Militares enxergam “Risco Lula” por todos os lados

  • 27/05/2022
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Mesmo quando refletem sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os militares não esquecem de Lula. A preocupação com a eleição do ex-presidente consta, ainda que de forma sutil, de um documento reservado da Escola Superior de Guerra (ESG), produzido em abril e intitulado “A crise Russo-Ucraniana: Percepções Brasileiras”. O candidato do PT não é citado explicitamente. Muito bem feito, ainda que de difícil interpretação para não iniciados, o relatório da ESG fala por eufemismos. Menciona o “risco de envolvimento de potências extrarregionais em eventos domésticos no Brasil, no sentido de gerar internamente apoio a opções político-sociais que sejam favoráveis a essas potências (Rússia e China), comprometendo a estabilidade interna”.

Nas entrelinhas está se referindo a possíveis influências externas no processo eleitoral em prol de Lula. Afinal, que outro candidato ou partido se não o PT estaria mais alinhado a “potências extrarregionais” como Rússia e China? É a velha ameaça comunista que ainda paira sobre o pensamento de parcela das Forças Armadas. As análises da ESG a partir da guerra entre Rússia e Ucrânia revelam uma especial atenção à questão da soberania nacional, notadamente do ponto de vista da Defesa do território. O estudo cita que o “uso da força continua a ser um recurso utilizado para solucionar divergências, materializando a importância de se desenvolver uma cultura estratégica de defesa como forma de dissuadir possíveis agressores”.

Em um cenário mais agudo, o paper classifica como “grande a possibilidade de emprego do Poder Militar Brasileiro no Entorno Estratégico, na medida que as crises que estão ocorrendo em várias áreas supridoras aguçam os interesses de países de outras regiões, podendo ocorrer disputas de poder”. Ressalte-se que os militares costumam se referir ao “Entorno Estratégico” como América do Sul, Atlântico Sul, costa Ocidental da África e a Antártica. Ainda que de forma sinuosa, o documento perpassa questões internas que ganham ainda mais relevância à medida que o calendário eleitoral avança. Usando a guerra na Europa e seus impactos geoeconômicos como pano de fundo, o estudo da ESG revela textualmente preocupações com o ambiente psicossocial nos próximos meses. “Os efeitos do desabastecimento e do aumento de preços  (inflação)” são apontados como fatores “com elevado potencial para gerar insatisfação popular e distúrbios”.

Não deixa de ser uma preocupação velada com uma conjuntura psicossocial que potencialmente venha a favorecer Lula. O paper volta ao tema em outro trecho: “A redução da escala da produção mundial dos vários setores, como ocorre no Brasil, aliada ao aumento contínuo nos índices de inflação, indicam a possibilidade de ocorrência de estagflação. Neste caso, é provável a ocorrência de crises internas ligadas à insatisfação popular.” Em outra questão que também resvala na ambiência psicossocial, o relatório cita a possibilidade de o Brasil receber “levas de refugiados ucranianos”. A ESG chega a traçar um paralelo com Revolução Russa de 1917, responsável por um expressivo fluxo de imigrantes para o território brasileiro. A ESG vislumbra também perspectivas positivas a partir da própria vinda de refugiados, notadamente no que diz respeito à atração de capital huma- no altamente qualificado: “Seria uma janela de oportunidade para o Brasil conceder refúgio a mão de obra especializada ucraniana, como professores e cientistas das mais diversas áreas”.

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