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Não há diáspora societária capaz de abalar os planos e resultados do Safra

  • 2/01/2025
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Que outro banco passaria incólume a uma disputa “fratricida” entre seus acionistas? Que outro banco atravessaria intacto uma segunda disputa “fratricida” entre seus acionistas? Que outro banco permaneceria impávido diante de uma terceira disputa “fraticida” entre seus acionistas? Assim como ocorreu no litígio entre Edmond, o irmão mais velho e mais bem sucedido, e Joseph e Moise, posteriormente entre os dois últimos e, mais recentemente, na rinha entre a segunda geração, com a contenda pública entre Alberto Safra e seus irmãos David e Jacob e a mãe, Vicky, o Safra saiu sem qualquer ranhura do seu próprio “gabinete do ódio”.

Sob o comando de David, o banco empilha resultados positivos e prepara os próximos movimentos. Segundo informações filtradas pelo RR, o Safra está rastreando o mercado em busca de novas aquisições na área de gestão de recursos. Em fevereiro deste ano, o banco comprou a Guide Investimentos, adicionando cerca de R$ 20 bilhões a sua carteira. Existem ativos interessantes na vitrine.

Um exemplo? Desde meados do ano, corre a informação de que a HSI Investimentos busca um comprador. A gestora tem cerca de R$ 13 bilhões em seu portfólio, a maior parte no setor de real estate.

O Safra entra em 2025 também com o desafio de tocar uma espécie nova em seu ecossistema de negócios: a Safra Sociedade de Crédito Direto (SCD), sua recém-criada fintech – a autorização do Banco Central saiu no último mês de outubro. O cardápio de serviços inclui crédito, cartão de crédito e contas de pagamento pré-pagas. O próximo alvo no radar seria a oferta de soluções de pagamento.

Para uma instituição vetusta e empertigada como o Safra – o “banco dos banqueiros” -, esse é um terreno que pede passos cautelosos. Até porque David Safra já carrega uma experiência malsucedida: o AgZero. O banco digital do Safra foi criado em 2020 no embalo da crescente digitalização dos serviços financeiros.

Três anos depois, sem grandes resultados, acabou extinto, sendo substituído pelo Safra One, uma conta corrente digital do próprio Safra. Uma rara poeira de insucesso na afortunada trajetória bancária do clã.

O Safra está empenhado também em ampliar sua carteira de negócios vinculados a metas de sustentabilidade.

Um dos focos é transição energética. Em agosto, o banco lançou o FIP Copérnico, de R$ 250 milhões, para financiar empreendimentos em geração solar. A própria família Safra estaria investindo na aquisição de terras para a instalação de usinas fotovoltaicas. Os projetos dedicados à temática ESG estão debaixo do guarda-chuva do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do Safra. Levy, por sinal, é vice-presidente e responsável pelo Grupo Consultivo Brasil da Glasgow Finance Alliance for Net Zero, uma coalizão global de bancos comprometidos com a transição para o carbono zero.

Os Safra têm uma história de diásporas em seus negócios. Para ficarmos apenas nas gerações mais recentes, Edmond deixou o Banco Safra com os irmãos Joseph e Moise para cuidar do Republic National Bank of New York. Posteriormente, já nos anos 2000, foi a vez de Joseph, o “Seu José”, e Moise, se separarem, não sem antes uma disputa consanguínea. “Seu José” chegou a abrir outro banco, o J. Safra, para rivalizar e sorver parte da clientela do Safra.

Em nenhum desses momentos, no entanto, houve tanto fel de parte a parte quanto no embate entre os herdeiros de Joseph. Alberto acusou os irmãos e a própria mãe de terem agido deliberadamente para reduzir sua participação nos negócios da família. O armistício veio no último mês de agosto, quando Alberto vendeu sua participação no Banco Safra e na J. Safra Holding para David e Jacob – no fim de 2024 surgiu a notícia de que Esther Safra, igualmente filha de Joseph e Vicky, também está transferindo suas ações na holding para os dois irmãos.

Mesmo no auge da disputa societária entre os herdeiros de Joseph, o Safra jamais teve um abalo em sua performance. Entre 2022 e 2023, quando os filhos e a viúva de “seu José” se enfrentavam nos tribunais, o lucro do banco saltou R$ 2,2 bilhões para R$ 3,3 bilhões, um aumento de 50%. Nos nove primeiros meses de 2024, o ganho registrado chegou a R$ 2,26 bilhões, praticamente o mesmo verificado em igual período em 2023 (R$ 2,75 bilhões). É assim desde que o clã criou sua primeira instituição financeira, em 1840, em Alepo, na Síria. O “banco dos banqueiros” nunca chegou aos primeiros lugares do ranking, mas permanece onde sempre esteve: em uma boa colocação, logo após os líderes da tabela.

#Banco Safra

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