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Milei é o de menos. Uruguai é a maior ameaça à próxima reunião de cúpula do Mercosul

  • 30/11/2023
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Três dias antes da posse de Javier Milei na Argentina, caberá ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle, colocar fogo na 63ª Reunião de Cúpula do Mercosul, marcada para 7 de dezembro, no Rio de Janeiro. Segundo o RR apurou, o Itamaraty tem informações de que Lacalle vai apresentar formalmente uma nova proposta de acordo de livre comércio entre o bloco e a China – a primeira foi levada por ele aos demais países em 2021. No Ministério das Relações Exteriores, a iniciativa é interpretada, desde já, como um jogo de cena.

Brasil e Paraguai são, ao menos neste momento, contrários à aliança comercial entre Mercosul e China. Concentram seus esforços na conclusão do acordo com a União Europeia. Ou seja: Lacalle Pou está deliberadamente enviando uma carta para a qual já sabe a resposta. O presidente do Uruguai estaria, portanto, apenas buscando um pretexto para seguir adiante nas negociações para um tratado bilateral com Pequim, passando ao largo do Mercosul.

Trata-se de um teatro geoeconômico em que cada cena é meticulosamente ensaiada. Na semana passada, Lacalle Pou se reuniu com o presidente e o primeiro-ministro da China, respectivamente, Xi Jinping e Li Qiang. Para todos os efeitos, saiu dos encontros falando da sua intenção de “promover o diálogo com o Mercosul”. Para o Itamaraty e o Palácio do Planalto, a declaração foi ouvida como um blefe. Nesse caso, onde está escrito “Mercosul” leia-se “Uruguai”.

Na própria reunião do dia 7 de dezembro, Lacalle Pou deverá colocar outra carta na mesa, de razoável valor simbólico. Nos canais diplomáticos circula a informação de que o Uruguai vai aproveitar a visibilidade do encontro de cúpula do Mercosul para anunciar sua candidatura a sede do fórum entre a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) e a China, prevista para o primeiro trimestre de 2024. Será mais um recado da sua proximidade com Pequim.

A preservação do Mercosul desponta como o maior desafio do governo Lula na área de política externa neste momento. A passagem da futura chanceler argentina, Diana Mondino, por Brasília no último fim de semana até trouxe a expectativa de um diálogo com o governo Milei menos áspero do que se anunciava. Já não há o mesmo clima em relação a Lacalle Pou. Além da pressão para fechar um tratado bilateral com a China, o Uruguai é uma pedra no sapato para a assinatura da aliança comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

O governo Lula trabalha para acelerar as tratativas e formalizar o acordo até 10 de dezembro, ou seja, antes da posse de Milei na presidência da Argentina. Tarefa intrincada. São 10 dias para aparar arestas nas negociações que perduram há quase duas décadas.

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