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Milícia desloca outros poderosos players do mercado do crime

  • 11/01/2024
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O mote de Tropa de Elite 2 acertou no alvo: o inimigo agora é outro. Tão ou mais impactante do que o avanço das milícias no Rio de Janeiro, é o tempo razoavelmente curto que esses grupos levaram para se tornar uma das principais, se não a principal, referência de poder do crime organizado na cidade. Uma análise apurada de dados da própria mídia é reveladora da forte ascensão das milícias no Rio. É o que mostra levantamento exclusivo realizado junto a uma base de 212.890 veículos do país, com o apoio de ferramenta de inteligência artificial e algoritmo próprio. Em 2010, as publicações analisadas somaram 486 menções sobre as milícias do Rio. Entre 2011 e 2018, o número de registros subiu ano a ano, mas sem configurar um salto galopante. Em 2018, foram 3.317 citações.

A partir do ano seguinte, os indicadores explodem, e as milícias passam a ter uma superexposição. Já em 2019, o total de referências a grupos milicianos do Rio chegou a 52.546, um aumento de 15 vezes na comparação com o ano anterior. A data desse estirão talvez não possa ser interpretada como uma coincidência. Trata-se do ano da chegada à Presidência da República de Jair Bolsonaro, contra quem há um histórico de suspeições e acusações de proximidade com milicianos. A partir de então, os indicadores bateram na estratosfera. Em 2020, foram 83.834 citações às milícias do Rio. Em 2023, esse número chegou a 135,122 registros, o que significa um incrível aumento de 3.900% em apenas cinco anos. Essa disparada de menções reflete o dramático aumento da participação desse grupo no crime organizado no Rio.

A comparação com outros grupos criminosos também dá a dimensão da expansão das milícias no Rio, mais uma vez a partir da pesquisa na base de 212.890 veículos. Em 2010, essas publicações fizeram 17.280 menções aos principais grupos criminosos do estado. O termo “milícia” ou citações nominais a milicianos apareceram em apenas 2,8% desses registros. Em 2018, esse indicador já era de 16,4%. No entanto, mais uma vez, os números ganham outra proporção a partir de 2019. Nesse ano, as citações à milícia e a seus líderes corresponderam a 43% de todas as referências a facções do Rio. Em 2023, esse índice passou dos 52%. Ou seja: a cada duas citações a todos os agrupamentos criminosos do Rio, uma menciona expressamente a milícia.

O fato é que ao longo dos anos, as milícias foram tomando espaço na mídia de outros grupos criminosos do Rio de Janeiro. Ou seja: uma representação do que acontecia nas ruas e comunidades do estado, notadamente na Região Metropolitana do Rio. Em 2010, a expressão “milícia” não representava sequer 6% da soma de todas as menções às três maiores facções do tráfico na cidade: Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. Em 2023, os registros sobre a milícia representaram mais do que o dobro de todas as citações às três quadrilhas.

 

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