtividade e da rentabilidade do agronegócio.
O setor vem registrando margens bastante altas. Segundo o estudo, o saldo de toda a cadeia agroindustrial brasileira foi de US$ 64,9 bilhões em 2021, mesmo com o peso das importações de fertilizantes e defensivos agrícolas, que somara US$ 26,7 bilhões. Os produtores de soja, por exemplo, têm operado na safra 2021/22 com uma margem de R$ 4,4 mil por hectare. Essa rentabilidade até tende a cair no próximo ciclo, 2022/23, recuando para R$ 3,16 mil. Ainda assim, trata-se de um valor muito superior à rentabilidade média registrada entre 2015/16 e 2020/21 – R$ 455 por hectare.
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